Capítulo 7

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A semana tinha corrido rápido, mas os pensamentos de Zankiel Häz pareciam prestes à chegar em um limite inimaginável de indagações.

Ainda não tinha sequer amanhecido quando se levantou, como sempre, e antes do banho, um treino pesado de uma hora que acabava quase no mesmo horário em que o sol nascia.

Os músculos ainda quentes quando entrou debaixo da água. Lavou o corpo rapidamente, desligando o chuveiro e vestindo a habitual farda, Zankiel colocou o capacete, checou suas armas, e saiu do dormitório para assumir algumas horas de aula dada a Kamelya.

Kamelya.

A pessoa que em suma, era responsável por todos os problemas e preocupações rondando sua mente agora.

Desde a morte de seus pais, a menina tinha se silenciado por completo. Apesar de comparecer às aulas, Kamelya só ia para dissipar a raiva.

A culpa.

E Zankiel, mais do que qualquer um, sabia disso.

― Bom dia.

O homem virou-se para a voz feminina sem entender de certo como ela o havia reconhecido já que fardado e de capacete, aquilo era uma tarefa quase impossível.

― Como sabia que era eu?

― Não existem muitos soldados de dois metros nessa base. ― Kamelya mentiu a resposta com um semblante frio e descarado, olhando fixamente através da lente fumê que cobria o rosto masculino.

― Vou deixar ela com você. ― E o até agora silencioso soldado que escoltava Kamelya se afastou com um aceno breve, voltando à sua ronda.

― Parece que somos só nós agora. ― Ela tomou a frente com firmeza, fazendo seu caminho curto em direção à sala de treinamento.

Zankiel ainda levou um segundo para continuar andando. De repente...,

"Ela parece absurdamente mais forte" ― Foi o pensamento do homem de cabelos longos que logo alcançou a garota e ambos caminharam em silencio, lado a lado, até a sala.

Kamelya estava segurando um sorriso.

Enquanto todas as mentes eram gritos e pedidos e apelos, a mente de Zankiel era um campo vasto e limpo de infinitas vozes nítidas.

Sem precisar perguntar nada, Ourak já sabia absolutamente tudo sobre ele.

― Eu estive pensando. ― Sussurrou, assim que Zankiel fechou a porta e um calafrio percorreu a espinha do homem alto, que levantou as mãos até o capacete e o tirou.

― No que...?

― Que agora... Eu sou forte o suficiente. ― Virou-se para os olhos verdes que se revelavam, cravados aos seus seriamente. ― Você vai ficar aqui?

― O que...? ― Foi como um choque assolando o corpo, dos pés à cabeça, e os dentes trincaram em excitação.

― Você é a única ligação que ainda me mantém aqui. ― Dizer aquilo em voz alta significava que Kamelya não estava disposta a levar mais choques. O simples fato atingindo-o fez Zankiel dar um passo em direção à ela.

― Kamelya... Fale de uma vez... ― Quase não foi capaz de manter a compostura. Por um momento, Zankiel quase pisou além da linha tênue que o separava de um ser humano. O lado que decidira não relevar à Kamelya.

O único e sobressalente lado que não era uma mentira.

― Eu vou partir hoje. ― Estancou, bem ali. Petrificado. Os punhos cerrando enquanto um sorriso que beirava a dissimulação se desenhava nos lábios bem traçados. ― Minha pergunta é se vai comigo ou vai ficar aqui.

Nove Vidas - (COMPLETO)Where stories live. Discover now