Capítulo 2

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O hospital que fomos enviados era enorme e intensamente movimentado, assistimos a uma palestra com mais ou menos duas horas de duração, que falava sobre toda a política do hospital, e ao final, fomos apresentadas a um clínico geral, que nos designou a área de trabalho, no meu caso, a emergência. Não escolhíamos nossas áreas de primeira, o estagio era justamente para acharmos nossa especialização, a principio, pensei que detestaria lidar com toda aquela correria, mas de alguma forma tudo aquilo me acalmava, por em pratica tudo aquilo que aprendi, ajudar e ate salvar a vida de alguém, esses sentimentos me preenchiam de uma forma extraordinária. O Dr.Carlos Palocci era o meu supervisor e medico principal na enfermaria, ele recebia os casos mais graves e distribuía as tarefas para os internos.

Após uma semana de trabalho, eu já conhecia a maioria das enfermeiras e os outros médicos dali, tudo corria calmamente, a enfermaria da vida real era bem menos emocionante que as dos filmes, porem no dia 19 de junho, ás 15h da tarde, tudo mudou.

Um paciente deu entrada com uma dor abdominal muito forte, vi que era uma jovem de aproximadamente 18 anos, cabelos muito negros e olhos claros, uma enfermeira me chamou com urgência, e imediatamente chamei o supervisor. Seus gemidos de dor eram tão estridentes, que ate do ultimo andar daquele hospital poderia se ouvir.

Dr.Carlos chegou rapidamente, e o exame oral foi feito de imediato.

-Ana Clara, pegue a ficha da paciente e a encaminhe para o ultrassom, agende uma coleta de sangue e a leve para a sala vermelha.

Ele disse rapidamente enquanto tirava a pressão da garota.

-Esses são os três medicamentos que você ira aplicar daqui à uma hora, nessa ordem.

Olhei rapidamente para a receita, e para a paciente, Dr.Carlos saiu sem dizer mais nenhuma palavra, me deixando só com a garota.

-Então... -olhei rapidamente para a sua ficha. -Luísa, não precisa se assustar, esses exames são inofensivos e antes que você perceba já estará em casa.

Disse olhando-a solidariamente.

-Vou te encaminhar para a sala do ultrassom e nos vemos daqui uma hora.

Sai da sala, e dei de cara com os pais da paciente.

-Boa tarde! Sou a Dr.Ana Clara, e estarei cuidando dos exames e da medicação da sua filha. - olhei para as suas expressões ainda preocupadas.

-Eu sei que é um pouco confuso e até aterrorizante, mas a julgar pelo tempo das dores e o inchaço abdominal, é 68% de chance de ser apendicite.

-Ela vai precisar de cirurgia?- A mãe me olhou com desespero no olhar.

-Provavelmente sim, mas o procedimento é considerado o mais simples na área médica. - Falei e ela suspirou aliviada.

-Muito obrigada. - Ela disse por fim. Me retirei e fui tratar do encaminhamento dos exames.

Peguei novamente a receita que o Dr.Carlos me passou, e estranhei, haviam três medicações: um remédio pra dormir, um analgésico e um relaxante muscular intravenoso, são todos sedativos, a combinação periódica desses remédios era inofensiva, porém com o intervalo prescrito, poderia ser fatal.

Me dirigi a sala do supervisor com a cabeça cheia de dúvidas, será que aquele era um dos testes que os veteranos me falaram? Dei duas batidas na porta e ouvi um "entre", em baixo tom.

-Boa tarde, desculpa incomodar, já encaminhei os exames, porém algo me chamou atenção na medicação prescrita pelo senhor.

Disse e ele me olhou confuso.

-É que se me lembro bem, o intervalo do diazepam para o valium, é de 1h, e o intervalo prescrito é de 10 min. - Disse rapidamente com medo da sua reação, porém ele não estava nem me olhando mais, percebi que ele desviou o olhar para a mesa sem dar importância para meu questionamento.

-Não há nada de errado com a prescrição, por favor, não questione mais minhas atitudes médicas, tenho trinta e dois anos de carreira. -ele disse seco e direto.

-Mas é que... - tentei dizer, mas fui interrompida.

-Se retire da minha sala, por favor, e limite-se a fazer o que lhe foi designado, tenho muito trabalho para fazer e realmente não posso lidar com estagiários ignorantes.

Sai da sala o mais rápido que pude com o sangue fervendo de raiva, a pesar disso, provavelmente ele tinha razão, eu era apenas uma interna, questionar ordem de um médico renomado e com mais de trinta anos de carreira foi um erro.

Fui até a paciente e apliquei a medicação como o prescrito, me retirei da sala rapidamente, indo para o refeitório do hospital, era noite de plantão e eu já estava exausta.

Enquanto jantava, ouvi um chamado urgente para a sala vermelha, era onde minha paciente estava. 

Quase sem quererWhere stories live. Discover now