Capítulo 15

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Marina

A manhã de sábado havia passado mais rápido do que o normal, o restante do dia demorou uma eternidade. Minha mãe chegou em casa animada (como frequentemente acontecia nos últimos tempos) e resolvemos ir ao cinema. Nesses últimos anos que voltamos pra cá, onde praticamente o papai morreu, serviu para que pudéssemos superar a perda e seguir em frente, mas ainda convivíamos com uma dor profunda. Estávamos entrando no estacionamento do shopping quando meu celular apita. É uma mensagem, sei disso pelo som. Vejo o nome de Arthur na tela e meu coração dispara. 

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda... " 

Ele acabou de citar a Clarice Lispector? Ela sempre foi uma das minhas escritoras favoritas. Não digo isso porque todo mundo diz. Mas sim porque é verdade. Parece que ela sempre tem algo a dizer sobre alguma coisa e eu simplesmente amo isso. Eu sempre fui apaixonada pelos livros (embora sejam loucos) dela. Será que o Arthur sabia disso? Não! Lógico que não... Eu estava surpresa que o meu professor gostasse de literatura. Ele era realmente uma caixinha de surpresas. Respondo concluindo o a frase que ele acabou de mandar.  

"...Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." 

- Quem é o rapaz? - minha mãe pergunta enquanto saíamos do carro. 

- O quê? - tento desconversar - Ninguém, mamãe. - dou de ombros tentando convencê-la.

- Eu sou sua mãe Marina, eu te conheço... E você sabe que eu sempre te apoiaria - assinto concordado, pois eu realmente sabia. 

- Eu conheci alguém, mas por enquanto é só isso. - admito esperando que não hajam mais perguntas. 

- Eu sabia! - ela riu. - Agora me diz quem é. Eu conheço? Ele estuda? É da sua escola? - Droga... Como eu posso mentir pra minha mãe? Eu sou uma péssima mentirosa, qualquer um sabe disso e principalmente a dona Cris que me deu a vida e que cuidou de mim durante ela toda. 

- Mãe, sem interrogatório por enquanto, por favor - peço - A gente só tá se conhecendo, eu não quero que a senhora se precipite achando que vou me casar com algum namorado que eu arrumar - ela ri divertida com meu comentário.

- Mas se minha filha tá apaixonada eu tenho o direito de saber! - Fala escondendo um riso - Mas se ela quer ver no que dá primeiro pra depois me contar, então acho que não me resta muito o que fazer a não ser esperar e ser corroída pela curiosidade - me abraça de lado, caminhando comigo. Dessa vez eu que rio do seu comentário. - Eu só quero que você tenha cuidado, meu amor. O amor é algo lindo e quando ambas as partes sentem verdadeiramente é mais lindo ainda, mas quando não há reciprocidade só nos machuca. - aconselha e eu escuto com atenção.

- Obrigada, mamãe. - agradeço pelo seu conselho e abraço - Eu vou no banheiro e a senhora vai comprando os ingressos, pode ser? Nos encontramos na entrada - falo e me afasto dela, que ainda sorria para mim. 

- Ainda vamos conversar mais sobre isso, mocinha. - ouço sua voz enquanto caminhava, viro o rosto e sorrio pra ela enquanto me distancio em direção ao banheiro.

Estava passando pela praça de alimentação quando vejo o Arthur com uma ruiva em uma mesa. Eu a conhecia. Era a mesma com quem ele conversava no jantar que o seu pai deu. Ela olhava pra ele com um olhar apaixonado, agarrada em seu braço, como se aquilo fosse comum para os dois. Senti uma raiva misturada com angústia me sufocar. Queria gritar e colocá-la para fora. Decidi mandar uma nova mensagem para Arthur. Queria ver se ele realmente era perfeito como eu imaginava há menos de dez minutos atrás. 

Ensina-me, professorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora