Capítulo 38 - Atrás dela

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*
Oliver

Saio de casa e vou até o barco minutos depois de Heloise ter finalmente ido embora.

- Heloise. - Murmuro o nome dela enquanto pego o saco de peixes.

É estranho como seu nome me deixa confuso. É como se faltasse alguma associação ou lembrança, sinto que ao pronunciá-lo um vazio toma conta da minha mente e corpo.

Eu não deveria tê-la mandado embora sem antes insistir que ela me dissesse a verdade.

A cena que veio em minha mente quando estávamos nos beijando ainda continua fixa na minha cabeça, como uma memória perdida que recuperei.

Eu havia entrado no salão de baile da minha última memória ao lado de um senhor. Ele parecia já estar nos seus cinquenta anos. Seu rosto estava sério e rígido, e sobre a sua cabeça havia uma coroa.

Será que estou ao lado de um rei?

Minhas emoções estavam confusas, eu queria fazer inúmeras perguntas, mas meu corpo parecia ter vontade própria. Então eu só deixei com que a cena fosse feita sem que o eu de agora se intrometesse.

Nós dois nos sentamos em duas poltronas vermelhas após acenarmos para a enorme multidão em nossa frente. Eles nos olhavam fascinados, como se ambos fôssemos a atração principal da festa.

Após estarmos sentados uma voz se pronunciou através dos altos falantes. Ela disse que um príncipe com o mesmo nome que eu iria anunciar suas damas para a valsa real.

Foi realmente estranho o que aconteceu a seguir.

Ao invés do tal príncipe aparecer para se pronunciar, eu me levantei em seu lugar e comecei a dizer nomes femininos desconhecidos para mim, até que por algum motivo o último me pareceu familiar.

- ... Heloíse Wolin.

Após anunciar esse estranho e belo nome os meus olhos coincidentemente se encontraram com um par de olhos azuis bastante familiares.

Era a mesma mulher que eu vi entrando no salão em minha primeira memória.

Seria ela alguém especial para mim?

Os minutos seguintes dessa memória foram acelerados a ponto de eu não entender direito o que estava acontecendo.

No fim, eu estava diante da mulher de máscara azul. Seu rosto estava aflito, como se ela tivesse se arrependido de estar ali. Nós dançamos, e então o tempo foi acelerado novamente.
Eu não pude ouvir sua voz, muito menos ver o seu rosto.

Porém quando eu voltei ao presente, eu me deparei com Luna me beijando. E por reflexo eu me afastei.

Foi então que os olhos dela encontraram os meus.

E com isso eu a reconheci...

A mulher diante de mim era a mesma mulher das minhas duas memórias. E foi então que eu concluí que seu nome não era Luna e que infelizmente ela estava mentindo para mim.

Mas por que ela faria isso?

Suspiro despejando os peixes na pia.

Minha cabeça estava latejando de dor de tanto procurar alguma resposta para as mentiras de Heloise. Porém eu não obtive uma pista sequer, apenas suposições errôneas e insensatas.

Então, sem ter outra escolha, eu decido deixar este assunto de lado por enquanto, com a finalidade de diminuir minha dor de cabeça.

Com isso eu começo a limpar os peixes que peguei mais cedo enquanto cantarolo uma cação de pescador que o velhote me ensinou. Passam-se inúmeros minutos, até que finalmente termino o meu trabalho.

Olho para as dezenas de peixes abertos e limpos, e então decido guardá-los. Porém ao abrir a caixa de gelo, noto que a mesma está lotada com os peixes dos dois últimos dias.

- Merda. - Praguejo lembrando que eu deveria tê-los levado para vender na feira hoje cedo. Porém esqueci dessa tarefa ao trombar com Heloise na praia poucas horas atrás.

Praguejo mais uma vez pela menção a ela causar o retorno da minha dor de cabeça, porém tento ignorar a latejação e decido que a melhor coisa a se fazer é ir até a capital para tentar vender pelo menos a metade dos peixes. Afinal ainda são dez horas e a feira fecha às duas.

Após guardar os peixes frescos na geladeira, eu pego a caixa de gelo cheia e a levo até o veículo do velhote. Em seguida eu fecho o porta malas, e então sento no banco do motorista.

Ligo o veículo e parto com ele rumo a capital.

Felizmeste eu consigo chegar na cidade em pouco mais de meia hora, o que me proporcionará quase quatro horas para tentar vender os meus peixes.

Entro na rua principal e dirijo até a praça central que é onde a feira é montada. Porém assim que chego na praça, noto que a mesma está lotada de pessoas, não só na praça, como também nas ruas em volta dela.

Decido estacionar o veículo para ver o que estava causando tamanho tumulto, e após fazê-lo eu desço do mesmo e entro na praça.

Assim que dou alguns passos, noto que no chão há inúmeros papéis com a foto de uma mulher. Me agacho para pegar um deles, e assim que os meus olhos fixam-se na foto meu coração acelera.

É Heloíse.

Seu rosto rosado com os olhos azuis brilhantes está estampado no cartaz com a palavra PROCURADA acima dele. Olhando sob a foto, está escrito em letra cursiva que quem encontrá-la será recompensado com cem barras de ouro.

Viro o cartaz e noto que há um selo com uma coroa e as iniciais do mundo inferior. Na mesma hora concluo que Heloise é uma fugitiva e que alguém importante no palácio real está a procura dela.

Sinto minhas mãos suarem frio, talvez seja nervosismo por eu ter acolhido uma criminosa sem saber ou talvez seja por pena pela pobre alma dela.

Não sei bem, só sei que quanto mais eu tento descobrir sobre ela, mais eu me surpreendo.

Dobro o cartaz e o guardo no bolso de trás da minha calça. Em seguida olho para a multidão ansiosa que percorrem a praça e as ruas a procura de Heloise.

Inconscientemente me pego torcendo para que ela esteja bem longe e que eles nunca consigam encontrá-la.

Não querendo de modo algum participar dessa busca insana pela desgraça alheia e o benefício próprio, eu volto para o veículo e dirijo a procura da feira. Porém após dar uma volta ao redor da praça, percebi que a feira havia sido encerrada mais cedo, e que agora os comerciantes também estavam participando da busca pela fugitiva real.

- Merda.

Estaciono o veículo em uma rua vazia e respiro fundo enquanto amaldiçoou a minha falta de sorte.

- Agora eu tenho duzentos peixes rumo ao apodrecimento no meu porta malas.

Esfrego a minha têmpora com o meu polegar direito enquanto tento diminuir a minha dor de cabeça em ascensão.

- Não há sequer uma chance de eu conseguir vender esses peixes hoje. - Murmuro ranzinza. - Não com esses babacas fixados nessa busca idiota.

Então sem ter outra opção, eu ligo o veículo disposto a voltar para a praia. Porém assim que eu viro a chave na ignição, dois veículos passam em frente ao meu.

Um está com os vidros fechados, já o outro...

- Não acredito. - Digo após o segundo veículo passar com uma das janelas abertas. - É ela... Sim, é a Heloise.

E como se o meu corpo tivesse vida própria, eu me pego seguindo os dois veículos.

Eu quero vê-la.

Foi o que eu pensei antes de virar a primeira esquina atrás deles.

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