Entrar ou não entrar; deveria testemunhar mais uma vez o sofrimento de Inês?

Respirou fundo e abriu a porta. A primeira imagem que viu foram as marcas das mãos de Inês pelas paredes tintas de sangue.

Ao lado da janela uma frase que apunhalou seu coração: "Daniel, a mamãe te amou muito enquanto viva".

A frase atestava o tamanho da perturbação daquela mulher. Ela não aguentara o baque de tudo o que estava acontecendo em sua vida.

"Talvez seja esse o motivo do exército esconder tudo" -, concluiu. "As pessoas não estão emocionalmente preparadas para enfrentar um colapso social. Vivemos numa sociedade hipócrita e preconceituosa que não aceitas diferenças. Como seria se os extraterrestres vivessem morar entre nós? Uma guerra!?".

Cohen ficou perdido em seus pensamentos tentando entender a fraqueza emocional do ser humano e se sentia diminuído ao igualar-se a todos. A tentativa de suicídio de Inês o tirara da posição de cientista para retomar a de ser humano. Há muito não tinha esse contato com as suas emoções.

Percebeu que quase já não era mais humano.

*****

Adam abriu os olhos e viu sombras passeando pelo teto. Ainda desnorteado não entendeu onde estava. Estava escuro, mas acima tinha luz. Percebeu algo se mexendo. Parecia a perna de alguém.

Foi tateando com cuidado e notou uma pessoa de cabelos crespos. "Juciney" -, pensou consigo. Aproximou a boca de seu ouvido e sussurrou: "Ney, levante-se, acho que fomos resgatados".

Não houve resposta alguma. Aproximou o ouvido da boca e nariz de Ney para ver se respirava. A resposta foi afirmativa. Estava vivo.

Deu um safanão no rapaz e nada. Saiu tateando pelo chão até encontrar outra pessoa. Notou a pele gelada. Tinha cabelos cumpridos. Era uma das meninas. Mas estava muito fria. Aproximou o rosto de seu rosto e notou que não respirava. Foi então que sentiu o perfume conhecido: Samantha.

Adam sentiu seu estômago revirar, se afastou daquele corpo gelado com muita pressa. Era inconcebível estar perto daquilo que seria o fim de seu amor. Levantou-se assombrado e deu de costas na parede. Ouviu vozes lá em cima e viu sombras no teto vindo naquela direção.

Entendeu que estava num poço. Deitou-se no chão e fingiu de morto. Notou a claridade tomando conta do local com olhos semiabertos. Provavelmente os fugitivos se tornaram reféns.

Com a passagem da luz da lanterna pode notar outras pessoas deitadas e recostadas ali, mas não teve tempo de identificar quem era.

Aquilo era parte de um jogo maléfico em que estava participando. Sentia que não podia confiar em nada e nem ninguém. Optou por ficar quieto e vigiar os demais. Se alguém acordasse, seria uma pessoa que lhe ajudaria a permanecer vivo. Teria que contar com a sorte e compreensão daquelas pessoas depositadas ali.

*****

Apesar da tensão vivida nos últimos dias, entrar em casa trazia paz. Mal fechara a porta e encontrara os porta-retratos com a esposa e os filhos sobre o aparador da sala de estar. Caminhou pela casa respirando o ar com cheiro especial da limpeza da mulher que amava. Veio a sensação de tristeza por não tê-la por perto.

Deitou no sofá e fechou os olhos. Aquele era seu lugar preferido. Houvesse guerra ou paz, o sofá era o seu repouso. Isaías tinha o seu conforto com a cabeça recostada no braço do sofá bege.

"O que quis dizer com aquilo na torre da igreja" -, disse Zentchen.

Isaías saltou do sofá com reflexo de um leão. Como era possível aquele homem ter entrado tão silenciosamente? "Como..."

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