Sonho ou realidade?

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 Correntes arrastavam-se pelo chão. O ruído era tão forte, que ninguém conseguia dormir. Gritos e pedidos de socorro vinham sem cessar. A fazenda estava pegando fogo! Os escravos estavam presos dentro da senzala. Estela puxava Fernanda pelos braços.

– Precisamos tirá-los de lá! Depressa!

Fernanda olhou para Estela. Lá estava ela, era tão real... Como se fosse possível reunirem-se em um breve instante de tempo entre os dois séculos... Estela chorava, desesperadamente e Fernanda correu com ela pela fazenda.

Notou que Estela era uma menina. Sua pele era tão branca e seu semblante tão ingênuo. Ela estava desesperada! Queria salvar seu príncipe negro...

Estela se jogou forçando as portas de madeira da senzala. O fogo aumentava. De repente, a porta se abriu e Estela se jogou dentro da senzala, deixando a porta se bater entre elas... Fernanda deu um grito e acordou, assustada.

Romeu abriu os olhos. Em seguida a abraçou por trás e passou as mãos sobre sua testa:

– Você teve um pesadelo?

– Sim.

– Está tudo bem. Foi apenas um sonho, tente dormir...

Fernanda se virou e sorriu ao vê-lo deitado ao seu lado. Ele se encaixou atrás dela. Seu corpo estava quente e ela fechou os olhos, e adormeceu.

Quando acordou passava das 10:00h. Panda fazia bagunça pelo quarto e Romeu ainda dormia. Fernanda abriu as cortinas, deixando um pouco da luz do dia entrar.

Aos poucos, Romeu abriu os olhos. Panda pulou com suas patas na cama fazendo festa, e Fernanda se sentou na beirada da cama:

– Você é bom de cama, hein?

– Achou?

– Achei! Olha que horas são!

– Que pena, pensei que fosse em outro sentido...

– Bom de cama em ambos sentidos! Mas a gente foi dormir tarde mesmo, e eu, para piorar, acordei no meio da noite com aquele pesadelo.

– O que você sonhou?

Fernanda ia contar, mas depois achou melhor não dizer nada sobre Estela e seu passado. Ainda era cedo...

– Não foi nada demais. Mudando de assunto, estou precisando ir à São Paulo essa semana e gostaria de saber se você topa...

Romeu foi direto:

– Que dia você quer ir?

– Amanhã.

– Eu posso tentar falar com um amigo músico, que me substitui quando preciso.

– Ah, isso seria demais.

– Vou mandar uma mensagem agora mesmo.

– Ótimo. Mas com uma condição, Romeu. As despesas de viagem são minhas.

Romeu sorriu meio sem graça e balançou a cabeça:

– Por quê?

– Não se ofenda. É porque eu quero te convidar.

– Mas assim você me subestima...Que tal a gente dividir?

Fernanda se irritou, ele era muito complexado.

– Então tá. Vamos tomar café?

Romeu se sentou na mesa da cozinha, sem graça. Sandra corou e não disfarçou o susto ao vê-lo acordar no quarto da patroa. Ela sabia que Fernanda era casada e lançou um olhar de condenação para Romeu. Assim que se viu sozinha, comentou:

– Você é louco, menino? A patroa é casada.

– Não quero falar com você sobre isso, Sandra. Nem acho que Fernanda ficaria feliz ao saber que você está se metendo.

No instante Fernanda voltou:

– Ficaria feliz com o quê? Posso saber?

– Nada, dona Fernanda.

Sandra se retirou, nervosa. Sabia que não tinha que ter se metido, mas não estava certo isso. O que o povo iria dizer? A patroa era casada!

Fernanda entrou logo atrás de Sandra. Fechou a porta que separava a cozinha da copa, ficando a sós com a empregada:

– Sandra? Sei que você está assustada com o que viu. Não deveria estar te dando satisfação, mas também não quero que o Romeu fique se sentindo mal. A verdade, é não sou mais casada. Eu e James estamos nos separando. Eu gostaria que você não comentasse isso com ninguém.

– Sim senhora. Eu não tenho nada a ver com isso.

– Sandra? Você me ouviu?

– Claro, dona Fernanda.

– Assim espero. Não quero me sentir mal na minha própria casa. Estou solteira e durmo com quem eu bem entender. Não quero saber de outra situação como essa que presenciei hoje. Estamos entendidas?

– Sim senhora.

– Ótimo. E mais uma coisa. Estou indo para São Paulo e fico por uma semana.

– Fique tranquila, dona Fernanda. A senhora quer que eu arrume suas malas?

– Não precisa.

Fernanda e Romeu tomaram o café da manhã sem comentar o ocorrido. Depois do café, voltaram para o quarto e trancaram a porta. Panda não os deixava em paz, e decidiram deixá-lo entrar.

Fizeram amor, enquanto o cachorro permanecia deitado no carpete, cabisbaixo. Quando os gemidos se intensificavam, levantava as orelhas curioso e logo depois baixava a cabeça, como se compreendesse que não era sua hora de aparecer.

Adormeceram, exaustos e acordaram com o barulho da mensagem do celular de Romeu. Ele se virou para ela, satisfeito:

– Milton vai poder me substituir.

– Que ótimo! Não vejo a hora de fazer amor com você na casa da minha tia.

Ele sorriu e ela comentou, maliciosamente:

– Adoro coisas proibidas. Você vai ficar em outro quarto, e eu vou te visitar na calada da noite.

Os dois riram e se abraçaram. Fernanda beijou sua boca carnuda, e por um instante, se sentiu como Estela, nos braços de seu príncipe negro...

...

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