Capítulo 3

103 22 0
                                    


― Como se sente?

Pela primeira vez, sentados após uma cansativa manhã de exercícios.

O tempo tinha passado naturalmente rápido.

Revezando-se entre aulas ultrassecretas e policiamento em uma base também ultrassecreta, Zankiel viu Kamelya passar de criança obediente para uma pré-adolescente extremamente rebelde.

Ou talvez a palavra fosse "desequilibrada".

As diversas maneiras que Hudrick tinha de pedir uma mesma coisa era absurdamente irritante e não importava quantas vezes ele dissesse não, o cientista não parecia disposto a desistir.

― Não sei... Igual? ― Ela o encarou.

― Não pode se sentir igual. ― E continuou observando, mesmo quando Zankiel ficou de pé, esticando os braços e colocando a espada no apoio, andou até a bancada para pegar seu capacete.

― Mas eu me sinto. ― Ficou de pé também, observando que, não importava quantos anos passassem, ele sempre seria absurdamente mais alto que ela.

― Agora você tem quinze anos. E não chama mais Hudrick de tio. Isso deve significar algum progresso... ― O capacete foi devidamente abotoado na farda enquanto se virava para encará-la novamente.

― Eu parei de chamá-lo de tio Hudrick há duzentos e vinte e oito dias.

A resposta, por si só, fez o passo de Zankiel simplesmente parar. Ficou um pouco petrificado, encarando a menina e pensando que ela o encarava quase como se fosse capaz de enxergar através do capacete que ele usava.

― Parece que foi ontem. ― Uma zombaria tão fria que ambos continuaram se encarando em completo silêncio por mais dois segundos inteiros até que o homem simplesmente começasse a andar, dando as costas à garota que o encarava seriamente.

― Está insinuando que ainda sou criança?

― Minha pergunta inicial era se você sentia alguma mudança, Kamelya. ― Zankiel abriu a porta e ainda que tivesse parado seus passos novamente, dessa vez não se virou, não para encontrar aquele par incendiário de olhos dourados. ― Preciso ir trabalhar agora. Feliz aniversário.

― Obrigada, Zankiel... ― Seca como um deserto, e ele percebeu.

Ás vezes, eles trocavam farpas.

Às vezes destilavam agulhadas e ofensas.

Mas Kamelya nunca usou o poder inigualável que tinha para feri-lo e Zankiel... Ele nunca sequer tinha tocado a garota, embora estivesse sempre e cada vez mais tentando não perder nas lutas que travavam durante os treinos.

Ultimamente, o "às vezes" vinha se tornando algo constante.

O Experimento Lilith estava entrando na adolescência e ficar presa naquele lugar por tanto tempo não era saudável nem para uma máquina de guerra perfeita como Kamelya.

Andando pelo longo corredor completamente branco Zankiel foi interceptado por um sério Hudrick, que começou a caminhar ao seu lado, seguindo o ritmo de seus passos.

― Chegou a hora. ― Ali, Zankiel parou, retirando o capacete, o homem encarou o cientista com absoluta frieza.

― Eu não quero fazer parte disso, se for permitido.

― Nenhum de vocês vai, não se preocupe. Os escolhidos para esta tarefa são pessoas destinadas.

― Destinadas...? ― Ele se perguntava se Hudrick realmente sabia do que estava falando.

Nove Vidas - (COMPLETO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat