3.0 - Tchau, Tyler

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— Mariana, desça aqui! — Dona Vera grita do pé da escada. Enxugo as lágrimas que descera pelo meu rosto após o final da carta. Passo as mãos pelo cabelo e fungo antes de abrir a porta e descer em direção a sala.

  Tio Tyler estava com uma mala em mãos. Desde do dia em que sentamos na sala para conversar, ele não se dirigiu a mim. Mamãe e papai passavam as horas vagas mais do lado de fora da casa do que dentro. As brigas constantes haviam parado por conta da visita inesperada do irmão mais velho da senhora Vera Evan.

— O que está acontecendo? — pergunto assim de desço o último degrau.

— Tyler está indo embora.

  Suas expressões não eram as melhores. Mamãe mal erguia seu rosto para mim e papai estava pensativo encarando um ponto no piso branco da sala.

— Tchau, minha querida sobrinha. — ele diz vindo em minha direção mas é parado por Louis. Engulo em seco prevendo já o que havia acontecido e minha respiração acelera.

— Tchau, Tyler.

   Ele assente e sai com a mala na mão direita. Ando um pouco até a porta e avisto o táxi que esperava por ele no portão. Papai fecha a porta antes que eu possa dar um aceno.

— O que foi? — pergunto sentando no sofá a espera de uma resposta pelo comportamento estranho dos dois. — Vocês estão...esquisitos.

  Papai e mamãe se sentam ao meu lado. Ela passa as mãos pelo rosto suado e ele coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha. Arregalo os olhos enquanto eles se encaram com um longo silêncio.

— Seu tio Tyler nos chamou para conversar e ele nos contou algo que...

— Nos chocou. — minha mãe o interrompeu. Ela pigarreou e disse com a voz arrastada: — Ele tocou em você.

   Demorei para perceber que não era uma pergunta. Ela estava firmando, em voz alta mais para si mesma do que para mim. 

— Por que não nos contou?

   Passei as mãos disfarçadamente pela calça jeans para secá-las. Minha mãe respira fundo e levanta, começa a andar de um lado para o outro de forma nervosa como sempre fazia quando algo saia do controle ou um desastre acontecia. Aquilo não era um desastre e estava tudo sob controle, eu havia perdoado tio Tyler e meus pais poderiam viver sem culpa.

— Vocês nunca iriam acreditar em mim, tio Tyler era...basicamente o protegido de vocês.

   Tyler sempre fora o irmão que minha mãe tinha mais contato. O irmão mais novo que nunca lhe desprezara como os outros dois irmãos mais velhos. Sua aparência era agradável para qualquer mulher de trinta anos e jamais que Vera iria imaginar que ele tinha feito tal atrocidade.

— Isso é culpa minha. — minha mãe diz parando a minha frente com uma das mãos na cintura. — Se eu não tivesse confiado tanto em Tyler a ponto de deixá-lo sozinho com nossa filha.

   Papai alisa meu cabelo de forma carinhosa. Aquilo havia passado, a ferida dentro de mim tinha cicatrizado graças a Deus e conversar sobre aquilo não me pertubava. O que me preocupava era forma como meus pais lidariam com o assunto.

— Não é culpa sua, mãe. Não é culpa de ninguém. — digo depois de alguns minutos somente com o som da televisão. — É passado, ok? Eu perdoei o tio Tyler e...

— Não é passado, você sofreu.

   Suspiro. Aquela conversa não iria acabar tão cedo.

— O que ele falou pra vocês?

— Que você se mostrou diferente diante da situação. E ele está arrependido e nos contou.

  Eu abro um sorriso que deixa meus pais confusos. Estava vendo os frutos do perdão, estava colhendo que eu plantei, plantei o perdão.

— Vocês não podem ficar com raiva dele, principalmente você...mãe. — enfatizo. — Ele é seu irmão.

  Ela suspira e se senta novamente pegando minha mão e olhando nos meus olhos. Abraço seu corpo magro e ela chora. Não compreendo o motivo, mas ela chora como uma criança e eu me sinto na obrigação de apertá-la e dizer que estava tudo bem agora.



  NOTA:
   Olá babys, como vão?
Próximo capítulo tem momento do Jonathan e da Mari. Quero pedir para vocês votarem e comentarem. Ok?

Beijos!

Entorpecida - Vol 1Where stories live. Discover now