— AMORIM, SEU IDIOTA! ESTOU LIVRE! VOCÊ É CEGO?! – gritei, enquanto corria pelo campo – AMORIM! – bradei mais uma vez, porém continuei sendo ignorada – Merda.
Em meio aos meus apelos, o treinador Amargo assoprou o apito antes mesmo que eu tivesse a chance de gritar mais uma vez.
Fim do treino.
O time parou de correr e começou a caminhar em direção a ele. Exceto eu. Eu fui em direção a Matheus – aquele meio campista de merda – para tirar satisfações.
– Se você continuar achando que pode ganhar o jogo sozinho, nós nunca vamos vencer o campeonato, entendeu? – perguntei, mas não esperei a resposta. – Então passa a porcaria da bola da próxima vez!
– Amanda, sinceramente... – ele começou, entediado.
Mas antes que ele pudesse terminar a frase, o treinador o interrompeu, gritando:
– Vamos logo, meninas!... – e olhando para mim, continuou: – e menino.
Em algum lugar na cabeça do treinador Amargo era superlegal e engraçado chamar os jogadores no feminino. Porém sua piadinha infame perdeu o efeito (se é que algum dia teve efeito) quando eu entrei no time e ele passou a ter de convocar uma menina de fato após cada treino.
– Vamos logo... Amanda, Matheus, conversem depois! – continuou a gritar.
Ignorei o treinador.
– Da próxima vez faça o maldito passe. Estou de olho em você.
Novamente não esperei sua reação e fui me juntar aos outros.
– ...O treino foi ótimo. Estão indo muito bem! – comentou o treinador Amargo quando todos já estavam próximos o suficiente – Vamos continuar assim, focando na defesa. É só. Descansem. Estão dispensados...
Revirei os olhos. Nós não estávamos "indo bem".
– Menos você, Horstmann. Você fica. Precisamos conversar – disse para mim, interrompendo meus pensamentos. E minha respiração.
Os meus colegas de time começaram a se dispersar ao mesmo tempo em que me lançavam olhares significativos. Olhares de boa sorte.
Os jogadores só frequentavam o escritório do treinador sob duas circunstâncias: a primeira, quando eram aceitos para o time; a segunda, para levar bronca – e não era qualquer tipo de bronca. Considerando o fato de eu ter frequentado o escritório uma única vez, por conta da primeira circunstância, não esperava algo muito bom desta segunda visita. Além disso, ele falou "precisamos conversar".
Para você que reconhece o poder catastrófico dessas duas palavras, mas pensa que elas só são usadas em términos de relacionamentos conturbados, tenho uma revelação a fazer: isso não é verdade. Ou melhor, não é totalmente verdade. A verdade é que nada (absolutamente nada) de bom vem depois de "precisamos conversar", estando você num relacionamento ou não, conturbado ou não.
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NOVEMBRO
Teen FictionAmanda Horstmann foi expulsa do time de futebol da escola (sua maior paixão) e, entre esse acontecimento, descobre que sua falecida mãe compôs uma música para seu pai quando ainda era viva. Motivada por essa descoberta, decide aprender a tocar a mús...