48 - Precisamos Conversar

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O choque do meu pai foi tão grande que ele até se esqueceu de me perguntar quem era o garoto que havia me beijado no dia do jogo

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O choque do meu pai foi tão grande que ele até se esqueceu de me perguntar quem era o garoto que havia me beijado no dia do jogo. Ainda bem, porque eu não estava a fim de explicar (na verdade, eu nem saberia como explicar). E ainda bem também que ele não estava em casa três dias depois quando um carro zero passou pela minha rua buzinando loucamente até finalmente parar em frente ao nosso portão.

Era Fernando, claro, com o carro que ele havia ganhado do pai por ter cumprido com a parte dela no trato dos dois.

Saí correndo da janela até a porta da casa para ir até a calçada encontrar com ele, que já estava fora do automóvel, apoiado nele, com os braços cruzados numa belíssima imitação de um dos atores de Velozes e Furiosos. Ele usava uma calça jeans rasgada, os costumeiros all stars pretos, uma camiseta lisa branca e o boné do hard rock café, com a aba virada para trás. Tão lindo!

- Meu Deus do céu, que playboy! – comentei sorrindo.

Eu simplesmente não conseguia parar de sorrir.

- É lindo, não é? Mal posso acreditar. E o mérito é todo meu. Quer dizer, quase todo meu, porque se não fosse você... – ele disse alisando o... a... alguma parte do carro que eu não faço ideia que nome tem. Eu também nem fazia ideia de que carro era aquele, mas parecia ser muito chique.

- É bem lindo, sim. – respondi soltando uma risadinha idiota.

Não conseguimos nos falar desde o campeonato. Tanto ele quanto eu ficamos muito ocupados com as coisas que aconteceram depois da final do jogo. Mas confesso que eu em nenhum momento eu parei de pensar no beijo que ele havia me dado naquele dia, e de senti-lo como se tivesse acabado de acontecer. Eu saía caminhando pela casa, sorrindo do nada com a lembrança, sentindo um friozinho gostoso na barriga, só aproveitando os efeitos do que acontecera entre a gente.

- Quer dar uma volta?

- Claro!

Então entramos no carro. Ele abriu a porta para mim (um gesto arcaico que não deixou de me fazer eu me sentir especial mesmo assim) e assim que eu me sentei no banco, destravei a porta dele, para que Fernando pudesse entrar também.

Eu tinha aprendido isso com o Pedro. Ele sempre dizia que se um homem abre a porta do carro, é legal que a menina, quando entre, abra a porta dele, destravando-a só. Acho que Pedro deve ter visto isso em algum filme e reproduzia esse discurso até então como regra universal de conquista infalível – mas não custava tentar, né?

Fernando se acomodou, colocamos o cinto de segurança e ele ligou o carro.

O cheiro de "novo" e dos bancos de couro (como eu disse: chique) era maravilhoso. Eu nunca prestei muita atenção em carros e seus modelos. Para mim todos eram iguais, assim como todos os instrumentos musicais de corda. Porém aquele automóvel era especial, então prestei atenção em cada detalhezinho dele, provavelmente escolhido a dedo por Fernando, pré-pensados há meses – senão há anos.

NOVEMBROWhere stories live. Discover now