Capítulo Cinco: Em Frente

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- Alexander - a voz de sua mãe o resgatou da confusão em que sua mente se encontrava - Você está bem, querido? O ganso não está do jeito que você gosta?
Os olhos de Alexander tomaram foco outra vez, fitando o prato quase intocado, algumas ervilhas, e um filé de ganso, que ele naturalmente gostava, mas que naquela noite não conseguia nem olhar. Do outro lado, da mesa de jantar, sob a luz de candelabros, ele viu seu pai, cortando pedaços de ganso e encarando furtivamente, enquanto as crianças, ao seu lado, não eram tão discretas.
- Você tá com uma cara ruim, Alex - disse sua irmãzinha, antes de colocar uma garfada de ervilhas na boca
O menino ao lado dele, o encarou e depois desviou os olhos.
Alexander encontrou o rosto preocupado da mãe.
- Eu estou bem - disse ele, hesitante
A mãe lhe devolveu um sorriso brilhante, que a mente de Alexander distorceu, formando um outro rosto desconhecido e ainda familiar, com cabelos escuros, pele palida e vestido preto, estendendo sua mão para ele.
Eu sou um anjo, a dama de preto disse em sua direção, eu cai por você.
Você não é real, ele escutou o eco distante de sua voz, insistindo
Então prove a si mesmo, rebateu a dama
- Alexander! - gritou uma voz urgente, fora de sua mente. Quando voltou a si, estava encarando sua mãe boquiaberta de olhos arregalados e suando frio, ofegante. Todos pararam de comer, encarando o.
- Irei ligar para o doutor - anunciou o pai, ameaçando se levantar
- Não! - Alexander quase gritou impedindo o - Desculpe - ele se corrigiu - Desculpe, mas eu estou bem. Só... um pouco nervoso. Mas não há motivo para chamar o doutor.
- Alexander - começou sua mãe, cautelosa - Há algo que você queira nos contar?
Alexander manteve seus olhos abertos para a realidade, afugentando as sombras de um mundo doente de anjos Caídos e magia, que ameaçava afoga lo. E naquele momento, encarando nos olhos de seus pais e irmãos mais novos, Alexander soube que precisava ir.
- Na verdade há sim - respondeu ele, reunindo o máximo de confiança dentro de si - Eu estou atingindo meus 17 anos no próximo mês e... eu decidi que quero servir o nosso país, como um soldado.
A pior parte foi o silêncio mortal que se seguiu o momento que levou para que a notícia fosse assimilada, o breve silencio de uma bomba prestes a explodir, e quando isso aconteceu, Alexander teve que lidar com os questionamentos e a incredulidade.
- Você não tem idade o suficiente! - começou seu pai
- Eu iria conseguir mesmo assim, não há muitos homens em nossas forças - lembrou ele, de alguma matéria no jornal
- Você não pode servir a isso! E a sua família? - insistiu sua mãe - E as crianças?
- Vocês vão ficar bem. As crianças não precisam de mim - disse ele levantando seu olhar dolorido aos irmãos
- Eu preciso de você, Alex - disse sua irmãzinha com os olhos molhados
- Não vai, Alex - disse seu irmão - Se você for não vou ter ninguém pra brincar...
Isso quase levou Alexander a chorar e rir ao mesmo tempo.
- Vocês sempre terão um ao outro.
- Mas não é a mesma coisa sem você - insistiu sua irmã começando a chorar
- Já chega, subam para suas camas - anunciou a mãe
Eles recusaram, mas como uma autoridade maior, foram obrigados a ceder, com choramingos.
- Não vá embora, enquanto eu durmo - Alertou sua irmã
- Não irei - Alexander respondeu - Prometo.
Ela apenas balançou a cabeça antes de sumir andar acima.
- Não pode fazer isso - repetiu sua mãe
- Na verdade, eu posso.
- Isso não está certo, você não tem que fazer isso - retrucou ela
- Mãe - argumentou Alexander, com a mente fixa na figura da dama de preto estendendo lhe a mão - Eu quero - insistiu ele contendo um arrepio - Eu preciso ir. E vocês não podem mais me impedir quanto a isso - disse ele querendo desaparecer - Vocês irão cuidar um dos outros e eu irei cuidar de mim mesmo - anunciou na direção do pai, afastando se deles
- Alexander, nem pense... - brandiu ele
Mas os passos pesados de Alexander abafaram suas palavras, e no último segundo o estrondo de uma porta se fechando, devia ter sido ouvido por todo o quarteirão.
Em seus sonhos mais sombrios, não haviam ossos, mortes, ou qualquer dor. Não havia nada, exceto ela, a anjo caída que chorava, na floresta. Estava curvada, de joelhos no centro da clareira, mas sabia que estava chorando pelo modo como seu corpo tremia. Atrás de si, asas negras se estendiam ocupando quase todo o lugar.
- Por que você não pode acreditar em mim, Alexander - dizia a voz chorosa da anjo - Por que não pode confiar em mim...
Alexander queria dizer algo. Queria dizer qualquer coisa para fazê lá parar de chorar, algo de que tinha pânico, mulheres chorando, sejam humanas ou... ou anjos. Alexander estendeu a mão, para ela, mas ao único toque, de suas asas contra a ponta de seus dedos, a anjo se desfez em uma pilha de cinzas, com um grito surpreso que fez com que ele sentisse dor.
Acordando subitamente, além de suar frio, Alexander teve que chacoalhar sua cabeça, para espantar a dor que ainda sentia. Com hesitação, ele colocou um dedo da entrada de seu ouvido. Quando o retirou outra vez, mesmo na penumbra do quarto, quase não se surpreendeu ao ver que a ponta de seu dedo voltara manchada de vermelho.

Anjos de Sangue: OrigensWhere stories live. Discover now