Asas de Papel

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Que noite perfeita!

Aquele realmente parecia um encontro e desses que só vemos nas melhores comédias românticas.

Eu não era muito experiente nesses assuntos, pelo menos não na vida real. Tudo que realmente sabia sobre o amor vinha da minha longa bagagem como cinéfila, viciada em séries e em romances literários. Sabia que poderia realmente estar ficando louca por me abrir assim tão facilmente com um cara que eu mal conhecia, mas o James parecia tão diferente e interessante que tudo aquilo me fazia desejar ainda mais sua companhia.

Após o jantar mágico voltamos para nossos quartos e eu estava incrivelmente feliz apesar da vozinha na minha cabeça dizendo que aquele sonho não iria durar.

Ignorei todo e qualquer pensamento negativo e dormi abraçada ao meu travesseiro. Ansiosa pelo amanhecer. Ansiosa para vê-lo outra vez.

Nunca tinha sido tão fácil dormir, sempre passava noites em claro ansiosa por um trabalho ou tensa pelas disputas sem fim com outras modelos, porém dessa vez tinha sido diferente. Apenas fechei os olhos e adormeci. Um sono reconfortante e revigorante daqueles que recarregam todas as energias, mas antes que os primeiros raios de sol se adentrassem por minha janela, ouvi batidas na porta.

Ao abri-la, fui surpreendida por um beijo quente e molhado. Não foi demorado, mas tinha sido o suficiente para me tirar o ar. Ainda não havia escovado os dentes e olhei para ele apertando os olhos e colocando a mão na boca. Não queria que ele sentisse meu hálito matinal.

– Desculpa... – disse enfim.

– Eu não pedi o beijo – ele sorriu. – Apenas o roubei pra mim.

– Nem escovei os dentes...

– Detalhes... Não se prenda a eles – respondeu se aproximando para outro beijo.

Dessa vez me esquivei e voltei correndo para o banheiro, escovei os dentes e prendi o cabelo em um coque alto.

Ele sorriu a me ver e antes que pudesse dar outra desculpa para sair de suas vistas ele me puxou para fora e novamente me beijou, mas dessa vez perdi a noção de tempo.

Como era bom poder estar em seus braços!...

Ele me levou rumo a Cachoeira do Buracão. Foi uma longa subida. Um pouco cansativa, tinha que admitir, mas recompensada por um nascer do sol esplendoroso. Nos sentamos no topo da cachoeira e de lá era possível ver o balé das andorinhas. O sol surgia como uma bola de fogo, acendendo o céu com seus raios brilhantes. Parecia estar olhando para uma paisagem de ouro salpicada de esmeraldas.

James me abraçou e recostou seu rosto no meu ombro. Ele tinha um cheiro amadeirado e era maravilhoso me sentir segura e querida. Acho que nenhum dinheiro seria capaz de comprar algo assim.

– Quando veremos as borboletas? – perguntei me virando para ele.

– Logo – respondeu com outro beijo. – Antes de irmos a procura da minha raríssima borboleta 88, temos que tomar café da manhã.

– Onde? – perguntei olhando ao redor.

Ele retirou sua mochila das costas e pegou um pequeno pote com deliciosos e quentinhos pães de queijo e duas garrafas de suco de laranja.

– Você pensa em tudo hem?! – disse ainda com a boca cheia.

Ele apenas sorriu e tomou um pouco do suco.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, avistei um grupo se aproximando.

Um sinal de alerta se acendeu em mim. Vi uma loira, maravilhosa. Ela era tão perfeita que parecia ter saído de um comercial de perfumes francês.

– James... Não imaginei que te encontraria aqui de novo – disse a loira para o meu colecionador.

– Descobri que a borboleta que falta para minha coleção poderia ser encontrada aqui na Chapada. – disse sorrindo para ela, mas não parecia muito confortável com a situação.

Olhando para ela enquanto conversava com James, me arrependi por não ter caprichado mais na produção para aquele passeio.

Para alguns ser modelo era sinal de pura beleza, mas pura aos olhos de quem? Não me achava bonita o suficiente. Talvez tolerável para um comercial ou para fotos bem editadas de uma revista de moda, mas não para disputar com aquela garota.

– Amanda, essa é minha amiga Susan – disse me despertando.

– Olá Susan _ respondi com um sorriso forçado.

Ela sorriu empolgada e pegou minha mão com firmeza.

– Espero que consiga encontrá-la – disse ela olhando nos olhos dele com uma intimidade que me deixou com os nervos a flor da pele.

– Eu encontrarei... – ele respondeu pegando minha mão.

Me senti como uma completa intrusa. Talvez ele nem tivesse vindo apenas em busca da tal borboleta rara. Talvez Susan fosse seu real motivo.

Ri de mim mesma por ser tão boba, afinal as minhas asas não poderiam ser reais. Percebi que eram de papel. 

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora