Capítulo XXI - Misterioso V.G. desvendado

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— E tu a privasse de desculpar-se — no momento seguinte Viktor levantou-se e dando a volta na poltrona ficou de fronte a senhora encarando a mesma com afeto.

— Ela não precisava se desculpar por estar certa sobre mim, minha querida. Eu não passo de uma aberração e ela uma criança que tem uma vida pela frente. Eu não a privaria de viver sua vida mantendo ela em uma mansão sem liberdade.

— Não é uma prisão quando se escolhe — a senhora argumentou doce. Viktor sorriu triste.

— Quando a trouxe aqui sabes bem que eu pensava que ela era minha Marie que de alguma forma havia voltado para me livrar desse tormento. Mas não sendo, eu não tenho motivos para tê-la sob meu teto.

— Tu és cruel com tua pessoa — a senhora suspirou triste abaixando a cabeça — Marie não voltará, é fato,  mas isso não quer que tu tens de se privar de conhecer novas pessoas.

— O que está querendo dizer, Margareth? — Viktor perguntou já imaginando onde a senhora a sua frente queria chegar.

— Devias tentar voltar a viver de algum modo, Viktor — ela o olhou deslizando suas mãos pelo braço coberto de tecido de Viktor — Uma amiga te faria bem. Quem sabe mais que isso, ela poderia aprender a ama-lo.

Ao fim das palavras de Margareth Viktor afastou sutilmente. Ele caminhou vago pelo cômodo se debruçando novamente na varanda de seu quarto.

— Amar-me... — ele disse irônico — Amar uma aberração?

— Menino, — Margareth prostou-se ao seu lado — tu não és uma aberração.

— Então o que sou, Margareth? Diferente? Estranho? Eu não passo de um ser repugnante que perdera tudo que mais amava. Como alguém me amaria?

— Eu o amo — ela tocou seu braço.

— Tu és boa demais, Margareth. Me acolheste como mãe sem sequer repudiar minha figura. Tu és rara, mas nem todos são como tu — ele fitava o longe onde os galhos das árvores que cercavam o local balançavam lentamente.

— Posso ser rara, como dizes, mas não sou única. A menina poderia criar um afeto contigo.

— Ela me amaria e eu a amaria...— ele disse vago, pensativo — mas e depois? Como eu a abraçaria se sequer posso tocá-la sem machuca-la? Como sentiria o gosto de seus lábios se os meus a fariam gritar com o mínimo toque? Como eu a esquentaria nos dias frios se meu corpo é tão frio e sem vida quanto o inverno?

— Machuca-me quando falas assim — ela abaixou a cabeça triste.

— Acredite, isso machuca ainda mais a mim. Mas não minto em minhas palavras — Viktor mantinha seu olhar para o longe, num horizonte que ele nem sequer via direito visto o vago que ocupava seu olhar — Ninguém amaria uma aberração assim como eu seria incapaz de amar alguém se não minha Marie. Não há caminhos para mim, minha querida, meu destino já foi selado. Minha salvação e paz morreram junto a minha Marie.

                               ***

      
       Os archotes nas paredes iluminavam e aqueciam o ambiente já abafado da taverna. As mesas gastas estavam em maioria ocupadas com homens rindo e batendo o copo na mesa a todo instante. De mesa em mesa Elena anotava pedidos levando até o balcão onde Elliot colocava tudo numa bandeja para logo Kristen levar até a respectiva mesa.

— Nem mesmo é noite e já tem tanta gente assim — Kristen suspirou cansada já pegando a bandeja no balcão.

— Tu reclamas demais, raposa — Elliot brincou sorrindo atrás da madeira que os separava.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now