Extra 2

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Eu bufava a cada dez minutos, sentado perto da piscina da minha tia. A água da piscina caía toda hora na parte em que eu estava e isso estava começando a me deixar irritado. Alguns parentes diziam para eu entrar nela, já que fazia um calor razoável. Talvez se meu pai tivesse avisado que eu viria para cá - mesmo eu já sabendo da "surpresa"-, eu tivesse trago minhas roupas de banho.

- Vai entrar não? - Tia Bette me perguntou.

Apenas balancei a cabeça em negação, dando uma olhada nela, antes de virar a cara novamente.

Pelo canto de olho, pude ver que ela estava se sentando ao meu lado. Ela suspirou e parecia que queria me dizer algo, mas não conseguia.

- Ben, eu sei que é muito difícil para você, mas você tem que seguir em frente. - Ela começou a dizer. Mesmo que ela não fosse tia Lola, delicada, que sempre ia com calma nos assuntos, ela era uma pessoa direta, e eu gostava disso nela. - Seu pai não tem culpa. Nem nós que estamos aqui hoje. Fizemos isso tudo para você, para no final você está aqui, encarando todo mundo como se eles fossem bichos e quisessem te morder? - Sabia que tia Bette não tinha vindo falar comigo porque meu pai pediu. Ela era a mãe da razão e obediência. Gostava de todos ao seu redor, e me amava como se eu fosse seu terceiro filho. - Sua mãe ama você onde quer que ela esteja. - Tive vontade de chorar como à muito tempo não chorava. Queria que eu e ela estivéssemos em um quarto sozinhos, pois ela diria que tudo ia ficar bem e me acolheria em seus braços. - E ela não gostaria de ver você assim. - Balancei a cabeça concordando.

- Saber que ela não tá aqui, mais uma vez, me deixa triste. É mais um aniversário em que ela não tá presente, tia. - Comentei com a voz embargada. Não queria chorar. Não na frente de todo mundo.

Era para eu estar feliz, sorrindo e me divertindo com as pessoas que disponibilizaram um pouco do tempo delas para estarem comemorando meu aniversário, e eu parecia uma criança de cinco anos, agindo como se eles não gostassem de mim, apenas sentissem pena. Mas eu via no olhar de cada um, que eu não era ninguém, eu fazia parte da família deles, e eles me acolheriam quando eu desse trégua dessa minha infantilidade que tenho todo ano.

- Eu sei, meu amor. É por isso que eu, seus tios, suas tias... - Ela fez uma careta, pondo a língua de fora. Eu ri com menção de tias, ela incluía tia Alessandra. - E seu pai, fazemos de tudo por você. E você sabe disso. Agora vem cá. - Tia Bette me espremeu entre seus braços, me dando vários beijos.

- Ah, mãe, agora eu fui trocada? - Ouvi a voz de Beatriz, filha de tia Bette, a pirralha de oito anos.

Me desgrudei dos braços da minha tia, enquanto ela se virava para falar com Bia.

- Claro que não, bebê de mamãe. - Por incrível que pareça, a pirralha amava ser chamada assim, mesmo que fosse na frente das amigas. Ela dizia que não tinha problema nenhum, pois tinham crianças que eram maltratadas por aí, e ela agradecia por não ser uma delas e por ter tia Bette como mãe.

Enquanto elas ficavam naquilo de beijos, abraços e "te amo demais", eu entrei para dentro da casa.

Fui em direção à sala, agradecendo pela maioria está na piscina ou na cozinha.

- Min, meu neto. - Minha avó, por parte de pai, me abraçou tão forte, que eu pensei que ela ia deslocar meus ossos dos lugares. Até parecia que eu não via ela à anos.

Ah, sim, não via ela à dois anos.

- Você cresceu tanto. - Seus olhos brilhavam ao olhar para mim. - Venha. Me conte tudo.

Eu olhei estranho para minha avó.

- Contar o que? Não tem nada para contar. - Resmunguei. Na verdade, não tinha mesmo.

- Seu pai me disse que anda muito fechado. Aposto que é uma garota. - Eu até ia revirar os olhos depois das palavras de minha avó, mas eu respeitava ela demais e não faria isso.

- Vó, a senhora sabe que o meu pai, anda meio coisado da cabeça, não é? - Ela enrugou a testa, confusa.

- Coisado como?

- Ele fica me empurrando para as garotas. Eu acho que ele não quer que eu fique sozinho igual a ele. - Respondi meio triste.

- Min, é importante para seu pai que você ande para frente. - Aquilo foi a deixa para que a minha barreira quebrasse. Ali perto da minha vó, que eu não via à dois anos, eu comecei a chorar. Fazia dias que eu não chorava, e achava que era um alívio não demonstrar fraqueza, mas parecia que tinha piorado, pois eu andava de mau humor e sempre reclamando do que as pessoas faziam perto de mim. Meu pai me amava, e eu ficava rejeitando seu amor, mesmo que ele não demonstrasse da melhor forma.

Nesse meus dezesseis anos, hoje, eu gostaria de amadurecer, de deixar tudo para trás e conseguir deixar que as pessoas se aproximassem de mim, sem que eu colocasse culpa nelas por minha mãe ter falecido por causa do câncer. Elas não tinham culpa, e era difícil para mim enxergar isto.

- Chore o quanto quiser. - Vovó acariciou meu cabelo com uma mão, enquanto a outra pousava nas minhas costas, fazendo o mesmo. - Ninguém está vendo, e mesmo se estivesse, eu sou a sua vó, e estarei aqui para enxotar eles. - Eu ri em meio a fungada. Mesmo que estivessem me vendo chorar, eu não me importaria. Homens choram, e eu estava me tornando um.

- Obrigada, vó. - Ela beijou minha cabeça. Um dos melhores carinhos, era o dela, com certeza.

A Gravidez - Volume 2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora