Capítulo VIII- Socorro

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Boa leitura :D

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           Ele andava calmamente entre as árvores sentindo o vento frio daquela noite de lua cheia tocar sua pele pálida. O som dos seus passos a quebrarem os gravetos secos no chão eram o único som na floresta. Seus pensamentos vagavam pelo passado longínquo e um presente confuso.

Como ela não o reconhecera? Como não o identificou somente pelo seu tom de voz?
Ela estava exatamente igual, mas também estava extremamente diferente. Tudo estava confuso para si, embaralhado e sem respostas. Como ela estava viva?
Como era possível?

Ele viu-a morrer em seus braços, viu sua pele perder a cor e sua respiração cessar, como ela podia parecer tão bem e viva como se nada houvesse acontecido?
Será que ele estava errado? Seria mesmo ela? Mesmo tendo-a visto de tão perto a dúvida o corroía. Será que a confundiu?

Ele recordava-se bem do quanto seu coração já morto partiu-se em mil estilhaços ao vê-la deixa-lo, ao vê-la partir e não levá-lo consigo. A dor dilacerante, a sensação de seu coração sendo esmagado por mãos monstruosas ainda estavam consigo, a cada dia, a cada século seguindo-o como uma sombra fiel.

As pessoas costumam fugir da morte, correr o quanto puder dela, mas ele não. A morte é o que ele mais anseia, no entanto parece não querer leva-lo de uma vez; parece querer fazê-lo morrer aos poucos durante longos séculos infinitos; parece querer fazê-lo sofrer eternamente.

Tudo parecia indicar que ele viveria eternamente atormentado pela sua maldição, viver isolado do mundo para evitar ver em cada pessoa o repúdio de tê-lo por perto. E por mais inativo que seu coração estivesse ele ainda podia sentir a dor que um coração pulsante sente, podia sentir o aperto angustiante tirar-lhe a paz já a muito perdida.

A cada dia que se passava ele pergunta-se se aquilo seria mesmo por toda uma infinita eternidade; se tudo que a muito tivera jamais voltaria a ter novamente; se sua alma não se libertaria jamais. Estaria ele fadado a conviver com sua maldição eternamente sem direito a socorro ou salvação? Teria de viver estando tão morto? Isso não era vida.

Sufocando pelos seus pensamentos, ele finalmente deu-se conta que estava de punhos cerrados e mandíbula travada. Era sempre assim. Todas as vezes em que se recordava de tudo que perdeu e o que não pôde viver por causa daquela maldita ele cerrava os punhos e travava a mandíbula com uma força não recomendada para qualquer um.

E depois daquele fatídico dia isso acontecia com frequência.

Nem mesmo os conselhos de sua mãe de consideração para esquecer o tal ocorrido serviam para amenizar a raiva e a mágoa dentro de si. Como ele poderia esquecer de algo que lhe transformou numa aberração por toda a eternidade? Como poderia esquecer de algo que o atormenta dia e noite sem falta?

Era simplesmente impossível esquecer sua maldição e o fardo pesado que carrega dia após dia.
Esquecer daquele dia seria como esquecer-se do que se transformou e isso era simplesmente impossível.

O costumeiro som das aves noturnas se fazia presente naquela floresta. Ele olhou para o céu tentando ver a lua por entre os galhos das altas árvores para tentar acalmar-se. A lua com sua divina luz prateada emanando mistério e paz, lhe davam um mínimo da sensação de sossego. Embora paz fosse algo que ele não tinha qualquer esperança de desfrutar novamente um dia, a lua lhe dava o mínimo de ternura que precisava para não deixar seu coração ser consumido das trevas que o cercavam.

Ele fechara os olhos, relaxou seus ombros e deixou-se levar pelo silêncio daquele lugar. O vento frio soprava divinamente batendo contra sua pele acariciando-o delicadamente. A forte luz prata da lua parecia atravessar suas pálpebras, pois mesmo com os olhos fechados ele sentia sua luz a tocar-lhe a pele.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now