De volta dos Mortos

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A senhora Fitz serviu a torta e o chocolate quente, mas após dar aquele telefonema, não consegui comer nada. Bebi um pouco do chocolate quente na tentativa de me aquecer, deixei o dinheiro sobre a mesa e saí ansiosa para me encontrar com o tal policial do cartão.

Ainda não tinha pensado direito sobre como diria a ele que tudo aquilo era apenas um mal entendido, mas talvez pelo fato de assistir tanto Criminal Minds, eu estivesse com medo de que ele achasse que eu estava envolvida em tudo isso.

Já o imaginava traçando meu perfil psicológico.

Acho que de tanto pensar , quando percebi já estava na portaria do meu prédio. Entrei ainda nervosa e peguei o elevador até o oitavo andar, já saí em frente ao meu apartamento.

Peguei a chave na mochila, mas antes de usá-la, fiquei parada na porta, pensando em como reagiriam ao me ver. Pensando no que eu faria ao vê-las.

Antes que me decidisse, ouvi o som do elevador se abrindo e passos vindo na minha direção. Continuei de costas na tentativa de qual deles poderia ser.

- Senhorita Amanda? - ouvi uma voz masculina e áspera logo atrás de mim.

- Sim... - respondi me virando para ele.

- Está um pouco diferente do que imaginei - Continuou ele me observando com cuidado.

- Não dava para voltar com a mesma aparência numa circunstância como essas, não é mesmo? - respondi tentando sorri.

- Claro - disse com um sorriso simpático. - Mas se importa se conversarmos um pouco sobre isso?

Fiquei olhando para ele ainda sem saber o que fazer. Ele insinuou com a cabeça para que eu abrisse a porta. Me virei ainda com as mãos suadas e trêmulas e girei a chave.

Quando abri me deparei com Francielly no sofá pintando as unhas. Ela me olhou franzindo o cenho, como se tentasse me reconhecer.

- Sou eu Fran, a Amanda - disse erguendo uma das sobrancelhas.

- Aaaaamanda? - perguntou ela com os olhos arregalados e a voz falhando no final.

- Eu estou viva Fran, foi tudo um engano terrível - continuei me aproximando dela e retirando a peruca.

- Dio mio! - disse ainda pálida enquanto eu ajeitava o cabelo e retirava as próteses do rosto. - Fabricia, Fabricia... - gritou ainda com medo de mim.

Fabricia e Carol saíram juntas da cozinha, ambas curiosas para saber o motivo da gritaria. Mas quando me viram, também ficaram paralisadas. Era quase como se estivessem vendo um fantasma.

- Você é real? - perguntou Carol, passando por Fabricia e vindo me inspecionar.

- Fizemos um memorial para você no seu quarto - disse Fabricia ainda com medo de mim. - Recebemos milhares de cartas e lembrancinhas para enfeitá-lo. - Deu o primeiro passo na minha direção.

- Disseram que você estava morta - disse Fran ainda com a voz falha.

- Estou bem viva! - disse retirando a mochila das costas. - E preciso conversar com o agente Clark...

Antes que concluísse a frase, elas se uniram e vieram juntas me abraçar. No momento que senti os braços delas em torno de mim, eu as abracei de volta. Era bom saber que elas tinham pelo menos um pouco de carinho por mim.

Aquele momento trouxe a minha mente os dias felizes que tínhamos passado juntas. Quando ainda não havia tanta inveja e disputa, poluindo nossos corações.

- A Brisa não vai acreditar - disse Carol ainda com os olhos arregalados.

- Onde ela está? - perguntei

- Ela viajou por uns dias para uma campanha da Skala - respondeu Francielly.

- E o Josh terminou com ela assim que soubemos que você tinha morrido - disse olhando para a irmã.

- Depois da sua morte não tinha mais clima para eles, isso sem falar no remorso que com certeza eles sentiram - Completou Fabricia.

- Meninas não sei se notaram, mas estou bem viva - respondi enrrugando a testa.

- Sim... Você voltou dos mortos - responderam quase em uníssono enquanto abriam caminho para o agente Clark.

Ele passou por elas e me acompanhou até meu quarto. Ao entrarmos tivemos que abrir espaço por entre cartas e ursinhos de pelúcia.

Após alguns minutos colocando as coisas no lugar. Nos sentamos na minha cama.

- Você é com toda certeza uma pessoa muito querida - disse olhando ao redor.

Sempre tinha pensado que se um dia morresse, passaria despercebida. Imaginava que as pessoas não sentiriam minha falta. Que talvez aparecesse em uma nota no jornal por causa da minha carreira, mas algo que seria tão importante quanto um anúncio de domingo. Muitos falariam a respeito, fariam dois ou três comentários, mas que logo seria substituído pela próxima notícia.

- É... Parece que sim - respondi a pergunta do agente Clark olhando diretamente em seus olhos.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora