Capítulo Dois: Caçadora

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Quando Selene despertou, a primeira coisa que sentiu foi dor.
Essa sensação de pontas machucando seu corpo, a fez erguer sua cabeça rapidamente, e arfando em busca de ar puro. Aquele parecia um vale, que se estendia continuamente, com um pequeno vilarejo, muito abaixo, tão abaixo que isso assustou Selene. Seu corpo, estava ali, sob um penhasco. Não sua matéria corporea, de luz. Seu corpo. Com hesitação, ela tenciono sua mão rosada, sentindo os músculos se contraírem. Carne, ossos e sangue. Era disso que ela era feita agora. Assim como ele. Os dois agora eram iguais.
Selene levantou se num salto, e foi estranha a sensação de sentir a grama pontiagudo sob seus pés. Seu corpo estava coberto por um vestido negro, carbonizado, e em fiapos na bainha. Uma brisa soprou gélida, cortando o céu de fim de tarde. Ela sentia tudo agora. E não deixou que isso a apavorasse. Ela precisava saber onde realmente estava. Em que parte do extenso mundo mortal, seu Criador a havia abandonado.
Misericórdia, ecoou uma voz em sua mente, e Selene a chacoalhou expulsando a, e dando espaço a um plano. Seu único plano.
Mais determinada, do que apavorada, Selene pulou do penhasco, sem nem mesmo hesitar, o que enviou uma onde de adrenalina por seu corpo. Adrenalina ela quase riu em meio ao salto, antes de seus pés atingirem o chão e ela se equilibrar agilmente. Não teve tempo para explorar mais sensações. Correu até o vilarejo, e encontrou finalmente pessoas. Pessoas feitas de sangue e ossos como ela era agora. Alguns estavam em frente às suas casas, gritando pelos filhos para que entrasse pois já era tarde. Outros estavam cuidando de acessórios alheios. Engraxando sapatos, o nome lhe veio a mente. Algumas mães tinham filhos pequenos, e nenhum deles pareceu notar, Selene caminhando por entre a viela com um vestido carbonizado. Ninguém, exceto um dos homens, que pairavam sobre o menino engraxate pronto para recolher o dinheiro de seu trabalho. Ele a encarou boquiaberto, e não desviou o olhar quando Selene o encarou de volta.
Falar com ele, foi primeira idéia. Preciso perguntar onde estou.
Quando Selene se aproximou do homem, ninguém a percebeu exceto ele, ainda pasmo.
Selene abriu a boca e pediu por ajuda, mas o que recebeu como som foi uma nota aguda, o suficiente para que seu ouvidos latejassem. O homem tapou seus ouvidos de imediato recuando. Selene abriu a boca mais uma vez, agora para acalma lo, e a mesma nota transpassou seus lábios, atingindo todos naquela vila, homens, mulheres, e até o garoto engraxate tentavam se proteger do som. Os ouvidos de Selene doeram também, e isso a fez entrar em pânico. Seus joelhos cederam para o chão, e sua mão voou aos ouvidos, para protegê los, sua boca se abrindo, desta vez para gritar de dor. Os vidros se quebraram, o som abalou as estruturas das casas, enquanto o vislumbre captava o pânico na cidade. Selene não teve noção do tempo que permaneceu gritando. Poderiam ser segundos ou anos, mas a dor permanecia ali. Até que ela parou de gritar, abrupdamente. E aos poucos sua dor se foi. Ainda protegendo as laterais da cabeça, assustada com uma próxima onda, Selene abriu os olhos. E o que encontrou quase a fez gritar novamente. Haviam corpos inanimados em sua frente. O cliente do engraxate estava deitado em uma posição estranha, com algo vermelho escorrendo pelos ouvidos. Os homens ao redor do engraxate, tambem pareciam sem vida, incluindo o homem para quem ela pediu ajuda, os olhos abertos fitando o céu, e o mesmo líquido vermelho escapando dos ouvidos. Selene encontrou até mesmo a criança. O menino com expressão apavorada fitando o céu, os braços Caídos ao lado do corpo imóvel. Sua casa, atrás dele, parecia em frangalhos como se algo ainda ameaçasse fazê lá sucumbir.
Selene respirava bruscamente quando virou se para a vila e encontrou destruição suficiente para machucar seus olhos, gravando se em suas pálpebras para sempre. As casas de madeira desabaram, algumas criando chamas de fogo laranja. E pequena estrada da viela, haviam corpos para todo lado. Homens tombados pelos joelhos, olhares ainda em pânico. Algumas mulheres tinham as mãos travadas ao redor da cabeça dos filhos, tentando protege los inutilmente do som. Todos eles estavam vazios. Todos.
Selene tropeçou em seus própios pés, enquanto recuava um passo. Ela não poderia ter feito isso. Ela não faria isso. Ela nem mesmo havia tocado nele. Havia algo maior, ela tinha que saber. Algo maior que podia está lá caçando agora, matando todos em seu caminho. Seus pés recuaram novamente, e ela logo começou a correr, descalça, para longe da vila, para longe do local onde havia caído, para longe do caçador, que tentava deixa lá tão vazia quanto aquelas pessoas. Selene soube enquanto corria sem diminuir o passo, em direção ao horizonte vermelho. Seu Caçador era a propia Morte.

Vilarejo ao sul, é destruído por fonte desconhecida.

Todos os mortos, tinham características em comum, os tímpanos estourados por uma alta fonte de som, dizia a manchete no jornal

- Me digam que isso não foi causado por um de nós - disse Eleazar jogando o jornal sobre a mesa de centro naquela manhã
A senhora o tomou em suas mãos, lendo o.
- O som... - começou ela
- Seja quem for, deve estar confuso, e assustado - deduziu Eleazar contendo sua indignação diante da tragédia que poderia ser evitada, se tivessem lhe dado ouvidos antes - Usou sua voz celestial, por acidente e causou isso.
- E o que sugere que devemos fazer, Eleazar? - disse a mulher deixando o jornal sob a mesa
- Devemos procura lo. Ajuda lo. Impedi lo de continuar assim. Desorientado. Ou então esse vilarejo será apenas a mais inocente de toda a destruição que virá.
A mulher suspirou.
- Convoque os outros, formando uma equipe de busca. Vamos encontrar nosso anjo perdido. Você fique aqui e nos forneça informações sobre sua localização.
- Sim, senhora - Assentiu Eleazar antes de dar as contas para a  mulher com uma expressão satisfeita. Geralmente ninguem dava ouvidos aos integrantes mais jovens do Clã então receber atenção deveria ser uma espécie de honra. Independente de tudo, Eleazar gostava de estar certo, para variar.

Anjos de Sangue: OrigensWhere stories live. Discover now