Capítulo XXIV - A Magia de uma valsa

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Após a noite passada, quando deixara a moça jazer solitária no grande salão de dança, Viktor sequer havia ido acompanhar Margareth no jantar que estava já posto. Quando subira apressadamente os degraus da escada bifurcada e apressado adentrou o seus aposentos, desde ali, ele não havia mais destrancado a porta para nada.

Havia se posto em cima da cama, estático, olhos vagos, feições fechadas. O sono era algo que não o incomodava a muitas décadas então, quando deu por si, a luz pálida do dia cinzento adentrava a vidraça de seu quarto anunciando um novo dia. Margareth já devia ter encontrado Kristen e por essa razão sabia que não devia incomodá-lo. Sua mãe de criação conhecia bem suas reações sempre que sua maldição vem a tona.

Após o longo tempo que havia passado sentado na poltrona, Viktor finalmente levantou-se. Se sentia fadigado, cansado de tudo, até mesmo dos raios solares que mal aqueciam algo. Com passos pesados, Viktor rastejou lentamente até que já de fronte a vidraçaria fechada, ele fechou também as cortinas grossas privando o ambiente de qualquer luz.

                             ***

         Já a algum tempo Kristen estava olhando a paisagem do verde que cercava a mansão. Tudo estava muito monótono, como sempre. Seus cotovelos já começavam a doer visto o tempo em que estava apoiada sobre eles. Ela se encontrava em um corredor onde algumas janelas eram distribuídas pelo próprio deixando a luz do novo dia adentrar a melancólica mansão. Tudo estava silencioso, até os pássaros pareciam cansados demais para cantar deixando tudo muito tedioso.

Os olhos cristalinos de Kristen vagavam pela paisagem. A janela era um bom tanto alta, por esta razão, ela conseguia ver tudo muito amplamente e sem sacrifícios. Já a um bom tempo ela vira Margareth sair e esperava ansiosa o retorno da senhora.

Após a noite passada, quando fora largada no meio do grande salão de dança, tudo que ela esperava era que seu plano desse certo. Quando viu Viktor partir magoado com seu pedido inconveniente de uma valsa quando tão visivelmente tal ato não seria possível, ela sentiu seu coração apertar em culpa.

Ela não se sentira brava tampouco ficara surpresa com a reação dele. De fato ela não havia feito aquilo por querer magoá-lo ou querê-lo vê-lo mal, mas seu ato ingênuo de não lembrar-se do episódio onde o toque de Viktor a fez gritar de dor com certeza havia acabado com a noite dele. Por consequência, a dela também.

Ela detestava ter que admitir erros, seu orgulho por vezes exarcebado lhe impedia muitas vezes de praticar tal ação, entretando, naquela situação ela não via problema algum em procurar Viktor e pedir as mais sinceras desculpas para o próprio. Se ela ficaria sob o mesmo teto que ele então que fosse em uma situação de paz, algo agradável e não em um clima de tristeza como ela havia imposto sem querer.

Tamanha ingenuidade ou talvez burrisse de sua parte a fez soltar um suspiro cansado. Novamente errara com Viktor. Maldições! O olhar vago de Kristen, entretanto, abriu-se consideravelmente e ela levantou-se da sua posição incômoda quando avistou ao longe uma charrete vir na direção da mansão.

Sem esperar um minuto sequer, ela saltou dali e correu entre os corredores até avistar a longa escada bifurcada da sala. Ela desceu por eles como um raio não se importando com a possibilidade de um belo tombo. Tão rápido quanto descera as escadas, ela passou pela ampla sala do local e logo tomou a maçaneta dourada da porta negra e escancarando-a correu para o lado de fora.

A senhora descia com a ajuda do cocheiro de cima da charrete e despedia-se simpática do mesmo.

— Muito obrigada, senhor Holmes — a senhora sorriu pegando as muitas sacolas de pano nas mãos — Da próxima prometo não demorar tanto em minhas compras.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now