A vida é curta...

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 Romeu estava nervoso. Não tinha o costume de se olhar demoradamente no espelho, mas a ideia de se encontrar com Fernanda o deixou inseguro.

A barba estava um pouco crescida, será que ela iria aprovar? O cabelo continuava bem aparado, e o sorriso permanecia perfeito, do jeito que ela gostava.

Vestiu uma camiseta polo branca e a calça jeans que ela tinha lhe dado, e que caia perfeitamente bem. Passou um perfume e pegou seu capacete.

Ainda não tinham tido tempo de conversar e ele não sabia direito se a tia sabia sobre eles, mas Fernanda não tinha se mostrado preocupada, pelo contrário, mandou uma mensagem para ele vir almoçar com elas.

Durante o trajeto, parou para comprar uma caixa de bombom e um vinho branco, assim teria um presente para cada uma.

Sandra abriu a porta da entrada com um sorriso, malicioso:

– Oi, Romeuzinho! Pode entrar, a patroa tá lá no terraço com a tia.

Romeu deu um beijo em Sandra, que sorriu, surpresa. Ele passou a mão sobre seu ombro de forma carinhosa:

– Obrigado, Sandra. Bom te ver!

– Bom mesmo.

Ele seguiu pelo extenso corredor. A porta dos fundos estava aberta e na medida em que seguia, seu coração batia mais forte. Sabia que a poucos metros ela estaria lá...

Finalmente passou pela porta. Fernanda estava de pé, de costas para ele. Mostrava alguma coisa para a pequena senhora.

Tia Lurdinha foi a primeira a vê-lo. Abriu um sorriso enorme, acabando com qualquer insegurança que ele estivesse sentindo:

– Olá, Romeu! Quanto tempo.

– Olá, Tia. Bom vê-la aqui...

Fernanda ficou olhando para ele, como quem diz: "Que lindo que você está". Em seguida, se abraçaram e para a surpresa dele, beijou sua boca na frente da tia. Ela pegou em suas mãos, dizendo:

– Tia Lurdinha já sabia de tudo!

A tia riu também:

– Quem não sabia? Até a Nazaré sabia...

Ele riu alto, tapando o rosto com as mãos:

– Ah meu deus...

– Olha aqui, minhas crianças... A vida é muito curta para deixarmos de viver as coisas lindas que ela provê. Portanto, vivam esse amor. Vou aproveitar para ajudar a Sandra com a salada. Com licença.

Fernanda sorriu, dizendo:

– Obrigada, tia.

Assim que a tia saiu, ela se pendurou nele. Os corpos se uniram, beijando-se loucamente.

– Que bom que você veio! Tá tão lindo...

– Você quase me mata do coração com sua tia, Fernanda...

– E eu fiz de propósito.

– Não poderia ter me deixado mais feliz...

– Vem cá...

Fernanda o puxou pelas mãos até seu quarto.

– Agora?

– Sim... preciso de você.

Panda, que estava deitado, se levantou no mesmo instante e tentou entrar no quarto. Fernanda foi mais rápida e antes dele entrar, o segurou e passou a mão sobre sua cabeça:

– A mamãe já volta, Panda. Com licença.

Ele insistiu, mas depois compreendeu que tinha perdido a batalha, e se deitou na porta, como uma sentinela.

Fernanda o abraçou e Romeu agradeceu, pensando:

– Obrigado, senhor... obrigado por poder ter a mulher da minha vida em meus braços novamente.

Fizeram amor de forma silenciosa, enquanto suas mãos se tocavam e seus lábios se beijavam. Amor olhando dentro dos olhos, querendo trocar e explodir!

Permaneceram alguns minutos abraçados. As janelas do quarto estavam abertas e o azul do céu parecia se misturar com a leveza do corpo depois do prazer... Fernanda sentia que estava voando.

Sorriu alto quando se lembrou de Estela e Eunésio, mais ainda, porque sabia que debaixo de sua cama, estava o baú com todos os outros diários!

Em seguida, foram até a cozinha ajudar a tia. Fernanda achou graça, ao notar como Sandra já estava íntima da velha senhora. As duas estavam sentadas na mesa da copa cortando verduras e fofocando:

– Vocês já se conheciam, tia?

– Sim, desde que Sandra era pitititica.

– É verdade, dona Fernanda. Eu me alembro que a sua tia trouxe roupa e brinquedo pra nois tudo.

Tia Lurdinha arregalou os olhos. Era verdade, ela tinha feito isso, mas jamais poderia imaginar que uma criança fosse se lembrar de uma coisa, há quase vinte anos atrás...

– Que memória que você tem, Sandra.

– Ah, dona Lurdes. O povo aqui não esquece essas coisa não. Sem conta a dona Raquel, essa era boa demais.

Tia Lurdinha pousou a mão sobre o ombro de Fernanda:

– Mas agora vocês ganharam essa menina aqui...

Fernanda sacudiu os ombros:

– Não sou como minha mãe, mas também tenho bom coração...

– Tem sim, dona Fernanda. Olha, eu nunca vi esse cachorro ficar desse jeito como quando a senhora foi embora.

Panda estava deitado como uma sombra ao lado de Fernanda. E ela não se aguentou e pulou em cima dele:

– Não largo esse lobo imundo por nada nesse mundo!

As duas riram alto, enquanto Fernanda rolava com o cachorro pelo chão da cozinha... 

...

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