Voando para Longe

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Eu conhecia pessoas de todos os tipos, mas era muito triste pensar que eu fazia parte da categoria dos idiotas.

Que tipo de ser humano vomita em alguém e depois de poucos dias diz: ' Eu te amo?'

É claro que ele hesitaria, todo mundo hesitaria. Eu? Talvez não...

Mas estava tão carente de amor, que fácil fácil me apaixonaria até por uma lagarta. Que dirá por um homem como James.

' Burra, burra, burra, mil vezes burra...'
Fiquei repetindo para mim mesma enquanto andava de um lado para o outro no quarto.

Escorei na porta várias vezes, na esperança de ouvir passos vindo na direção do meu quarto. Estava brava, estava com vergonha, mas queria taanto que ele tentasse se explicar. Sei-la, talvez dizer que estava apaixonado por mim, ou simplesmente que esqueceria o que eu disse e que continuariamos de onde tínhamos parado. Talvez fosse irrelevante ouvir isso para alguns, mas para mim poderia ser o suficiente.

Após algumas horas me dei por vencida. É claro que ele não viria... Então ainda de madrugada, após beber todo o estoque de coca cola que tinha na geladeira do quarto, eu resolvi juntar minhas coisas. Não foi difícil, não tinha tirado quase nada da mochila, então não tive muito trabalho, mas a cada pequena coisa que eu guardava a esperança voltava. Sentia que ele ainda iria aparecer. Que iria dizer alguma frase cheia de pausas ou com algum tipo de significado transcendental, mas quando terminei não havia ninguém. Nenhuma palavra tinha sido dita além das minhas, então recolhi o pouco de orgulho que me restava e sai do quarto.

Não poderia mentir dizendo que a esperança tinha ido embora, pois fiquei parada em sua porta esperando que ele assim como eu tivesse passado a noite acordado, escorado naquela porta, esperando que eu aparecesse, mas eu estava enganada. Não havia som algum. Talvez ele estivesse com Suzan, e ambos estivessem rindo de mim.

' A idiota do eu te amo'

Cheguei na recepção e a mesma moça que estava quando chegamos sorriu para mim, com aquele sorriso programado e nada natural, mas que culpa ela tinha? Era seu trabalho.

Paguei tudo e caminhei bem devagar.
A esperança é taaao dolorosa. Caminhei pensando que nos esbarrariamos e que com um beijo ele me impediria de ir. E sim, ele estaria certo, eu ficaria com um beijo. Nessa altura do campeonato eu nem exigiria desculpas. Um beijo seria o suficiente, mais que o suficiente na verdade.

Não houve beijo, nem pedido de desculpas, não houve nada alem do som dos meus passos se afastando. Peguei um taxi e pedi para ser levada ao aeroporto. Não poderia fazer outra viagem de ônibus. E não pelo desconforto, mas pelas lembranças. Não era tão forte.

Comprei as passagens para Londres, e por sorte, tinha um vôo saindo. Corri pela plataforma de embarque com aquele maldito peso no coração. Me sentei próxima a janela e fiquei olhando o avião se afastar do chão, indo cada vez mais alto. Me lembrei das borboletas. Não queria lembrar. Apesar de estar voltando para minha vida com um sentimento ainda pior do que quando parti, eu pelo menos sabia que o mundo não tinha nada a mais para me oferecer. E talvez mamãe estivesse certa:
Sua vida é perfeita.
Afinal, você tem tudo. Dinheiro, beleza, e pessoas que se importam... O que mais você pode querer? _ ela disse.

Que fosse verdadeiro _ respondi para mim mesma.

Eu enxergava minha vida, de um jeito bem diferente. Os amigos nunca eram verdadeiros, o dinheiro não comprava nada que fosse permanente ou que realmente me fizesse feliz. E beleza? Nunca me achava bonita o suficiente. Era uma disputa sem fim e por um padrão que não era real, que não é real.

Meu namorado tinha me traído, minhas amigas eram sempre minhas concorrentes. Era glamouroso, sim.

Mas eu era feliz?
Não , eu não era feliz, mas para onde poderia fugir.

Essa fuga tinha só me machucado. Agora que tinha experimentado dos lábios dele, como poderia esquecer? Como poderia?

O Colecionador de BorboletasWhere stories live. Discover now