Capítulo XIV - Quem sabe um começo.

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— Deverias ter mais pena de si mesmo, menino. Me dói vê-lo tentar reavivar uma vida que não mais existirá. Deverias parar de torturar-se tanto com memórias vazias e distantes que jamais voltarão. Deverias buscar um destino menos infeliz.

Viktor sentou-se na poltrona posta estrategicamente fronte a grande lareira que aquecia e ajudava a iluminar o local. As luzes alaranjadas das chamas dançavam nas paredes vinhos do local.

— Volto a dizer: tu não és nada sútil, as vezes — ele respondera calmo com um sorriso triste nos lábios.

— Somente sou sincera contigo, meu menino — ela aconchegou-se em outra poltrona próxima a de seu menino. Bolachas e chá estavam em uma bandeja prata na mesinha de centro entre as poltronas e a lareira — Gostaria de um dia vê-lo sorrir novamente.

— Também gostaria embora não creio que isso vá acontecer​.

— Chá? — Margareth ofereceu enquanto já enchia duas xícaras de porcelana com o líquido esverdeado. Viktor aceitou com um movimento afirmativo.

— Como ela está? — perguntou já pegando sua xícara.

— Bem se comparado a quando a trouxesse.

— Já se encontra desperta?

— Vez ou outra alucina e fala palavras sem nexo. Por vezes chamou alguém cujo nome é Elliot e logo em seguida Elena. Logo após isso volta a dormir serena.

Viktor fitava a lareira, as chamas dançantes e consumir a madeira. Bebericava vez ou outra o seu chá embora não sentisse apetite em bebê-lo. Um silêncio desconfortável havia se instalado no local e Viktor não pretendia desfazê-lo quando a própria senhora o fez após um gole de seu chá.

— Sei que em teu íntimo ainda guardas esperanças de que seja ela. Menino, por favor arranque qualquer tipo de ilus...

— Não tenho esperanças — Viktor a interrompeu — Não mais. Não nego que a vontade de ainda manter a chama esperançosa em mim ainda se faz presente. Mas eu já tive muitas provas de que essa esperança é tola e vã — Margareth ficou em silêncio. O tom vago e seco de seu menino já lhe mostrara o quanto aquilo o incomodava​. Viktor continuou fitando o fogo, as chamas hipnotizantes a dançarem sua dança silenciosa.

                                ***

Margareth adentrara o quarto de sua nova hospede que ainda mantinha-se adormecida. A garota estava melhor embora, em todo o tempo em que estivera ali após o ataque brutal da alcatéia, ainda não houvesse despertado.

A senhora trazia consigo uma tigela de barro onde haviam ervas esmagadas para o novo curativo. Ela pôs o recipiente sobre a mesa-de-cabeceira e dirigiu-se até a sacada abrindo a cortina branca deixando a luz fraca daquele dia cinzento entrar.

Ela caminhou até a moça sobre a cama e delicadamente foi retirando o antigo curativo para fazer o novo. A menina estava magra, havia emagrecido um bom tanto visto que Margareth não pudia alimenta-la adequadamente quando a mesma estava desacordada.

— O que... — uma voz baixa e rouca soou no ambiente — Onde estou?

— Sinto-me aliviada em vê-la desperta pela primeira vez em dez dias — Margareth falou calma já passando as ervas sobre o ferimento da moça.

Kristen sentia-se zonza, não via mais que borrões e sua perna formigava. Sentia seu corpo inteiro doer, e um enjôo se fazia presente.

— Dez dias? — ela perguntou baixo sem saber direito o que estava perguntando.

Meu Imortal - A Maldição De ViktorWhere stories live. Discover now