Velhos sentimentos...

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Fernanda acordou com Patrick se vestindo. Ainda estava escuro.

– Você já tá indo?

Ele voltou para cama, carinhoso:

– Sim, minha linda. Preciso ir...

– Nem tivemos tempo de conversar. Estou pensando em ir um pouco para São Paulo. Você entende?

Patrick passou a mão delicadamente sobre seu rosto:

– Claro que eu entendo, linda. Se eu pudesse eu ia com você...

– Não fica chateado?

– Jamais! Quero que você se sinta bem... e quando voltar, estarei bem aqui.

Fernanda suspirou, aliviada. As coisas eram tão simples com Patrick, que ela até estranhou o fato de ele sequer perguntar mais detalhes. Depois voltou a dormir.

Durante o café, Frank lhes trouxe o leite recém tirado da vaca e conversaram amenidades, até o momento em que Nicolas se lembrou da praia e comentou sobre Romeu. Nesse momento, Fernanda reviveu suas lembranças e desejou que dessa vez a praia fosse bem diferente. Nicolas insistia em falar sobre Romeu, e até Frank o interrompeu, dizendo que agora Fernanda estava com outra pessoa, mas o irmão demonstrava, nitidamente, sua preferencia pelo músico e não havia nada que eles pudessem fazer...

Passava da 13:00h, quando pegaram a estrada. Fernanda sentia um alivio e uma sensação estranha de liberdade. Toda vez que viajava, se sentisse culpada em deixar Panda para trás, mas agora ele já não estava mais lá...

Suspirou, abriu o diário e tentou relaxar, enquanto ouviam Ella Fitzgerald...

Caro diário,

Tantas coisas aconteceram ultimamente... eu, que geralmente vejo meus dias se repetirem sem muitas novidades...

João Américo, meu irmão mais novo, chegou para viver conosco! Não posso dizer o quanto estou feliz... Primeiro, porque ele é um rapaz cordial, carinhoso e como homem, pode nos ajudar e muito.

Existem muitas limitações pelo fato de eu ser mulher... A princípio os negociantes estavam sendo muito prestativos comigo, talvez por pena de mim pela recente morte de Antônio, mas depois que viram nosso progresso, me boicotam.

Acho que no fundo, todo homem teme ser superado por uma mulher, e por isso, fazem questão de nos humilhar.

João tomou à frente com os negociantes e eu consigo ter mais tranquilidade para cuidar do que amo... da fazenda e dos meus tantos escravos que hoje são empregados...

Ah, caro diário... como os tempos são diferentes agora... hoje é possível ver um sorriso no rosto dos negros. Eles trabalham com amor e tranquilos. Até parece que os pés de café sentiram isso, pois nunca antes nossa safra foi tão próspera.

Suas crianças correm soltas e Maria Inês começou a educá-los. Sim! Agora temos uma pequena escola, onde aprendem a ler e escrever e catecismo...

Que os ventos continuem a trazer lindas histórias...

Um dia de Fevereiro de 1887,

Estela de Albuquerque.

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