1.0 - Fugindo

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— Vem, vou te apresentar as meninas e os meninos do grupo.

   Eu estou bem. Eu estou bem. Por incrível que pareça, eu estou leve e querendo sorrir pra todos os lados, coisa que eu não fazia. Aquilo havia sido tão bom e eu queria mais, ali era tranquilo e eu queria tranquilidade. Eu queria paz.

— Essa aqui é a Sthefanny, essa a Adelaide, essa a Mayra e essa aqui é a Marcelle. — diz apontando para meninas diferentes que ambas estavam na peça. Cada uma me dá um oi e eu me apresento. Falamos sobre algumas coisas como a reunião havia sido e o que eu achei.

— Aqueles são os meninos. Meninos! — ela grita os chamando e eu me viro na direção em que ela estava olhando. O sorriso que estava em meu rosto desaparece e a agitação volta a tomar conta do meu corpo. Não sabia se minha expressão era de assustada ou surpresa, mas não me importava com isso. — Um se chama Mateus, o outro Felipe, Murilo e Jonathan. Ah e o Jeremy.

  Respiro fundo tentando assimilar.

Ele está vivo.

— Meninos! — ela grita mais uma vez já que não ganhou atenção deles. Jonathan se vira de imediato e sua expressão surpresa assim que me vê ao lado de sua amiga, o denuncia. — Venham cumprimentar a Mariana.

— Julie, eu infelizmente preciso ir.

    Seu sorriso se desfaz assim que eu me despeço dela e das outras meninas que me encaravam. Ótimo. A louca que saiu fugindo do nada. Abraço cada uma prometendo voltar outro dia
   Ele estava diferente. Estava mais velho e provavelmente amadurecido. Seus cabelos estavam cortados e seus músculos maiores.

— Até um dia então, qualquer coisa eu te ligo. Quer me deixar seu número?

  Julie não entendia que eu precisava ir embora.

— Sim, anota aí.

   Em alguns segundos Julie anota meu número e meu nome no seu celular. Sorrio e vou embora dali o mais rápido possível.
  Se eu pudesse ser o Barry Allen, com certeza chegaria em casa antes de desmaiar.

— Ei, Mariana.

  Finjo não escutar e sigo em frente rumo ao meu lar doce, quer dizer, amargo lar.

— Mariana! — parei ainda de costas para a voz que me chamava. Era uma voz masculina e eu não sabia distinguir quem era. Ou melhor, se não era ele.
— Eu estou surpreso em ver você aqui.

   Arqueio as sobrancelhas e me viro em sua direção. Um sorriso amarelo estava estampado em seu rosto e suas mãos estavam nos bolsos de sua calça. Eu queria lhe dar um tapa. Sinto meu rosto esquentar e minhas mãos suar. O que é isso?

— É, Julie me convidou. — digo como se não quisesse saber nada sobre seu paradeiro depois do acidente

— Como você está?

  Passo alguns segundos em silêncio. Aquilo era ridículo, aquela situação era ridícula. Passei 3 anos me culpando por estar viva, por ter ido naquela festa, por ter inventado de acordar Skye e atrapalhar ele no trânsito. Por eles terem sido mortos por um incidente meu.

— Achei...que você estava morto. — minha voz sai mais fria do que planejei. Cruzo os braços e o olho friamente. — Por que não me procurou? Por que deixou que eu achasse que estava morto?

— Eu estava com medo Mariana.

— Medo de quê?

  Respiro fundo e me viro pra continuar andando quando percebo que ele não iria responder. Isso explica o túmulo que eu nunca encontrei meus pais que não citaram seu nome.

— Mariana? — paro mas não me viro. Ouço o mesmo respirar fundo. — Me perdoa.

   Meu corpo se torna quente e eu fecho os olhos para arranjar força pra continuar a andar, e eu consigo. Coloco minhas mãos no bolso e deixo o vento gelado balançar meus cabelos enquanto tentava não desmaiar.

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— Quando pretendiam me contar que Jonathan está vivo?

  Meus pais se encontravam sentados no sofá da sala. Mamãe como sempre mexendo em seu celular e meu pai vendo as notícias na TV. Os dois me olham surpresos e eu desço o último degrau da escada.

— Quando? Quando eu estivesse prestes a morrer e vocês viriam com "Filha precisamos te contar uma coisa"? — faço uma voz fina para enfatizar a frase.

— Ei, olha o respeito. — mamãe diz desligando seu celular me encarando. Rio ironicamente.

— Passei esses anos achando que os dois estavam mortos, como mentiram esse tempo todo?

   Um silêncio toma conta da sala e meus pais se entreolham. A relação dos dois estava cada vez mais complicada, e eu não os culpava por me deixarem viver do jeito que eu quisesse sem se importar com o amanhã. O amor deles estavam se esfriando, se um dia eles tiveram isso.

— Onde você o viu?

— Pai, isso não vem ao caso. — respondo me aproximando do sofá. — Por que não me contaram?

— Ele foi o que menos sofreu no acidente e assim que te viu, pediu que não contasse nada sobre ele. E também não queríamos que você tivesse contato com ele.

  Rio e balanço a cabeça ainda não acreditando naquilo tudo.

— Por quê? — pergunto novamente. Aquilo não tinha lógica.

— Foi ele quem matou Skye, Mariana. — acusa papai. — Queria mesmo que eu deixasse você ser amiga dele?

— Skye era como uma filha pra gente, você sabe disso melhor do que ninguém. — mamãe disse séria.

   Apenas encaro os dois. Podia se ver o quanto os dois haviam ficado abalados quando Skye se foi. Mamãe ficou uma semana chorando e papai sempre que podia ficava observando as fotos onde ela estava sorridente conosco, mas nenhum dos dois retiraram as fotos daquela sala. Elas ainda permaneciam intactas ali, deixando claro sua ausência.

— Onde você viu ele?

— Em uma igreja aqui perto. — digo já me virando para ir pro quarto.   

— Igreja? Sério isso? Você nunca quis saber de igreja.

  Poderia concordar com a minha mãe, nunca quis mesmo saber de igreja, mas quero paz. E o único lugar que eu vejo paz, é lá.       
   Apenas ignoro o seu comentário e vou para o quarto com mil e um pensamentos, um deles é Jonathan.

Entorpecida - Vol 1Where stories live. Discover now