Nove Vidas - (COMPLETO)

AFTER DEATH

Quando Lutzhöge acordou, o ano era 2034. Ele já sequer se lembrava da voz de Izabelle, depois de décadas ouvindo outras vozes em seu subconsciente. Ele se lembrava de seus semelhantes...

Mas a anjo desaparecera de seu espírito.

Muitas mudanças aconteceram naquelas décadas e depois de oito anos acordado, em 2042, o plano foi posto em prática.

O plano de sete demônios.

Os sete demônios rebeldes que planejavam tomar o inferno das mãos do pai de Zankiel.

Das mãos do próprio Samael.

De Lúcifer, o Anjo Caído.

O Destruidor Profano.

30/12/2049

― Feliz aniversário, querida...

Ele não passava de um velho sem muito a dizer, de fato. Estava apodrecido pela doença da tristeza. Invisíveis, os sete demônios observavam o senhor debruçado no túmulo.

Com quase sessenta anos, Alexsander tinha se tornado um homem silencioso e que não costumava falar com ninguém além dos filhos.

No fim, ele acabou afastando todos, cada um deles, um por um. Não queria contato. Não queria conversa.

Ele não queria nada.

Alexsander passou aqueles doze anos aguardando ansiosamente. E os sete demônios passaram igualmente ansiosos, observando de longe. Não poderiam interferir, seja lá qual fosse o fim daquele destino à qual, incrivelmente, haviam conseguido para Alex. Mas eles também sabiam que quando Alexsander voltasse para baixo, ele ficaria ao lado de Nöradath e de Zankiel, os dois principais responsáveis pela rebelião que vinha sendo milimetricamente planejada. Não haviam brechas para qualquer erro.

Ele viu a velhice chegar e os dias passarem e as noites correrem e as dores nos ossos chegarem.

Tudo veio.

Menos a morte.

Sentado ao lado do túmulo coberto de neve e também por flores que nunca deixava secar, o ruivo de cabelos ferrugem levemente esbranquiçados respirou profundamente.

― Nossos filhos já têm dezoito anos... ― Sussurrou e Nöradath encarou Helina em silêncio, observando o velho amigo falar com o túmulo de sua falecida amada. ― Amélia me contou que está pensando em casar com o namorado... Mas os irmãos não estão gostando da ideia...

Uma pausa foi dada já que precisou respirar de novo. Falava com Awa todos os dias. Ele tinha passado as tardes dos últimos doze anos ali... Sentado ao lado daquele túmulo.

― Mas Luka já está indo muito bem na loja... E Amélia passou de primeira em engenharia... Sem falar em Charlie, que vai para a marinha...

Os olhos azuis cansados caíram para a placa de mármore.

― Awa... ― Com a mão trêmula, Alexsander alcançou o nome da esposa em baixo relevo e passou os dedos por ele enquanto os dedos de Kamelya se entrelaçavam aos de Zankiel. Todos eles sabiam onde estava Awa naquele exato momento. ― Eu sei que você não está mais aqui... Mas eu sei que está me escutando... ― E então ele olhou para o céu azul, os tons alaranjados do fim de tarde se espargiam pelas poucas nuvens.

― Por isso, me diga... Nossos filhos já estão criados... Encaminhados para o futuro... E eu esperei o máximo que pude... ― Os orbes azuis arderam e ele respirou de novo, profundamente, alcançando a adaga que antes repousava sobre a grama congelada e empunhando a ponta afiada sobre o peito.

― Acho que já posso ir... Não acha...?

Quando a lâmina perfurou a pele, alargou o corte e fincou-se na carne, atravessando os músculos e raspando entre as costelas para atingir o coração, os olhos de Kamelya e de Helina estavam ardendo.

Em silêncio absoluto, observaram Alexsander tombar para o lado e virar até colar as costas na grama onde, há sete palmos, os ossos de Awa repousavam.

― Nos encontraremos... De novo... Eu... ― Mas o ar não foi o bastante.

"Eu te amo"

Eram as últimas palavras que Alexsander mais queria ter completado na vida.

― Agora podemos começar. ― Foi o que Nöradath disse antes de desaparecer com Helina, e foram seguidos pelos outros, deixando apenas um cadáver ainda quente repousando sobre a grama no pôr-do-sol.

FIM

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Pacto II