Capítulo Bônus 3 - O vilão

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Gabriel

Olho a paisagem pela janela do meu quarto enquanto trago um cigarro.
O gosto amargo me faz relembrar da notícia que recebi à poucas horas atrás.

- O Rei Samuel infelizmente não resistiu ao segundo ataque cardíaco e faleceu. - Anunciou o doutor para mim e o meu irmão.

Hector não conseguiu se segurar e começou a chorar, já eu, apenas encarei a porta fechada do quarto de meu pai.

No fundo eu sabia que ele não resistiria por muito mais tempo. O desgosto e a culpa pela morte de Oliver fizeram-o adoecer.

Isso por algum motivo me fez refletir sobre quem era o real culpado disso tudo...

- Heloise. - Murmurei esmagando o cigarro contra o batente da janela.

Ela sim é a verdadeira assassina do meu irmão.

Foi por causa dela que Oliver resolveu dirigir embriagado, e sem controle de suas ações, ele se acidentou e desapareceu por entre as ondas furiosas do precipício.

Seu corpo afundou e se perdeu no fundo do mar. Não se pôde sequer fazer um enterro decente. Apenas houve uma cerimônia com orações inúteis e lamentações direcionadas a uma foto de Oliver mais novo.

Foi desde esse funeral vergonhoso que eu me arrependi de ter deixado Heloise fugir. No dia da notícia da morte de Oliver eu estava abalado demais para pensar direito e acabei libertando a vadia com o bastardo no ventre.

O bastardo.

Será que ele nasceu?

Ás vezes eu paro e penso. E se eu tivesse prendido-a até dar a luz a ele? Talvez o meu pai não tivesse se sentido tão deprimido e talvez, só talvez, a nossa família não se tornasse tão destruída como se tornou nesses últimos dois anos.

Confesso que contive o meu desejo de vingança por consideração à saúde do meu pai, mas agora... Bem, agora não há nada que me impeça de ir atrás daquela maldita piranha do mundo superior.

Afasto-me da janela e saio do meu quarto. O castelo está vazio, exceto pelos guardas. Todos os funcionários responsáveis pela limpeza foram dispensados para sofrerem o luto do rei, pelo menos quase todos.

- Mel. - Chamo a minha empregada pessoal.

Ela que estava na área de serviço passando os meus ternos, se vira e abre um enorme sorriso ao me ver.

- Vossa Alteza.

Eu tratava Mel o mais bem que o meu ego permitia, afinal ela foi a pessoa que mais me manteve por dentro das coisas que Heloise fazia quando a maldita ainda vivia aqui.

- Onde está Hector? - Sorrio e ela me olha encantada.

Eu sabia que ela me desejava, mas infelizmente eu não a achava atraente o suficiente para fodê-la.

- Ele está nos aposentos dele Vossa Alteza.

- Muito bem. Agora eu preciso que você chame Trevor e diga a ele para reunir todos os guardas presentes no salão central. Entendeu?

- Sim Vossa Alteza, eu farei isso imediatamente.

- Ótimo.

E sem dizer mais nada, eu me viro e caminho rumo ao quarto do meu irmão.

Assim que fico diante da porta dos seus aposentos, eu a abro e o encontro adormecido na cama com sua esposa.

Hector havia se casado com a nossa prima mais velha meses depois do nosso pai adoecer. Isso porque ele era entre nós dois o mais favorecido para assumir o trono, e como meu pai sempre disse, um rei não é realmente um rei se não tiver uma rainha de sangue nobre ao seu lado.
E bem, Alice era nobre o suficiente para assumir essa posição.

- Hector. - O chamo me aproximando dele. - Acorda, precisamos conversar.

- Gabriel? - Ele esfrega os olhos inchados. Talvez tenha chorado até adormecer.

- Sim, sou eu. Agora levanta-se e vista-se, eu quero te contar uma coisa.

Ele se levanta da cama, enquanto Alice continua dormindo. Ela está nua enrolada nos lençóis, e bem, ela era uma bela imagem para se ter ao lado de manhã.

- E como estão os pombinhos? - Pergunto enquanto Hector se troca.

- Do mesmo jeito de sempre. Transamos muito, mas não passa disso. - Ele diz abotoando sua camisa. - Você sabe com quem ela queria ter se casado.

- Sei. - Respondo pensando no meu falecido irmão.

Espero Hector terminar de se arrumar, e após ter o feito, nós dois saímos do seu quarto e juntos vamos até o antigo escritório de papai.

- O que quer tanto conversar? - Pergunta Hector se sentando na poltrona do antigo rei.

- Vejo que já almeja a sua coroação. - Comento sorrindo e Hector fica sem graça.

- Não é assim Gabriel, você sabe que eu só...

- Relaxa irmão, eu estou feliz que seja você assumindo e não eu. Afinal ambos sabemos que eu detesto burocracia.

Hector sorri aliviado e eu me sento na ponta da mesa do escritório.

- O que eu quero mesmo conversar com você, é sobre o anunciamento da morte do nosso pai para os cidadãos da capital.

Hector me olha atento.

- Pois bem, como você sabe nós temos que anunciar o falecimento dele ainda hoje.

Ele concorda.

- Então... E se fizéssemos uma homenagem a ele e ao nosso falecido irmão?

- Que tipo de homenagem? - Hector pergunta curioso.

- Você sabe, eu comentei com você minha ideia no funeral de Oliver.

Hector tenta se lembrar e assim que o faz, ele me olha espantado.

- Nos vingarmos de Heloise?

- Isso. - Sorrio concordando. - Já passou da hora de encontrarmos e julgarmos ela. Você sabe, pelo bem do futuro da nossa família, precisamos matar aquela desgraçada.

- Não sei Gabriel. Você acha isso certo?

O olho chocado.

É sério que ele ainda se importa com aquela assassina?

- Me diga você. Você acha certo ela viver livre e feliz depois de ter arruinado a nossa família? Me responda Hector. Você acha?

O encaro bravo e logo sua pose de me contradizer murcha.

- Não, eu não acho.

- Que bom. - Digo sorrindo. - O plano é o seguinte...

Contei toda minha ideia a Hector. Como a carta que falsificarei como se fosse a última vontade do rei que Heloise fosse morta. Também falei sobre os inúmeros cartazes de procurada com a foto dela que entregaremos ao povo. E por fim recitei o discurso que Hector falaria em frente a câmera. Afinal ele precisa agir como a nova autoridade, caso contrário ninguém levará a sério suas palavras.

- Entendeu tudo? - Pergunto após dizer todo o plano.

- Sim.

- Ótimo, agora é só você fazer tudo o que eu disse e logo a nossa família será liberta desse encosto. Ou melhor, dessa assassina e destruidora de lares.

Hector concorda e então eu comemoro antecipadamente a nossa vitória. Afinal não tem como aquela maldita fugir.

Não quando sua única opção é permanecer nesse mundo... Ou melhor dizendo, no meu mundo.

****

E para quem está aflito que Heloíse sofra ainda mais.

Já ouviram aquele ditado?

Depois da tempestade vem a calmaria.

Então, mesmo que a tempestade tenha sido longa até agora, devo avisar que o sol já está vindo para tirar esse céu nublado da vida da Heloise e do Oliver.

Então respirem fundo e sintam as emoções.

Vejo vocês em breve ❤

O Doce Aroma da TentaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora