"Assim, seja. A paz do Senhor!" -, disse Amanda se despedindo.

"O Senhor é contigo, irmã!" -, respondeu o Pastor. Amanda saiu e o pastor fechou a porta. Olhou para a sua esposa e soltou o ar profundamente. Luana, a sua esposa, identificou que o caso era grave. Há anos ao lado do marido, nunca se meteu onde não lhe cabia. O seu casamento era permeado de sucesso, liberdade e confiança. Afinal, o amor requer esses predicados.

Isaías cruzou a casa e subiu as escadarias até o quarto de hospedes. A 'menina da madrugada' estava lá. Sentada na cama e olhando para o nada.

O pastor ajeitou uma cadeira de frente com a cama. Sentou e olhou nos olhos dela. Ela o via. Ele sentiu isso. Talvez não quisesse falar. Ele respirou fundo, abaixou a cabeça e falou em tom de segredo: "eu também os vi".

De repente seu olho sentenciou uma fagulha de vida e curiosidade. Ele continuou. "Bem, na realidade, eu vi um deles. Ele esteve aqui. Quando estava no carro percebi bem atrás de mim dentro do meu carro. Foi horrível aquela coisa. Eu sai do carro correndo e fechei a porta na cara dele e entrei em casa. Peguei uma..." -, pensou antes de dizer: "uma coisa para me defender. Jamais pensei em fazer isso na minha vida".

Ela o encarou com os olhos marejados. Ele prosseguiu: "Sou um líder religioso. Imagine a minha situação. Não posso assumir uma coisa dessas publicamente. Irão me chamar de louco, perderei o respeito na minha comunidade e tentarão me convencer de que o que vi foi uma ilusão dada a uma estafa por excesso de trabalho ou sei lá o quê, mas eu vi! Eu sei o que vi! E sei que você também viu". Isaías deu uma pausa para se convencer. Estava incomodado: "Não me faça acreditar que eu estou louco, por favor".

"Eu vi!" -, sussurrou ela. Isaías levantou a cabeça surpresa e respirou aliviado. Ele não estava louco.

"O que mais viu?" -, perguntou Isaías com sede de saber o que estava acontecendo.

"Eu não me lembro. Não estou certa do que vi" -, respondeu a moça num tom quase imperceptível. Isaías se debruçou à cama para conversar com ela: "Como se chama?" -, perguntou a ela.

Ela pensou. Pensou e silenciou. Baixou a cabeça como um sinal de timidez: "Eu... eu, não sei".

Isaías entendeu que estava indo depressa demais. A 'garota da madrugada' tinha passado por um trauma e devia ter seu tempo respeitado. "Descanse, querida. Aqui você estará segura e ninguém te fará mal. Quando estiver preparada, vamos retomar o assunto. Precisamos saber quem é você e lhe entregar de volta a sua família. Enquanto isso, essa casa é sua e eu serei a sua família, se sentir a vontade para isso" -, explicou.

"Estou com sono, preciso dormir" -, ela queria ficar sozinha. Isaías entendeu o recado. Aproximou-se dela e ajeitou a sua coberta como um pai ajeita uma filha. Abaixou-se para acariciar o cabelo de forma fraternal e ela se afastou. Parecia temer contatos.

"Vitimizada. Conheceu a violência" -, pensou. Se afastou respeitando o espaço da garota. "Durma sob a vigilância de Deus. Ele vai te curar as feridas" -, desejou Isaías saindo e encostando a porta.

"O que será que fizeram com a pobre moça?" -, ficou pensando em torturas bizarras e fantasiosas. "Preciso me recompor, não posso deixar esses pensamentos tomarem conta da minha sanidade. A vida não pode parar, tenho um rebanho a pastorear" -, pensou e seguiu para a cozinha bebericar um café.

"Que coisas são essas, para que eles nos querem?" -, se pegou pensando nisso novamente. Lembrou de Maria José e Daniel. Agora entendia na pele o que eles passavam.


*****

"Essa é a valise de Cohen" -, disse Vanessa temerosa. "Com certeza deram um fim nele. Ele jamais deixaria isso facilmente. O que tem aqui pode mudar o destino da humanidade" -, supôs Vanessa preocupada.

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