Vitória.
Era o dia do julgamento, pelas ultimas duas audiências eu já sabia que as chances de Ana eram mínimas diante do júri, apesar das evidencias e da tese de defesa impecável que seus advogados elaboraram, Dr.Carlos ainda tinha mais influencia e sua equipe era uma das mais renomadas do estado. A paciente ainda não havia acordado do coma, o que aumentava ainda mais o risco de sequelas.
Por mais que eu tentasse não transparecer, o suor em minha testa denunciava meu nervosismo, cheguei no tribunal e o local estava um pouco tumultuado, diversos familiares e amigos da paciente estavam fazendo um corredor até a entrada, cartazes e alto-falantes por toda parte, entrei junto com minha equipe e logo avistei Ana sentada no banco perto da sala do julgamento, seus olhos estavam mais caídos que o normal, parecia que ela iria ter um ataque de panico a qualquer segundo, me controlei para não jogar tudo pro ar e beija-la ali mesmo.
Ana.
O ar condicionado do tribunal parecia esquentar ainda mais a sala, a agitação das pessoas na sala me deixava desesperada, minhas mãos estavam gélidas e eu tinha certeza que estava da cor de Vitória de tão nervosa. Vitória. Esse nome latejava na minha o dia todo, o frio na barriga era o mesmo sempre que a via, e naquele dia não foi diferente, seus cachos estavam presos, as gotas de suor por sua nuca eram nítidas, ela observava atentamente a promotora que argumentava fervorosamente gesticulando para o júri. Olhei para o relógio, 10h30, estava na hora, não conseguia ouvir nada a minha volta, as vozes soavam como um eco infinito na minha mente, as luzes do tribunal se apagaram, estava acontecendo, finalmente a parte final do nosso plano estava acontecendo, as pessoas estavam nervosas e ainda mais agitadas, o burburinho só sessou quando a voz gravada do Dr.Carlos preencheu a sala.
"Você acha mesmo que vai conseguir provar sua inocência? Tem ideia de quantos inquéritos eu já fechei ao longo desses anos? Nunca deu em nada, e não vai ser você que vai mudar isso, nao tente bancar a heroína, só vai piorar a situação"
"E o que você pretende fazer? me matar?"
"Te matar? Não, não, posso fazer bem melhor, tem falado com sua família? É sempre bom, nunca se sabe quando uma tragédia pode acontecer não é mesmo?"
" O que você quer dizer com isso?"
"Não se faça de idiota! Um passo em falso e eu acabo com aquele ninho de baratas que você chama de família"
Logo depois que a gravação acabou, as luzes acenderam novamente e diversas fotos estavam espalhadas pela bancada do júri e na mesa da promotoria, fotos de todas as vítimas do Dr.Carlos em dez anos, junto com todos os prontuários e receitas com sua assinatura, ele não tinha como fugir, a imprensa estava no local gravando tudo, ele havia sido desmascarado.
- O tribunal entrará em recesso até a análise completa das novas evidencias.
Olhei para o lado e Vitória já não estava lá, eu precisava ir também.