Capítulo 13

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Depois de uma hora inteira parado do lado de fora do quarto sem ouvir qualquer movimentação, resolveu entrar.

Zankiel deu de cara com a figura franzina dormindo encolhida em um dos lados da cama de casal e deixou um suspiro cansado escapar.

Faltavam cinco horas para amanhecer..., logo teriam que dar o fora dali. Pensava em falar sobre "diferentes maneiras" de se chegar à Nova York, mas preferiu deixar para outra hora quando encarou a feição adormecida.

Uma expressão doce e calma.

Deu por si arrancando os sapatos enquanto fechava a porta e andou até a cama. O coração tinha caído em descompasso assim que botou os olhos nela e ele já sequer tentava refrear a sensação arrebatadora que o acometia cada vez que se lembrava do calor da boca aveludada.

Sentou na cama e encarou as costas pequenas. Tinha passado sete anos inteiros para descobrir a importância de uma presença, além do poder da alma? Sete anos para descobrir que cada timbre, cada olhar, cada sinal tinha um valor diferente. Ela era uma menina de muitas, muitas facetas. Suas inúmeras maneiras de dizer ou querer saber alguma coisa às vezes o perturbava, mas ele sabia que Kamelya ainda era jovem. Que ela cresceria e se tornaria forte... Só não sabia se isso ia acontecer nessa vida... Ou na morte.

Deitou ao lado dela, fitando fixamente o forro de madeira mofado acima da cabeça.

Estaria comprando uma briga com o diabo se dissesse que seguiria Kamelya até o céu se fosse necessário. Ele nunca a deixaria sozinha. Nunca permitiria que ela sofresse. A cada segundo preso em Ourak era um segundo a menos de controle que nutria por aqueles sentimentos enormes e famintos que devoravam, sem parar, seu coração pelas beiradas.

Tinha que falar com Nöradath, achar ele e dizer que pela primeira vez em suas longas vidas precisava de um favor.

Sabia que não teria seu pedido recusado, sabia que em Nova York conseguiria todas as respostas que precisava já que era lá que ficava a maior concentração de demônios do mundo.

Zankiel tirou os olhos do teto escuro para virar o rosto e encarar as costas franzinas.

Kamelya era muito poderosa, mas ao mesmo tempo, frágil. A maturidade ainda não havia desabrochado completamente na garota e ele sabia que aquilo significa paciência.

Significava perseverança e sabedoria para conseguir lidar com uma mente tão complicada.

Virou-se de lado apenas para perceber que o nariz estava à centímetros dos cabelos negros. Foi uma respiração profunda que o levou a erguer o braço e enlaçar a morena, trazendo-a para mais perto.

Kamelya não acordou.

Ela estava cansada e dormindo em sono profundo, mas foi instintivo aconchegar-se melhor àquele súbito cobertor de calor que a levava para níveis ainda mais profundos em seus sonhos.

Foi só respirar ali para sentir as pálpebras pesadas. Zankiel afundou o nariz nos cabelos femininos sendo nocauteado pelo sonífero aroma de camomila e fechou os olhos, notando a mão dela inconscientemente percorrendo seu antebraço.

― Boa noite, ratinha... ― E assim, ele dormiu também. Um sono tão bom, profundo e prazeroso como não tinha há anos.

Zankiel dormiu como uma criança dentro daquele pequeno quarto de motel isolado perto de Chama.

Nove Vidas - (COMPLETO)Место, где живут истории. Откройте их для себя