A vida é como uma equação.
Para alguns é fácil e compreensível.
Para outros difícil e, às vezes, impossível.
Viver: simples, difícil e doloroso.
Mariana não sabe como seguir em frente. E mesmo dizendo para os outros que está, com sua vida monóton...
Todos reunidos em volta da mesa de madeira, na varanda, no final da tarde ensolarada. Ambos molhados e sorridentes. Eu observo os traços de cada um tentando guardar aquele momento amigável no meu coração.
Uma música antiga, que Sthefanny havia colocado, ecoava pelo quintal. Senhora Fernanda e seu marido conversavam animadamente com os pais de Julie que pelo o que entendi, o pai dela era irmão da mãe de Fanny, como ela disse que eu poderia chamá-la.
— E você, Mariana?
— Perdão...o quê?
Fui acordada por Clarisse, a ruiva que me encarava no carro. Descobri seu nome enquanto nós corríamos como loucos pelo quintal para fugir da água.
— Qual seu talento oculto? — ela repete com uma voz misteriosa e eu acabo rindo.
— Acho que escrever.
Ela balança a cabeça e pergunta a Jonathan qual era seu talento oculto e o mesmo diz que é cantar. Franzo a testa em surpresa. Jamais iria imaginar que o famoso Jonathan, cantava.
Não continuo a prestar atenção na conversa. Meus pensamentos se voltam para Skye. Ela estaria aqui hoje se estivesse viva? Eu estaria aqui se ela estivesse viva? Todas as perguntas ficariam sem resposta. Não tinha como voltar no tempo e desfazer o passado, agora era o presente que deveríamos enfrentar.
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Skye Moura 1996 - 2014 "Que a paz esteja com ela"
Passo os dedos pelo seu nome. Onde estava sua alma? Essa pergunta vinha sempre em minha cabeça. Acredito que não esteja em um lugar de paz, o que aperta meu peito de tristeza.
Levanto-me com dor nos joelhos por tanto tempo abaixada observando a lápide. Meus dedos doem com o frio que meu corpo sente, meu nariz arde com o controle sobre as lágrimas que insistiam em cair.
— Eu vinha nesse lugar quando não aceitava dela não estar mais aqui. — Jonathan diz se aproximando.
Eu e ele decidimos passar no cemitério que estava vazio aquela hora da tarde. Fomos pensar um pouco e esparecer a cabeça.
— No primeiro ano eu vinha todos os dias. — digo abraçando meus próprios braços. Esperava de coração não pegar um resfriado com tanto tempo dentro daquela roupa molhada. — Pra onde ela foi?
— Não posso dizer pra onde, quem sabe ela se arrependeu no último minuto.
Arqueio as sobrancelhas e viro meu corpo para ficar de frente ao seu. Jonathan dá de ombros e eu observo atentamente cada movimento, como se qualquer coisa pudesse entregá-lo.
Ele sabia de algo que eu não sabia.
— Ela não morreu na hora né?
Ele nega e eu pisco inúmeras vezes. Ouço seu suspirar quando volto a encarar a lápide.
— Ela ficou um dia internada. Na madrugada do dia seguinte do acidente ela morreu.
— Ela chegou a acordar? — Faço outra pergunta sentindo a curiosidade me engolir.
— Não, ela entrou em coma. Skye perdeu muito sangue, Mariana.
— Você...
— Eu não sofri muito, porque a batida foi do lado de vocês. — diz mordendo o lábio inferior. Talvez o assunto ainda o machucasse. — Por isso eu sumi, você colocaria a culpa em mim. Seus pais quase me mataram quando viram que eu estava em boa forma.
Prendo a respiração. Meu coração acelera ao lembrar do dia e em como Jonathan deveria ter ficado. Arrasado, irritado, culpando a si mesmo até o final do dia. Um pequeno vislumbre de seus cabelos bagunçados e olheiras fundas abaixo dos olhos passa por minha cabeça. Não havia sido fácil pra ninguém.
Ele puxa-me para si e me abraça com força enquanto permito as lágrimas escorreguem do meu rosto para sua camisa, não sei o motivo pelo meu choro, porém só desabafo através dele.
— Está tudo bem agora.
Meus braços rodeiam seu corpo enquanto ele alisa meus cabelos em forma carinhosa e de consolo. Jamais tinha ficado perto de Jonathan deste jeito, mas eu não estava me importando naquele momento frágil e...nem ele.
Ele era meu amigo, ele e todos os que me rodeavam agora.
