Por um Triz

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Estava com tanto medo. Os passos se aproximavam a cada instante. Eu podia ouvir sua respiração. Não estava ofegante, parecia calma e ao mesmo tempo carregada de ansiedade.

Pensei em me virar para olhar, mas não consegui. Só então percebi o quanto o medo podia ser paralisante. Eu sempre dizia que em uma situação como essa eu não hesitaria em olhar nos olhos de quem quer que fosse.

Eu me achava corajosa, mas naquele momento eu só queria conseguir gritar. Pedir ajuda, mas nada além da minha respiração irregular podia ser ouvida. Talvez as batidas frenéticas do meu coração, mas nada além.

Sentou-se na minha cama e pegou meus cabelos, mas sentir seu toque não me causou apenas arrepios, me fez gritar. Ao me virar vi apenas o vulto preto saltar pela janela.

As garotas entram no mesmo instante no meu quarto.

- Amanda? - gritou Carol. - O que aconteceu?

Eu ainda não conseguia responder. Estava assustada e pensando que por muito pouco não estaria morta ou quem sabe teria sido levada para um lugar desconhecido.

-Era ele? - perguntou Fabricia.

- Eu acho que sim - respondi ainda tremendo. - Apaguei as luzes e senti a presença de alguém no quarto, ele se aproximou lentamente e se sentou na minha cama, mas na hora que tocou no meu cabelo eu gritei e ai ele desapareceu.

- É mesmo um homem? - perguntou Carol trancando a janela e correndo para o meu lado?

- Eu não sei... Não consegui ver nada - respondi esfregando as mãos desesperadamente.

- Vou ligar para o agente Clark - disse Fabricia como se estivesse com esperança de achar a irmã.

Fiquei abraçada com Carol, mas queria mesmo era ter os braços protetores do James ao meu redor.

Nos deitamos todas espremidas no sofá da sala. O agente Clark chegou trazendo o agente Drake a tira colo. Me arrepiei ao vê-lo. Não gostava da sua presença.

Nos interrogaram, mas sentia que o agente Drake estava concentrado em mim. Como se esperasse apenas uma contradição para me acusar .

Odiava isso. Odiava o fato dele não aceitar minha inocência. Odiava ser acusada a cada olhar lançado. Era como se ele já tivesse minha sentença: Culpada.

O agente Clark nos tranquilizou e segurou minha mão por um pouco mais de tempo que o normal quando se despediu. Tentei encarar como algo da minha cabeça, mas as meninas, mesmo em uma situação como essa não deixaram passar em branco.

Carol já tinha decidido que havia algo entre nós. Eram quase o agente Drake, versão cupido.

Queria ligar para o James. Ouvir a voz dele já me tranquilizaria, mas não tinha seu número e não fugiria para lá no meio da noite com um maluco a solta.

Decidimos dormir todas juntas na sala. E mesmo com um policial em pé próximo ao sofá e um do lado de fora da porta, eu não conseguia adormecer.

Ao fechar os olhos conseguia reviver tudo de novo. Os passos, a respiração e o toque no meu cabelo.

Era sufocante lembrar da minha covardia. Do quanto eu era uma presa fácil. Agora ele sabia da minha fraqueza. Sabia que não seria dificil me capturar. Me matar. ..

Olhei para os lados e vi as meninas com os olhos abertos. Pareciam com tanto medo quanto eu.

Me doía pensar que tudo poderia ser culpa minha. Não conseguia nem pensar em como Fran estava. Pensar muito sobre isso fazia meu cérebro criar imagens horríveis.

Reprimi o pensamento fechando os olhos com força.

Me levantei e fui escoltada até o banheiro.

Quase perguntei se o policial queria entrar comigo. Ele sorriu de soslaio e e balançou a cabeça negativamente.

Joguei água no meu rosto e fiquei me olhando. Vendo cada detalhe que poderia ser razão de tanto sofrimento.

Encontrei uma tesoura na gaveta e cortei meu cabelo. Cortei acima dos ombros e voltei para a sala.

Foram só fios de cabelo, mas aqueles fios eram minha forma de dizer que eu não seria a mesma. Que não seria refém do medo.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora