Capítulo 12

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Tinha uma música meio country tocando no bar e ele já estava ali há pelo menos uma hora. Revezando doses de uísque com doses de conhaque enquanto percorria, incessante e lentamente, os olhos por todo aquele cenário estranho. Eram cerca de trinta pessoas e podia dizer com certeza que cada uma delas era completamente diferente da outra. Mulheres de cinquenta anos bêbadas e empurrando marmanjos fétidos contra a mesa de sinuca.

Velhos amargurados e doidos esbravejando sobre Nashville.

Suspirou, entornando sua dose e já nem conseguia mais distinguir qual era conhaque e qual era uísque. Tinha dito à ela que lhe deixaria pensar, mas cada segundo dentro daquele lugar parecia dizer que Kamelya já tinha pensado.

Precisava se preparar para chegar à um quarto de motel vazio, por mais que aquela hipótese por si só já causasse nele um tipo bizarro de arritmia.

Zankiel estava se perguntando o que diabos acontecia dentro de si mesmo, à ponto de torná-lo um ser tão fraco...

Tão fraco e tão propenso a tomar atitudes levando a vida dela em consideração. Se Kamelya morresse, ela poderia escolher. Mas não queria que chegasse a esse extremo... Tudo que Ourak precisava fazer era matar um anjo...

E então seria como ele.

O tempo todo buscando liberdade, o tempo todo dentro do jogo de um demônio. Com o passar das doses e dos minutos no relógio de punho, começava a se preocupar com a demora.

Será que ela tinha simplesmente ido embora? Será que estaria no quarto quando voltasse? Será que era a hora de voltar? A hora de enfrentar o fato de que as coisas nem sempre iam de acordo com seus desejos, e de certo modo, Zankiel sabia disso. Se fosse qualquer outra pessoa... Qualquer outra...

Ele simplesmente não daria a mínima.

O gesto para o homem barbudo do outro lado do balcão foi o bastante para ter seu copo cheio mais uma vez. Já sequer se dava ao trabalho de escolher.

― Uma bebida humana para um sentimento mundano... ― O sussurro não passou de um timbre baixo e rouco antes de engolir o liquido ardente. O conhaque passou pela garganta quase como água, mas quando voltou o copo na bancada, Zankiel viu Kamelya sentada bem ao seu lado, olhando para uma mancha circular na madeira do balcão.

O coração deu um salto dentro do peito e começou a correr.

― Eu ouvi o que disse. ― Ela avisou, dando de ombros. ― Sentimento mundano?

― Vamos começar com isso tudo de novo...? Pensei que já estivesse bem longe daqui. ― Um novo aceno e seu copo ficou cheio de novo. Zankiel não esperou para beber tudo. A visão começava a ficar embaralhada, mas ele não dava a mínima.

― Você quer que eu vá? Eu pensei que-

― Não se baseie por mim. Não quero que me culpe por ter ficado, depois. ― A mão grande chamou o barbudo que trouxe a garrafa, impaciente, e a deixou ali.

Diante do silêncio, serviu a si mesmo mais uma dose.

― Eu não vou culpar. ― A voz de Kamelya veio serena e calma, tão próxima que levantou cada pelo no corpo masculino.

― O que... O que está querendo dizer com isso? ― Virando-se completamente para ela no banco giratório, Zankiel só não ficou de pé porque estava bêbado demais pra isso.

Nove Vidas - (COMPLETO)Where stories live. Discover now