3.3 - Hello

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    As crianças brincam animadamente enquanto eu as observo encostada no batente da porta de madeira do pátio. O show beneficente era em dois dias e a música que eu havia escolhido estava ótima. Mesmo que eu não soubesse cantar corretamente, iria tentar. O orfanato precisava.

Emma:
Tem certeza que devo ir?

Mariana:
Absoluta, eu vou estar lá.

   Estava tentando convencer Emma de aparecer em uma reunião do grupo jovem em qualquer domingo pela segunda vez. Usei todos os argumentos possíveis e que principal não a deixaria sozinha.

— Crianças, temos uma visitante. — ouço uma mulher dizer e desligo o telefone. Todos os olhares curiosos se voltam pra mim.

   Sorrio timidamente enquanto ambos caminham em minha direção em passos lentos. De soslaio avisto Bruno sozinho atento a cada movimento, como se a qualquer momento algo fosse lhe atingir.

— Olá menina bonita. — um garoto diz acenando e ambos riem. Ele dá de ombros e eu gargalho junto com os demais.

— Olá menino bonito.— retruco ganhando mais gargalhadas.

   Uma das mulheres balança a cabeça negativamente controlando sua boca para não exibir um sorriso. Sinto uma mão em meu ombro e olho rapidamente. Jonathan estava sorrindo e com a testa franzida por me ver ali com tantas crianças querendo conversar comigo.

— Tio Jonathan! — uma menina exclamou pulando em seu colo. Sorri com a cena e um garotinho sussurrou para um dos seus amigos. Porém, foi alto o suficiente para Jonathan e eu ouvirmos.

— Será que ele é namorado dela?

— Não sei.

— Olha como ela encara ele.

   Boquiaberta, encaro Jonathan com uma das sobrancelhas arqueadas só ouvindo a sua risada. Eu pisquei algumas vezes e não tive coragem para erguer o olhar para uma das mulheres que estava ao nosso lado.

— Bom dia crianças!

   Mamãe certa vez disse para mim e Skye que quando nosso coração acelera por uma pessoa, é porque estamos apaixonadas por ela. Meu coração acelera quando Jonathan exibe seu sorriso e eu não faço a miníma ideia do que isso significa. Eu não posso estar apaixonada por alguém que acabara de surgir em minha vida. Isso seria uma completa loucura, apesar que eu gostava dele quando tinha doze anos.

Não, impossível.

  — Ei Mari, tudo bem?  — Jonathan me cutuca enquanto a garotinha ri de algo.

  — Ah, sim...está.

     Pisco algumas vezes e ando em direção ao Bruno. Seus olhos pequenos e atenciosos voltam-se para mim enquanto eu movia minhas pernas para sentar-me ao seu lado. Seus dedos se agitam e ele pega um lápis na caixa colorida posta em seu colo. Observo os movimentos enquanto ele pinta uma casa que ele desenhou.

  — Está ficando muito bonito. — Elogio. Ele ignora completamente e continua a colorir. Nem ao menos dirige o olhar pra mim.
Suspiro e penso no que poderia falar. — Olha, sei que não confia em mim e não precisa. Eu vou cantar em um show beneficente, pra ajudar o orfanato. Não quero que você ache que eu sou uma boa pessoa só por isso, mas quero que saiba que pode confiar em mim se quiser.

    Espero apreensiva por algo. 

  — Sabe...eu era uma pessoa apagada. Minha melhor amiga morreu faz três anos, minha única amiga. Não consegui lidar muito bem com a dor, acabei me afundando na solidão. Eu sei que você é só uma criança...— suspiro para continuar. — mas se isolar não vai ser o melhor pra você.

   Deixo que ele pense no que falei e levanto-me para conversar com Jonathan que naquele momento fixou seus olhos em mim. Lhe dou um sorriso amarelo e movo minhas pernas, mas antes que eu comece a andar, sinto algo me segurar e olho suspresa para Bruno. Seus olhos sobem para o meu rosto e ele retira a mão devagar de meu tornozelo.

— Fica. — É o que escuto sair de sua boca e meu coração salta de alegria. Olho para Jonathan que abre a boca em sinal de surpresa.

— Claro, eu fico.

   Sorrio e continuo a contar minha história até aquele momento sentada ao lado dele observando seus desenho. Ele ouve tudo atentamente e sorri em algumas partes.

  Meu sorriso não some do rosto nem por um segundo. Bruno falou pela primeira vez naquele orfanato e comigo. Especialmente comigo.
  Conto como Jesus tem curado minhas feridas mais profundas e qual música iria cantar no show beneficente.

  De repente uma ideia surge em minha cabeça.

Entorpecida - Vol 1Where stories live. Discover now