Capítulo XXXII - A Maldição de Viktor

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      "Mansão da Família Greembell - 1664

     Viktor fitava o jardim pelas vidraças de uma das janelas distribuídas ao longo do corredor. O rosto juvenil era a mais pura expressão do tédio e os olhos transparecia certa solidão. Os funcionários passavam vez ou outra e ele virava-se fitando-os, todavia nenhum lhe dava sequer boa tarde. Ele saira dali, andando pelos corredores sendo sempre ignorado por todos e resolvera ignorar também. Ao parar na porta dos aposentos principais que pertencia a seus pais ele parou. Olhando para a madeira, ele fitou a maçaneta com certo receio, mas por fim, deixando um suspiro cansado escapar de seus lábios, ele tomou o metal dourado e frio em mãos e abriu a porta sem pedir licença. Sua mãe o olhou de soslaio antes de voltar a fitar-se no espelho envolta em um volumoso e luxuoso vestido de baile.

— O que faz aqui, Vik? — ela fitava-se virando-se levemente em diversas direções observando seus trajes de diferentes ângulos. Viktor aproximou-se da espaçosa e arrumada cama sentando-se olhando para as vidraças que davam para a sacada.

— Queria uma companhia, mãe — ele a fitou de costas a si — Todos ignoram-me nesta casa.

— Não tens de se misturar aos funcionários, Viktor, sabe disso — ela o olhou rapidamente — E não é casa. Trabalhamos muito duro para conseguir esta mansão, chamei-a assim.

— Isso não significa nada pra mim — ele disse em um murmúrio baixo e desdenhoso falando para si, todavia, pelo olhar incrédulo que sua mãe lhe lançou, ela havia escutado também.

— Não significa nada? — ela disse indignada virando-se totalmente para ele aproximando-se devagar — O seu pai trabalhou a vida inteira para construir um império, algo grandioso digno dos sonhos e do trabalho dele e agora você me diz nada disso significa algo para você?

— Esta mansão não é minha, — ele respondeu arisco fitando-a — eu não tenho de considerar nada aqui.

— Você vive aqui, Viktor, é nosso filho e herdará tudo que temos, não desdenhe de algo que está sendo construído por você.

— Não é pra mim, mãe — ele levantou-se encarando-a — Nada aqui está sendo feito por mim — ele gesticulou com os braços — Esta mansão, os móveis, os infinitos bailes tolos a fim de mostrar riqueza sobre os outros nada está sendo feito por mim.

— Como ousa falar isso? — aumentou o tom — Fazemos tudo por você, Viktor, damos tudo para você. Como te atreves a falar com tamanha ingratidão?!

— Fazem tudo por mim? — ele gritou alterado — Me dão tudo, tem certeza? Está tão cega pelo dinheiro que não vê que nada dessas coisas materiais que você insiste em falar em alto e bom som que eu tenho não é nada? Não vê que o que eu preciso não são roupas ou dinheiro e sim de pais? Você e o papai são tão cegos que mal vêem que eu não quero luxo, não quero coisas caras nem um Império para chamar de meu, eu quero uma mãe que acolha, que me aconselhe, que me trate como um filho e não me encha de coisas vazias! Quero o pai que não me ensinou a cavalgar, quero um pai presente e que saia para caçar comigo, eu quero ter os pais que nunca tive!

   Por um instante Amélia Greembell ficou parada no meio do cômodo. Viktor sentia os olhos arderem, sentia o sangue correr veloz por suas veias e havia deixado toda a sua dor transparecer. Amélia mantinha os olhos caramelos sobre ele. Diferente de todas as outras vezes, desta vez algum sentimento parecia brotar nela se não a passividade irritante e desdenhosa como sempre vira. Ela parecia de fato afetada pelas palavras dele. Pela primeira vez.

    Ela se aproximou cautelosa dele. Ele não recuou, tinha os punhos fechados ao lado do corpo e os olhos marejados de forma que logo lágrimas percorreriam seu rosto, ele sentia. Mas ele as limpou rápido. Não poderia demonstrar fraqueza quando o que mais queria era respeito e atenção. Ela se prostou a frente dele, passando a mão pelos seus cabelos os pondo atrás de orelha.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now