Capítulo 34° - "Sentimentalista"

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Quatro meses

Joguei a comida que comi toda fora. Eu jurava que estava me esforçando, porque acima de tudo, eu tinha outra pessoa precisando de mim. Não aguentava mais vomitar. Me sentia enjoada demais. E eu estava sozinha. Dylan foi ver algo no trabalho, mamãe estava fazendo seus afazeres, Victor voltou para Orlando, até porque sua vida não podia parar por causa de mim. E as meninas não tinham um tempo hoje. Elas trabalhavam. E eu estava doente. Sem trabalhar. Sem poder seguir meu sonho como modelo. Eu não iria realizar meu sonho por estar grávida e por estar doente, quase morrendo.

Deixei minhas costas deslizarem pela parede do banheiro. Limpei os cantos da boca com a manga do casaco. Fazia frio, e com o ar ligado não me fazia bem.

Queria chorar sem querer parar, porém talvez eu não tivesse motivos para tal ação. Talvez se tivesse a beira da morte, estaria chorando horrores. Só que eu estava em um estágio da minha vida, que tudo era silêncio. Eu mesma e meu bebê. A solução para os meus problemas, era o neném. Para seguir até o final da gravidez, não desistir e acabar entrando em uma depressão, comer de tudo para que eu ficasse bem e o bebê ganhasse peso. Queria ir para casa. Poder deitar na minha cama e ter noites tranquilas de sono. No hospital eu não tinha nada disso.

Dei descarga na privada, após me levantar.

Meu estômago estava rejeitando toda comida no momento.

E eu odiava isso. O que meu bebê pensaria?

Mamãe está querendo me matar?

Só não entrava nada dentro da barriga da mamãe.

Suspirei, indo em passos lentos até a cama. Apesar de não ter me visto pelo espelho, minha cara estava pálida. Na verdade, toda minha pele.

Sem perceber, cai no sono.

Cinco meses

E mais uma vez, aquele gel estava em cima da minha barriga. Fiz uma careta, sentindo o creme gélido sobre minha pele.

- Isso vai ser rápido. - Leandro exclamou, passando o mouse, espalhando o gel.

Eu sorri, ouvindo as batidas do coração do bebê.

- Certo. - Aquele mouse sendo passado sobre minha barriga, estava me causando desconforto. - Bem, aqui... - Apontou o dedo na tela. - O corpo já está formado, os braços e as pernas estão vindo depressa. Mas a parte íntima ainda não posso ver. - De forma lenta, deslizou o mouse na minha barriga toda, de maneira que pudesse mostrar a parte íntima do neném. - O bebê está com as pernas fechadas. Talvez dá próxima ele resolva dar sinal de ser menina ou menino. - Peguei o papel de sua mão e limpei minha barriga.

Fiquei triste em saber que não saberia o sexo do bebê, mas logo tratei de ficar aliviada por estar bem e ganhando o peso ideal, apesar da minha má alimentação, ultimamente.

- Até a próxima.

Eu sai de sua sala sem dizer nada. A expectativa me pegou de uma maneira chata. E eu estava chateada e ao mesmo tempo triste.

Queria saber o sexo para ir começando a comprar as roupas ideias, preparar o chá de bebê, o quartinho... Deixei meu corpo escorregar na parede até o chão.

E chorei.

Eu sei que não saber o sexo do neném, não é para tanto e que eu deveria saber agradecer por ele está bem. Mas eu criei um mundo tão inesperado em mente. Dylan... Nossa, ele estava animado. Contando os dias para ir comigo, porém não havia dado. E agora mais essa.

Creio que ele criou mais expectativas que eu.

Apoiei minha cabeça nos meus joelhos, me cobrindo com os braços. Chorava igual criança. A gravidez talvez não tivesse ajudado em um lado sentimental meu. Eu estava pior que antes.

Muito mais sensível a tudo.

Seis meses

De uns meses para cá, minha barriga havia aumentado e eu nem tinha notado a saliência que se formou na mesma.

Minhas roupas já não cabiam mais em mim, e se coubesse, a maioria era vestido.

Dos cinco meses até aqui, foi um pouco difícil de lidar com tudo ao meu redor. Dylan ficou, relativamente, chateado por não ter ido a minha ultrassonografia e por não estar ao meu lado quando soube que não veria, porém tudo já passou. Eu estava um pouco feliz. Comia de tudo mesmo. Engordava cada vez mais e já não conseguia me aguentar em pé.

Resolvi que seria melhor saber o sexo no sétimo mês da gravidez.

Talvez o bebê se sentisse a vontade, e com o tempo ele abriria as pernas.

Sete meses

Dylan me ajudou a andar pelo corredor. Jurava que não queria nunca mais engravidar. Tudo doía.

Ele abriu a porta e me sentou na cama.

Eu deitei, sentindo um alívio por poder descansar as costas.

Leandro entrou, e se sentou.

Todo aquele processo se foi, e as batidas foram ouvidas pela terceira vez. Esbocei um sorriso para Dylan, que tinha os olhos marejados.

No monitor, mostrava um ser maior e parecia que dormia.

- Está com as pernas abertas. - Entusiasmada, me sobressaltei um pouco. - Prontos?

Assentimos, rapidamente, com a cabeça.

- É um grande garoto. - Dylan começou a gritar "é um garoto", e eu ri de sua alegria.

Me contava nas noites que adoraria ter um menino, porém que se viesse uma menina, estaria ótimo também. Já eu, adoraria uma menininha. Mimá-la, colocar de castigo, dar banho, pentear cabelo, dar conselho sobre garotos e escolhas erradas entre as certas. Porém, eu me contentava com um garotinho.

- Nosso garotão, amor. - Dy me deu um selinho.

Chorei de alegria. Me família estava formada, e eu não poderia desejar coisa melhor para minha vida.


No mesmo sétimo mês de gravidez, eu acordei, sentindo dores no pé da barriga. E eu não sabia ao certo se ele queria vim ou se eu estava tendo um aborto espontâneo. Me assustei com a ideia e gritei. Não era hora dele nascer.

Apertei o botão que chamava a enfermeira e ela veio. Olhou minha prancheta e estranhou. Saiu e trouxe outras pessoas com si.

- Dylan...

A última coisa que disse antes de apagar sem ao menos querer.

A Gravidez - Volume 2Where stories live. Discover now