2 - Conclusões

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Joguei minhas chaves na mesinha de centro da sala da minha casa e me surpreendi quando ouvi um "estou aqui!" do meu pai vindo da cozinha

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Joguei minhas chaves na mesinha de centro da sala da minha casa e me surpreendi quando ouvi um "estou aqui!" do meu pai vindo da cozinha.

– Você não deveria estar na redação? – perguntei me apoiando na porta enquanto o observava.

Ele virou de costas para a pia e me encarou. Sua camiseta branca estava respingada de molho vermelho.

Droga. Ele está tentando cozinhar de novo...

– Também estou feliz por ver você mais cedo hoje – disse com ironia. – Entreguei meu trabalho todo ontem e não precisei ir nem para bater ponto – explicou. – eu tinha te avisado sobre isso ontem mesmo.

Meu pai era de uma revista importante em São Paulo que falava sobre fatos científicos. Ele era o editor auxiliar então tinha horários maleáveis (às vezes maleáveis até demais).

– Como foi o treino? – perguntou contornando seu bigode negro com o polegar e o dedo indicador.

Respirei fundo me sentando na cadeira da cozinha e apoiando meus braços brancos-quase-transparentes em cima da mesa.

– Está tentando cozinhar de novo? – mudei de assunto. – Macarrão? – deduzi pelo cheiro.

– Sim, e este está com certeza melhor que os outros que eu já fiz, acredite.

Meu pai não era um bom cozinheiro, mas ele sabia fazer o "básico"... E não, macarrão não estava incluído no "básico" dele.

Ele era viúvo e nunca havia namorado depois que minha mãe morreu. Se tivesse se casado depois disso, talvez eu tivesse crescido com uma alimentação saudável, livre de possíveis intoxicações alimentares, longe do "básico" e da comida congelada. Por outro lado, se ele tivesse de fato se casado novamente, eu não teria aprendido a cozinhar a minha própria comida.

Pois é, sou cheia de talentos.

Meu pai colocou o pano de louça (igualmente sujo à sua camisa) em cima do ombro e começou a colocar uma massa vermelha em um prato – acho que aquilo era o macarrão –, depositando-o em seguida na minha frente.

– Não estou comendo carboidratos essa semana – o que não era de todo mentira.

– A massa é integral – defendeu. – Mas ainda tem a sua gororoba natureba na geladeira – ele puxou a cadeira para se sentar ao meu lado na mesa – Você não respondeu a minha pergunta.

– Qual pergunta? – me fingi de desentendida enquanto encarava aquela massa grudenta.

– Como foi seu treino?

– Ah... Essa pergunta – fingi me recordar. – A mesma coisa de sempre. Grama, bola, gente se machucando e gente sendo expulsa...

Peguei o garfo que estava em cima da mesa e comecei a cutucar o suposto macarrão – sem pretensão de comê-lo, óbvio.

NOVEMBROWhere stories live. Discover now