Capítulo 10

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Ana.

Acordei com um barulho insuportável de alguém tentando abrir a porta, olhei pro lado e percebi que estava sozinha, pensei na possibilidade de ter apenas sonhado novamente com Vitória, mas meu corpo nu no sofá me trouxe de volta a realidade, vesti meu roupão antes que a porta abrisse e as meninas me vissem daquele jeito, o relógio marcava seis da manhã, já estava irritada com aquele barulho e fui ate a porta abri-la, quando dou de cara com duas bêbadas, Julia e Luísa, minhas colegas de quarto, estavam apoiadas uma na outra, tentando arrombar a porta com o abridor de lata do chaveiro, gargalhei da situação em que se encontravam.

–Anaaaa. - Julia disse me abraçando, dava pra sentir o hálito de vodka a quilômetros de distancia.

– Se ligar um isqueiro na sua boca a gente acende a tocha olímpica. - Disse e ela riu alto demais, por que o álcool faz isso com as pessoas?

– Levanta dai Luísa, Levanta! Levanta! – Julia disse exageradamente preocupada com Luísa, que estava deitada com as mãos e pernas abertas na entrada do apartamento.

Voltei a me deitar no sofá rindo da situação, e antes disso vi um pequeno bilhete na mesinha de centro da sala.

"Ao contrario do que você possa estar pensando, eu não gosto de sair de madrugada, mas por precaução tive de fazer. Me liga quando acordar, ainda preciso te passar os detalhes do processo, foi uma ótima noite."

Eu não a julgava por ter ido embora ao meio da noite, ela estava se protegendo, e de certa forma me protegendo também, mas não vou mentir, queria que ela tivesse ficado. Nossa noite foi diferente de todas que já tive, a entrega mútua, o desejo, o toque; Tudo, tudo havia sido único, apesar disso, eu sabia que teria de controlar as expectativas, precisávamos nos concentrar no processo, e um caso (principalmente com ela) poderia atrapalhar tudo.

Resolvi esperar para ligar, me situar um pouco mais, funciono muito pouco pela manhã. Depois de tomar banho e almoçar, pontualmente ás 13h15 da tarde, eu liguei para Vitória.

– Naquele mesmo barzinho, hoje ás 17h. - Ela disse antes mesmo do meu alô.

– Você paga a cerveja. – Ouvi uma risada nasal e um "Ok" sussurrado e desliguei.

Passei o resto da tarde conversando com meus pais, meu pai queria vir para São Paulo a qualquer custo, mas consegui convence-lo a ficar em casa, seria muito mais seguro.

Quando deu o horário de encontrar com Vitória, tentei manter meus pensamentos longe do nervosismo, se era difícil manter o profissionalismo quando ainda não passava de um flerte, imagina agora. Peguei um Uber até o barzinho que tínhamos combinado, fui andando ate a última mesa do bar e avistei o cabelo cacheado solto de longe, me sentei já sorrindo ao ver o litrão de cerveja e dois copos na mesa.

– Levou a sério mesmo? - Perguntei e ela me serviu.

– Se não quiser eu tomo tudo. - Ela disse descontraída.

– Queria conversar com as meninas hoje, mas elas chegaram caindo pelas paredes, e aparentemente estão em coma desde a manhã.

– Tudo bem, o mais importante agora vai ser a sua denúncia, contatamos todas as famílias que foram ameaçadas, a maioria está disposta a denunciar.

–Tá falando sério? Isso pode mesmo dar certo? – Perguntei olhando nos seus olhos, eles pareciam um pouco mais claros, ate então só tinha os visto sob luzes artificiais, mas ali, com o sol do fim de tarde o refletindo levemente, eu até conseguia me enxergar neles.

– Sim, temos cartas, prints, históricos de chamadas, tudo isso junto à ficha original da paciente, nós vamos conseguir Ana.

Nos olhamos sorrindo por alguns segundos, ela corou um pouco e bebeu a cerveja, passamos um tempo conversando sobre a burocracia que envolvia o processo, mas não durou muito tempo, antes que percebêssemos já falávamos sobre assuntos totalmente aleatórios, pulamos do primeiro para o sexto litrão em menos de uma hora.

– Talvez, e só talvez, eu esteja ficando bêbada.

Vitória disse com a voz arrastada e muito mais rouca que o normal.

– Parece que minha língua pesa um quilo, como você vai dirigir?

– Não vou, vem comigo.

Ela disse e deixou o dinheiro da conta na mesa.

Quase sem quererOn viuen les histories. Descobreix ara