Do fundo do poço

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"Se é mesmo o prisioneiro que estava aqui e fugiu, ele está escondido, vai nos atocaiar e nos pegar" -, disse Vanessa tentando esconder a tensão.

"Quem diabo está lá fora afinal?"-, perguntou Jandira de forma hostil. Já não era mais a enfermeira doce que fora até a noite passada. O estresse e o medo estavam a tornando uma pessoa difícil de lidar.

"O prisioneiro é o chinês do exército do qual vocês estavam fugindo" -, disse Vanessa.

"Se tivesse dito isso antes eu mesma teria o matado e acabado com essa agonia" -, gritou a enfermeira para Vanessa. "Porque esconder isso de nós sabendo do risco de vida que estamos correndo?".

Jandira estava visivelmente alterada.

"Acalme-se, o nervoso não vai adiantar de nada" -, pediu Joaquim.

"Temos mais chance de sobreviver se seguirmos sozinho. Chega dessa doutora dizendo o que fazer" -, disse Jandira irritada. "Vamos lá fora e matamos aquele desgraçado e estamos livres para voltarmos às nossas vidas".

Vanessa se aproximou dela e tentou acalmá-la. "Matar uma pessoa não te deixará livre se descobrirem".

"Não vão descobrir. Isso é um segredo que fica aqui" -, Jandira pegou a faca sobre a mesa e foi rumo a porta. Assim que virou para sair Vanessa jogou um dos vidros contendo um pedaço alienígena dentro em sua cabeça.

O pote espatifou deixando o cheiro do formol subir por toda a casa.

"Ficou louca?" -, disse Joaquim dando um safanão em Vanessa.

"Se ela saísse ia morrer, aquele homem é perigoso. Mata tudo que está no caminho" -, retrucou.

Joaquim tentou se controlar. "Isso não lhe dá o direito de machucar as pessoas".

"De tudo só me arrependo de ter que perder os miolos do alienígena. Não tenho outro vidro e nem formol para colocar dentro" -, disse Vanessa sem dar ouvidos a Joaquim.

*****

--- 8 horas.

Cohen bateu à porta da sala de Ulysses e não veio resposta alguma. Tentou abrir a porta e estava trancada. Brandão se aproximou.

"O doutor saiu. Está cuidando de uns pacientes fora" -, informou o enfermeiro com seu ar bonachão.

Cohen sentiu que era hora de saber sobre o que estava acontecendo. "Cuidando dos fugitivos encontrados?" -, investiu.

Brandão ameaçou responder, mas engoliu.

"Que foi home, o gato comeu a sua língua?" -, provocou Cohen.

"Não posso falar do trabalho do Doutor. É uma ética de nosso trabalho" -, afirmou o negrão.

"Eu queria ajuda-lo. Estou cansado de não fazer nada" -, mentiu Cohen. "Ele se demora?" -, insistiu.

"Sempre demora quando vai até lá" -, deixou escapar o enfermeiro.

"Lá onde, Brandão?" -, pressionou.

"Na clínica experimental" -, deixou escapar de novo. "Olha, já falei demais sobre. Preciso ir, pois se o exército souber que falei dessa clínica eu estou fora da jogada e preciso desse emprego" -, disse o enfermeiro quase pedindo para guardar segredo.

"Ninguém vai saber. Só preciso saber se devo ficar e espera-lo ou se eu posso continuar minhas pesquisas aqui dentro" -, jogou Cohen.

Brandão pensou um pouco. "Acho melhor não fazer nada; deita e dorme à tarde ele deve estar por aí e vocês conversam" -, sugeriu o funcionário. "Caso faça algo que me coloque em risco, eu te aplico um sossega-leão dos brabos" -, tentou intimidar o enfermeiro saindo.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now