Causa e Efeito

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- Imagino que queira descansar após a viagem, mas você pode ser a peça fundamental para a solução desse caso - disse Clark com certa urgência.

- Não vejo como eu posso ser tudo isso, se eu nem estava aqui quando as mortes ocorreram - respondi me esquivando.

- Você já viu as fotos das vítimas? - perguntou tirando um grande envelope de sua pasta. - Olhe para elas - continuou colocando as fotos lado a lado em cima da cama.

Reconheci Olívia sorrindo e então caiu a ficha. Todas eram muito parecidas comigo. Desde a cor do cabelo ao formato do rosto. Era como me ver de diversos ângulos. Em olhares que não eram os meus.

- Nenhuma morte aconteceu enquanto você estava aqui - disse olhando para as fotos também. - Todas aconteceram assim que foi embora.

- O que está tentando me dizer? - perguntei confusa.

- Que provavelmente o assassino é obcecado por você. Enquanto a tinha sobre seus olhos ele se satisfazia, mas sua partida foi o gatilho para ele - respondeu como se tentasse medir as palavras.

- Está dizendo que eu causei isso? - perguntei ainda mais assustada.

- As mortes pararam assim que suspeitamos da sua morte.

- Na... Não! Isso não faz sentido - Senti minha cabeça girar. - Eu não sou do tipo que atrai psicopatas, eu nem tenho alguém próximo ao ponto de sentir tudo isso... Não, não... - repeti enquanto balançava minha cabeça negativamente. - Eu não causei isso.

- Não estamos culpando você! - E tocou minha mão com ternura. - Mas você é a peça fundamental para desvendamos esse caso.

- Não vejo como posso fazer isso - respondi puxando minha mão de volta.

- Precisamos do seu depoimento formal - disse se levantando. - Preciso que me acompanhe até o distrito.

- Por que? Eu já disse tudo a você!

- Precisamos dos detalhes - disse erguendo uma das sobrancelhas.
- Essa nossa conversa foi apenas informal e sem um depoimento registado, não posso fazer nada para ajudá-la.

- Tudo bem! - respondi pegando minha mochila, após respirar fundo. - Preciso apenas ir ao banheiro.

Ele acentiu que sim com a cabeça enquanto passava por ele. Ao entrar no banheiro girei a chave e me sentei na tampa da privada. Ainda não tinha digerido todas aquelas informações. Aquilo era ainda pior do que tinha imaginado.

Quando fechava os olhos eu via aquelas fotos. Aquelas garotas surgindo na escuridão. Todas tão parecidas comigo. Todas mortas por minha causa.

Como alguém poderia ser tão obcecado por mim ao ponto de tirar vidas?
Quem poderia ser?

- Ahhhhh - gritei com as mãos na boca para abafar o som.

Me levantei e fiquei alguns minutos me olhando no espelho, ainda com a sensação que nunca mais conseguiria ver meu reflexo sem ser assombrada por aquelas fotos.

Coloquei o cabelo atrás da orelha e saí do banheiro. As meninas estavam como cães de guarda ao lado da porta.

- Está tudo bem? - perguntaram em coro.

- Está sim! - respondi com um sorriso falso.

O agente Clark abriu a porta e saímos juntos. E apesar do silêncio no elevador ao chegarmos em seu carro, meu coração acelerou.

Não sabia muito bem o que a policia pensava sobre tudo isso. Não sabia o quanto imaginavam que eu estava envolvida. Era literalmente como estar em um seriado policial.

Fui durante todo caminho imaginando minha foto no centro de um quadro branco com as fotos das moças assassinadas ao redor interligadas por um cordão vermelho e todos indo até mim.

O agente Clark me olhava de soslaio enquanto dirigia. Talvez tentando completar meu perfil.

E como se tudo isso que estava acontecendo não bastasse, ainda ficava imaginando um louco a espreita, talvez tramando uma morte dolorosa e cruel para mim.

Ao chegarmos ele abriu a porta do carro e me acompanhou até a entrada do prédio da polícia.

Quando passamos pela porta todos me olharam tentando disfarçar o espanto. Era como se todos estivessem vendo um fantasma.

Mantive minha cabeça baixa para evitar mais teorias paranoicas.

O agente Clark me deixou sozinha em uma pequena sala cinza. Não quis me sentar. Estava nervosa demais para isso.

Cinco minutos passaram até que a porta se abriu novamente. Meu coração que já estava acelerado saltou pela minha boca.

- Sente-se, por favor - disse um homem magro e franzino em seu terno preto.

Me sentei colocando minhas mãos entrelaçadas em cima da mesa fria de metal.

- Amanda Lorraine, correto? - perguntou olhando a pasta preta em suas mãos.

O Colecionador de BorboletasWhere stories live. Discover now