14 - Segunda Tentativa

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Se eu estivesse diante de uma situação normal, eu simplesmente ignoraria Fernando até o meu último suspiro

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Se eu estivesse diante de uma situação normal, eu simplesmente ignoraria Fernando até o meu último suspiro. Mas aquela não era uma situação normal. Foi exatamente por isso que na segunda-feira de manhã, durante nosso intervalo do colégio, eu fui atrás dele para persuadi-lo novamente. Mesmo que ele estivesse acompanhado de cinquenta pessoas, eu iria puxá-lo para uma conversa a sós – ou até mesmo falaria na frente de toda aquela gente, caso ele me irritasse.

Para a minha surpresa ele não estava com seus amiguinhos descolados quando o procurei, mas sabia que ele não tinha faltado naquele dia, pois eu o vi saindo do carro de Jonathan seguido por sua irmã. Eu também sabia que ele não estava em nenhuma sala de aula, porque é uma regra da escola que nenhum aluno fique dentro de qualquer sala durante o intervalo. Com isso, ele só poderia estar na biblioteca.

Ou na quadra de esportes.

Ou na sala de informática.

Ou no laboratório de ciências.

Ótimo.

Primeiro eu fui até a sala de informática, mas ninguém estava lá – só os alunos que estavam na etapa pré-vestibular. Depois eu fui até o laboratório de ciências (lugar que quase ninguém frequentava, nem os próprios professores de ciências) e (adivinha!) lá encontrei Fernando em companhia de sua irmã dona de dentes perfeitos, Alice.

Fernando estava com uma cara mal-humorada o que me fez imaginar que a conversa entre os irmãos não estava muito confortável, mas isso não me inibiu.

Me aproximei dos dois lentamente. Estavam sentados em cima de uma bancada ao lado de uma caixa cheia de tubos de ensaio.

– Oi.

– Oi – somente Alice respondeu com seu habitual sorriso.

– Eu...

– Pensa bem no que eu disse... – Alice me interrompeu, falando para o irmão e, depois, virando-se para mim: – Eu já vou indo. Bom ver você de novo.

Fiquei feliz por ter me livrado dela mais rápido do que eu imaginei. Fui poupada de fazer aquela cena de "preciso falar com ele a sós".

– Tchau.

Alice saiu de cima da bancada e foi embora, fechando a porta lentamente atrás de si. Só então Fernando abriu a boca:

– Não vai vir com aquele papo de proposta de novo, não é?

– Vou... – disse com mais coragem do que da primeira vez que conversamos. – Até você aceitar. Até seu último dia de vida se for preciso.

Tudo bem, eu dramatizei um pouco as coisas, afinal o meu prazo para aprender violão era até novembro daquele ano e não até o último dia da vida de um Amargo.

– Acho melhor rezar para que eu morra rápido, então. – ele sorriu com humor.

– Escuta aqui – disse já perdendo a minha paciência. – Eu posso ser louca como você disse, mas eu não sou surda. Eu sei o que eu ouvi. – respirei fundo antes de continuar, pois precisava me acalmar se quisesse convencê-lo. – Eu te fiz uma proposta que é boa tanto para mim quanto para você. Eu preciso dessas aulas de violão, mas eu não tenho dinheiro e nem consigo arranjar um emprego. O único jeito é pagar alguém com as minhas aulas de futebol e esse alguém é você.

NOVEMBROWhere stories live. Discover now