Capítulo XIV - Quem sabe um começo.

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  Boa leitura :D

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Dias depois...

      O rosto dele estava erguido contemplando o céu cinzento e tempestuoso daquela manhã fria.
Os pássaros haviam sumido, parecia que haviam se refugiado do frio daquela manhã em seus ninhos.
Seu olhar de íris amarelas era vago, distante, preso em um passado que jamais viveria novamente.

Toda a vida que um dia tivera a proeza de viver passava como um filme, uma fotografia apagada e distante. Suas mãos estavam cruzadas atrás de si e ele trajava um de seus muitos suéteres negros usuais.

Cada cena que vagava por sua lembrança bem conservada, parecia uma história, um livro de muitas páginas que embora seus detalhes fossem mínimos e próximos da realidade, ainda assim, parecia muito distante de existir, de fato. Era como se todas aquelas cenas, todas aquelas memórias jamais houvessem existido, como se fossem somente fruto de sua imaginação.

Ele ainda podia se ver feliz, pele corada, corpo quente e uma linda noiva a abraçar-lhe. Ainda era nítido a imagem do sorriso daquela que outrora fora a dona de seu coração palpitante. Ele quase podia vê-la acariciando seu rosto, envolvendo seu pescoço com seus braços da mais pura ceda, quase podia sentir seus lábios sobre os delas, sua respiração ofegante misturada aos suspiros de amor dela.

Mas então tudo despencava em sua cabeça como uma parede de tijolos, um balde de água fria o trazendo novamente para a cruel realidade que o cerca. E então, todo aquele conto de fadas que tinha tudo para ter seu final feliz e contínuo, se dissipava como fumaça, se quebrava como seu próprio coração fazia todos os dias daquela vida cinza e negro em que vivia.

Vontade de chorar não lhe faltava, mas já fizera tal tantas vezes durante tantos dias que até as lágrimas pareciam ter secado, se esgotado como a sua própria esperança de um dia se ver livre daquele tormento sem fim.

Lembrar-se de sua vida era como nunca tê-la vivido, como se estivesse roubando as lembranças de alguém. Era doloroso, as mesmas cenas de felicidades que o consolavam eram as mesmas que o destruía. Era como amar alguém a quem você daria sua vida, mas aquela pessoa era a mesma que o matava.

Seus pensamentos o haviam levado para longe, e quando ouviu uma voz distante chamando-lhe para a mórbida realidade, ele ainda levara alguns segundos para finalmente responder.

— Tens de aprender a não fazer mais isso consigo próprio.

— Estás a pedir muito — respondeu sem desviar seu olhar do céu cinza.

— E tu estás a destruir-se mais rapidamente — Ela respondera normalmente, embora seu tom tenha soado um tanto seco. Margareth estava do seu lado e também fitava o céu mórbido.

— Tu não podes me pedir para esquecer a única vida que tive e infelizmente perdi. Memórias tornaram-se minha única forma de viver.

— Memórias as quais logo se desfazem e destroem-te a abandonar-lhe e te jogarem de volta para a realidade.

Viktor sorriu de lábios fechados logo virando-se para adentrar de volta a grande mansão, deixando o tempo triste atrás de si.

— As vezes tua forma de tentar fazer-me aceitar a realidade nem um pouco feliz que tenho, não é nada sútil.

— A verdade não tem de ser sútil — ela o seguiu — só tem de ser verdadeira.

Eles passaram pela grande porta dupla de carvalho negro logo se vendo na sala do lugar, ou grande salão como a própria Margareth dizia.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorМесто, где живут истории. Откройте их для себя