[ D E T A L H E S]
Ana
A manhã daquela segunda foi tensa, logo iria por o novo plano em prática e aquilo me aterrorizava. Vitória e eu tivemos uma ideia que a princípio me pareceu loucura, e de fato era! Mas estar com ela me dava tanta segurança, que não havia espaço para nem se quer um resquício de dúvidas.
Me sentia observada a cada passo dentro daquele hospital, e assim que entrei na sala de suprimentos, ouvi a porta abrindo com cuidado, era ele, era a minha chance. Virei meu corpo lentamente olhando aquele rosto cínico, seu sorriso debochado me enojava, ele se aproximou de mim e tocou meus ombros:
— Você acha mesmo que vai conseguir provar sua inocência? - Ele disse enquanto acariciava minha nuca, meu corpo exalava repulsa, mas me mantive imóvel. — Tem ideia de quantos inquéritos eu já fechei ao longo desses anos? Nunca deu em nada, e não vai ser você que vai mudar isso, não tente bancar a heroína, só vai piorar sua situação.
— E o que você pretende fazer? Me matar? - Perguntei em um tom irônico tentando parecer firme.
— Te matar? - Uma risada absurdamente debochada preencheu o local. — Não, não, posso fazer bem melhor, tem falado com sua família? É sempre bom, nunca se sabe quando uma tragédia pode acontecer não é mesmo?
— O que você quer dizer com isso? - Insisti.
— Não se faça de idiota! - Ele apertou meu braço brutalmente. — Um passo em falso e eu acabo o ninho de baratas que você chama de família.
Respirei fundo para tentar manter a calma, já tinha o que precisava, não tinha por que temer nenhuma daquelas ameaças. Sai da sala sem dizer mais nenhuma palavra, liguei para Vitória assim que alcancei a parte externa do hospital.
— Consegui algo, mas não sei por quanto tempo vou suportar fazer isso.
— São só dez dias até o julgamento, Ana. Passa aqui depois do expediente, vou trabalhar até mais tarde sozinha, a chave do escritório vai ficar comigo.
— Tudo bem.
Conversei com meus advogados brevemente por telefone, eles não podiam nem desconfiar do que estávamos fazendo, o RH da universidade muito menos, e o pior, se o Dr.Carlos sequer desconfiasse, tudo iria por água abaixo e as consequências duplicariam.
Entrei no escritório rapidamente temendo ser notada pelas câmeras, a porta da sala principal estava aberta, e logo avistei Vitória sentada em uma poltrona, sua concentração nos papéis a sua frente fez com que ela não me notasse, seu cabelo estava preso em um coque alto, ela usava um óculos que a deixava extremamente sexy, detive meus pensamentos e dei algumas batidas na porta a fim de chamar sua atenção.
— Que susto porra! A quanto tempo está ai? - Ela disse com a mão no peito, sua voz ainda estava tremula pelo susto, o que me fez rir.
— Acabei de chegar.
— Trouxe o material?
— Sim. - Tirei com cuidado a pequena escuta da bolsa. — Ele fica mais desequilibrado a cada dia que passa.
— Ele tocou em você? Ana, se você quiser a gente para por aqui.
O tom preocupado de sua voz fez meu coração se aquecer.
— Não, eu quero isso tanto quanto quero você.
Um sorriso largo brotou dos seus lábios, ela tocou minhas mãos e as acariciou, seu rosto estava vermelho, mas ela não o escondeu e continuou a me observar, nenhuma palavra foi dita, Vitória não era o tipo que verbalizava sobre o que sentia, ela demonstrava com atitudes, e aquilo me bastava.