Respirei fundo e levantei o olhar para encarar meu irmão, finalmente. Diante de mim não estava mais o garoto de 6 anos de idade, usando uma camiseta do Batman e com o cabelo cortado que nem "tigelinha", mas sim o Gabriel de 16 anos.
— Pedro? – ele insistiu, parado em pé diante de mim. – Você ouviu o que eu falei?
— Não. – respondi num pio.
— Eu disse que você já pode entrar pra ver a Amanda.
Respirei fundo novamente. Descruzei as mãos e passei institivamente uma delas sobre o meu nariz.
— Ok. – respondi, me levantando enfim.
Segui o caminho indicado por Gabriel pra ir ao encontro da Amanda. O quarto que ela estava era um pouco longe de onde eu consegui lugar para sentar. Por alguma razão o hospital estava muito lotado naquele dia.
Na metade do caminho entre paredes brancas, encontrei meus pais e Thomas. Eles estavam conversando, mais calmos, e assim que me viram me cumprimentaram com um sorriso. Thomas deu uma batidinha no meu ombro e disse alguma coisa que eu não consegui entender. Em seguida apontou para uma porta aberta, onde provavelmente Amanda deveria estar. Segui a orientação.
Antes mesmo de passar pelo batente da porta eu já a vi sentada em uma dessas camas de hospital. Estava com um curativo enorme no rosto, inchada, com um soro no braço e ainda vestindo a camiseta do FHS no corpo, com uma mancha enorme de sangue seco no peito. Logo que ela me viu, levantou os dois polegares em sinal de positivo, o que me fez apressar o passo para me aproximar dela.
— Dói? – perguntei, cauteloso.
— Me deram tanto remédio que eu nem lembro mais como é sentir dor. – respondeu com a voz um tanto anasalada.
— Vai ter de operar?
— Não. Nem chegou a quebrar... Foi bem simples, na verdade... Só sangrou muito, mesmo.
E no mesmo instante que a Dinha disse "sangrou" a imagem dela levando aquela bolada diretamente na cara, seguida dela caindo no chão com uma quantidade enorme de sangue saindo pelo seu nariz, veio a minha cabeça.
Não me lembro de muita coisa que aconteceu em seguia, além do fato de eu ter largado a minha posição de goleiro para ir correndo em sua direção.
Correr até o meio de um campo de futebol normalmente leva apenas poucos minutos, porém naquele instante pareceu que eu estava correndo inúmeros quilômetros, levando meia hora para chegar a esse destino. Me lembro também de que, enquanto eu corria para alcançá-la, só conseguia pensar "ela quebrou o nariz, ela quebrou o nariz, ela quebrou o nariz" seguido de "Ela vai ter de operar. Vai demorar 4 meses para voltar ao normal. Vai ter dificuldades para respirar. Vai obstruir o canal lacrimal. Vai...".
— Foi impressão minha ou aquele filho da puta me acertou de propósito? – Amanda perguntou, interrompendo meus pensamentos.
— Foi de propósito. – concordei.
— Cuzão. – respondeu nervosa, mas meio lenta, provavelmente por conta dos remédios. – Vou matar aquele arrombado.
— Que boca suja. – eu disse, forçando uma risadinha.
— Estou dopada de remédio. Eu posso. E se você contar para alguém eu vou dizer que é mentira.
— Tudo bem. – respondi erguendo as mãos, em defesa.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos, encarando a porta, enquanto o soro, já perto de acabar, descia até sua veia. Nem ela nem eu sabíamos mais o que dizer no momento.
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NOVEMBRO
Teen FictionAmanda Horstmann foi expulsa do time de futebol da escola (sua maior paixão) e, entre esse acontecimento, descobre que sua falecida mãe compôs uma música para seu pai quando ainda era viva. Motivada por essa descoberta, decide aprender a tocar a mús...
EXTRA - PEDRO (MOSQUETEIRO) FERNANDES
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