Capítulo XXIV - A Magia de uma valsa

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Boa leitura :D

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          A luz fraca do sol tímido daquela manhã fria pintava o quarto sombrio de Viktor pela grande janela do local. A sua cama de cores escuras igualmente as paredes do local era acariciada pela luminosidade do dia, no entanto, Viktor que a muito estava estático sentado na poltrona que escondia-se dos raios solares, olhava um ponto qualquer mergulhado em pensamentos.Ele movia os olhos, olhava vez ou outra para diversos lugares, mas simplesmente não via nada em sua frente.

Seus pensamentos vagavam e giravam, mas sempre retornavam para o mesmo ponto: Kristen. Desde a noite passada onde a mesma houvera conhecido um dos lugares que mais lhe traziam lembranças, o local onde outrora passara momentos maravilhosos, agora era o motivo para um aperto esquisito no peito e ele nem entendia porquê.

Quando a levara àquele local tinha em mente surpreendê-la, mostrar que a mansão podia ser um lugar interessante e que ficar era uma boa opção, entretanto, não imaginara em momento algum que ela faria aquele pedido. Era algo simples sim, uma valsa apenas, um gesto bonito, uma dança que marcaria a volta dela, mas, para ele, aquilo era demais. Quando o pedido dela adentrara seus ouvidos ele se sentiu exatamente incomodado. E depois impotente.

Tudo que a moça queria era marcar aquele novo lugar que houvera acabado de conhecer, mas ele era incapaz de proporcionar isso a ela. O que ele faria, afinal? Seguraria a mão dela para logo vê-la contorcer-se de dor e padecer ali mesmo? O que poderia fazer se o mínimo de seu toque a levaria para valsar com a Morte? Não havia o que fazer se não manter-se isolado do mundo que a muito vira repudiá-lo.

Quando recordava-se dos inúmeros bailes oferecidos por sua família em que dançava sem direito a cansaço com a dona de seu coração agora inativo, ele quase podia sentir os pés flutuarem, dançarem por si só ao som da orquestra que pareciam tocar somente para ele e sua amada Marie.

Quando a imagem dos cabelos ruivos dela flutuando no ar a cada rodopio, a imagem do sorriso que mais parecia uma janela aberta com a majestosa luz do sol cegando todos, quando lembrava-se o modo como sua mão se encaixava perfeitamente na curva de seu corpo, seu mundo parecia querer brilhar, resplandecer em alegria. Mas, logo depois, a amarga ilusão o puxava de volta para baixo o mergulhando na mais densa escuridão de um poço sem fundo e frio.

Viktor abaixou a cabeça deixando a mesma descansar em umas das mãos que estava apoiada no braço do móvel tamanha a frustração que lhe tomara. Pensando em tudo aquilo, o que mais lhe atormentava era o tamanho da maldita impotência a que fora condenado a conviver.

Aquilo poderia ser algo extremamente pequeno e insignificante para outras pessoas mas, para ele, era uma das maiores provas que continuar "vivendo" não tinha sentido nenhum. Sequer tocar alguma coisa sem fazer um estrago era possível para si, sequer atender ao pedido de uma mulher podia satisfazer, sequer parecer normal estava ao seu alcance, sequer viver sem que algo lhe lembrasse da aberração que fora condenado a ser era algo minimamente possível para sua pessoa.

Quando ele lembrava-se dos momentos maravilhosos que tivera a proeza de realmente viver e que agora eram apenas lembranças vagas e longínquas, tudo que ele desejava era que a companheira Morte o levasse de vez para o outro lado, que aquilo tivesse um fim. Mas sempre que lembrava-se que até a Morte parecia ignorar seu pedido desesperado por socorro, que até a entidade que todos temem parece rir de seu sofrimento, ele então notava que tudo que lhe restava era lamentar pelo resto de seus dias intermináveis.

As vezes, lembrando de tudo que perdera, ele tinha a leve sensação que nunca realmente vivera suas lembranças. Parecia algo tão vago, algo tão superficial que lhe trazia a sensação que ele sempre fora aquela aberração desde o nascimento e que nunca tivera vida verdadeiramente.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now