Mapa do Tesouro

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Logo depois do almoço, Fernanda se sentou na sala de estar para tomar seu cafezinho. Ficou observando a natureza que se estendia através das grandes janelas coloniais, enquanto o sol quente a impedia de sair de casa. O 4g não estava funcionando , e sem ter o que fazer, decidiu ler o relatório escrito à mão.

Notou que a fazenda tinha um pequeno quadro de funcionários. Eram apenas o administrador João, a faxineira Sandra, o caseiro Amarildo e seu filho Clodoaldo.

A fazenda vivia do arrendamento da cana de açúcar, o que garantia o salário dos funcionários e mais 15.000 reais. O que ela julgava pouco para uma fazenda arrendada e, insignificante em relação aos milhões que poderia ganhar através da venda das terras.

Ligou para seu conhecido Alex Ayala, um brasileiro que morava em NY , e que a pouco tempo tinha voltado para o Brasil, para investir em imóveis.

– Fernandinha, que bom que você ligou. Estava pensando em você.

– Que bom, Alex. Já estou na fazenda e devo ficar aqui pelo menos uma semana. Não quer vir para cá?

– Vou falar com o Edson Carvalho, o empresário que te falei. Ele está super interessado nas terras.

– É mesmo?

– Disse que a anos vêm tentando negociar essas terras, mas sua mãe sempre se negou.

– Ah, ele conhecia minha mãe? Pois diga a ele que as coisas mudaram agora.

– Ótimo. Se tudo correr bem, chegamos no sábado. Pode ser?

– Por mim ótimo. Alex, fiquei curiosa. Quanto você acha que essas terras valem?

– Olha, Fernanda. A última avaliação feita pela LANDCORP, chegou em aproximadamente 200 milhões. O metro quadrado dessa região está muito valorizado.

Fernanda recostou na cadeira. Não podia ser real, jamais imaginou essa quantia. Deu risada lembrando da Tia Lurdinha. Como se contentar com o arrendamento de míseros 15.000 reais...

Desligou o telefone de bom humor e resolveu dar um passeio pela sede.

O corredor do casarão era cheio de histórias. Suas tábuas largas rangiam, dando a impressão de que iriam desmoronar. Pelas paredes pendiam quadros com fotografias de pessoas, que Fernanda supôs serem seus antepassados.

Deparou-se com um caderno de capa de couro antigo, que ela não fazia ideia do que se tratava. Resolveu abrir e já na primaria página, encontrou uma lista dos escravos que lá viveram, com seus nomes, idades, pesos e ocupações. Sentiu um arrepio ao constatar que aquilo tudo havia acontecido debaixo dessas mesmas construções. Tantas histórias humanas...Entre barões do café, a escravos trazidos por navios negreiros em mares bravios...

Caminhou até a varanda. De lá era possível avistar o que um tinha sido a senzala, a igreja, e o terreiro de café. Sentou-se no banco de madeira para apreciar o por de sol. O ar estava fresco e a brisa trouxe um agradável aroma de flores.

Acendeu um cigarro e lá ficou, até o sol começar a desaparecer atrás do vale, deixando um mágico colorido no horizonte.

Ouviu um barulho vindo das escadas e seu coração disparou. Um pastor alemão surgiu correndo em sua direção. Antes que pudesse reagir, o cachorro pulou em cima dela fazendo festa e a lambendo. Em instantes a empregada surgiu:

– Sai daí, seu maroto!

Sandra o puxou pela coleira e Fernanda se sentou recuperando o fôlego:

– De quem é esse cachorro?

– Desculpa, dona Fernanda. Ele é meu.

– Meu deus, pensei que seria devorada.

Sandra riu e alisou a imensa cabeça do cachorro:

Ser Humano AtemporalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora