43. Entre Deus e o Diabo

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Depois de muito tentar, Sol conseguiu convencer Señor Kai de que podia ela mesma levar o café da manhã de sua Señorita. Estava fazendo o inevitável: mantendo os dois o mais longe do outro possível, porque sabia que aquela trégua não duraria para sempre. Em algum momento, os dois teriam de se confrontar. E aquilo seria como o encontro de Deus e Satã na Terra.
Parou em frente à porta da enorme suíte do casal, que agora era o território de Bonnie. Ela não saiu do quarto em todos esses dias, nem mesmo para falar com Sol. Mesmo que ela ajeitasse a mesa, esperando que sentisse o cheiro da comida e descesse, quase sempre eram ela e o jovem vampiro comendo silenciosamente na cozinha (coisa que Soledad insistia em não fazer, porquê sua educação de governanta não permitia esse tipo de liberdade com os patrões, mas el Señor não queria saber de formalidades). Todas as refeições, eram feitas dentro de seu quarto e ela quase não comia. Estava pior que antes.
Bateu na porta de leve.
- Señorita?
Ninguém respondeu como sempre.
Sol não se humilhou batendo mais uma vez. Equilibrando uma bandeja com uma das mãos, usou a outra para girar a maçaneta. Ao contrário do que teria imaginado, as janelas estavam abertas, fazendo o brilho inundar toda a suíte. As cobertas não estavam mais espalhadas pelo colchão e o chão. Estavam perfeitamente assentadas sobre os lençóis de seda negra. E os cacos de vidro de objetos quebrados haviam desaparecido.
- Señorita?
A Mulher ouviu o som de água corrente vindo da porta entreaberta do banheiro. O barulho cessou quase que de imediato. Então, ela saiu do banho, usando um roupão felpudo e preto. Os cabelos estavam pingando sobre os ombros. Tudo nela estava diferente, renovado. Muito diferente da figura chorosa entre os lençóis em um quarto escuro que Soledad viu durante os quatro dias anteriores.
- Bom dia, Sol- deu um sorriso mínimo e secreto.
- Buenos días, Señorita- sorriu para ela.
Não conseguiu descrever o tamanho de seu contentamento ao vê-la daquela forma. A pior fase havia passado, e por um segundo imaginou que tudo pudesse ser como antes de novo. Os dias calmos antes da morte daquele güero, Renly.
- Trouxe seu café de la mañana- apresentou a bandeja repleta de pães, frutas, queijos, suco e café para ela.
- Obrigada- foi até a mulher.
Sol teve esperanças de que ela estivesse com mais fome hoje. Isso morreu quando a viu pegar uma simples xícara de café e sentar-se na poltrona em frente à janela.
- Hmm- fez ao sentir o gosto do café- Muito bom.
- Tiene certeza de que no quer comer mais nada, Señorita?-questionou, reprovando sua falta de apetite.
- Meu estômago está doendo um pouco- confessou, esfregando a mão gentilmente sobre a barriga reta.
- Ainda?- ela já estava se sentindo assim desde a morte daquele homem.
- Deve ser algo bobo, logo vai passar- assegurou.
Ela deu mais um gole na bebida quente.
- Como está o nosso garoto hoje?- perguntou.
A governanta franziu o cenho.
Tinha algo muito errado no ar. Ela estava calma. Calma demais. E podia não conhecer sua jovem Señorita à muito tempo, mas sabia que aquela não era sua reação cotidiana à dor.
Hesitante, respondeu:
- Muy preocupado com la Señorita.
Seus olhos verdes faíscaram como duas lâmpadas.
- É mesmo?- sua voz transmitia uma diversão frígida.
- - assentiu.
Ela arqueou uma sobrancelha.
- Tem algo para mim, Sol?- seus olhos foram direto para o bolso na frente do vestido de Soledad. Como ela sabia que estava ali?
Como que adivinhando os pensamentos da mulher, disse em seguida:
- Eu escutei vocês falando sobre o assunto.
Como ela podia ter escutado aquilo do segundo andar e de uma distância tão grande?
Sol puxou o envelope trabalhado de dentro do bolso e o entregou à ela.
- Me deixe adivinhar?- sorriu maldosamente- Kai quer que eu vá com ele?
- Sí. El Señor Kai está muy arrependido do que se pasó.
Sua expressão se fechou.
- Não o defenda, Sol. Sei que ele não se arrepende de nada- suspirou, sacudindo a carta entre os dedos- No entanto, eu gostaria muito de poder ir à alguma festa para variar.
Sol arregalou os olhos.
- Usted vai à la fiesta?- nem percebeu quando estava falando em espanhol de novo e teve reformular a pergunta.
Ela deu de ombros.
- Ué, o que vou perder com isso, não?
Em qualquer ocasião, Sol ficaria feliz por ela, mas agora, estava estranhamente temerosa.
- Espero que se divirta- ela sorriu francamente.
Seus olhos cerraram em fendas e um sorriso como o de um gato surgiu em seus lábios.
- Eu também, Sol.

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Nota da Autora:

Oi meus amores,

Senti saudade de vocês. Sinto muito pela demora com esse capítulo e os restantes. É que eu ainda estava em dúvida sobre postar ou não um que tivesse o ponto de vista da Sol. Reescrevi isso muitas vezes, até em 1° Pessoa, mas não achei que ficou tão bom, então preferi me arriscar na zona desconhecida da 3°, que não é muito a minha praia. E agradeço totalmente a alguns leitores que pediram esse ponto de vista, já que eu estava totalmente perdida sobre o quê escrever. Como deu pra ver, Soledad é uma baita mãezona dedicada, tanto pro Kai (que não merece 😌), como pra Bonnie. E o que acharam do dia-a-dia de LM no ponto de vista da pessoa mais fofinha dessa fic? Espero que tenham gostado. Se sim, comentem. Se não, comenta, também! A opinião de vocês é muito importante.

Beijinhos xxx. Até o próximo 😘😋










LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now