Caixa de e-mails

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 O voo atrasou cerca de quarenta minutos. Enquanto aguardavam no salão de embarque, Frank saiu para comprar algo para comerem. Fernanda estava impaciente, balançando as pernas, enquanto Romeu massageava suas costas.

Fechou os olhos para se concentrar naquelas mãos deliciosas, quando ouviu o barulho de mensagem de e-mail. Era Michael Duboe!

Dessa vez ficou curiosa. Será que o chefe já sabia sobre James? Mas como, se ela não tinha falado nada para ninguém. Quem sabe a embaixada americana tivesse dado a nota do falecimento?

Respirou fundo e ouviu novamente o barulho de mensagens. Dessa vez era de David, o advogado. Decidiu esquecer os e-mails e aproveitar a companhia de Romeu...

Assim que se acomodaram, Fernanda pegou na mão de Romeu:

– Preciso resolver tantas coisas agora. Não basta as minhas, tenho que resolver as de James também. Mas assim que eu resolver, volto pro Brasil, tá?

– Entendi. – Romeu estava nitidamente desapontado. Não entendia porque ela não o tinha convidado para ficar em Nova York, mas decidiu ficar quieto. Ela já tinha feito muito por ele... novamente a sensação de que ela não queria assumi-lo o bombardeou de paranoias, e ele resolveu fechar os olhos e relaxar.

Ela notou que ele estava chateado e a princípio sentiu uma pontada de culpa. Mas como iria levá-lo naquele momento? Tinha acabado de ficar viúva... logo em seguida, sentiu seu sangue subir. Ele estava sendo mimado e ingrato, e ela também fechou os olhos e relaxou.

Acordaram na hora da primeira refeição. Jantaram em absoluto silencio e assim que aeromoça levou os pratos, ela não se aguentou:

– O que foi, Romeu?

– Não foi nada.

Ele fechou os olhos e recostou-se na poltrona, e ela insistiu:

– Você está assim porque eu não te convidei para ficar em NY. Não é?

– Um pouco.

– Se coloca no meu lugar. Eu era uma mulher casada, como, de repente, surge você?

Ela tinha razão. Suas fraquezas o cegavam de tal forma, que ele sequer pensou nisso.

– Desculpa. Acho que estou triste por não saber quando vou te ver de novo... me perdoa? Só tenho a te agradecer por essa viagem incrível.

Ela permaneceu olhando para frente e respirou fundo:

– Pensa um pouco antes de reagir assim? Poxa...

– Desculpa, Fernanda.

– Você faz ideia do que eu fiz para te ver? Ou não?

– Sim... eu faço.

– Por muito pouco eu não consigo me despedir de James...

– Já assumi que fui um idiota, Fernanda. Não sei mais o que dizer...

– Também estou chateada por ter que ficar longe. Você tem ideia do que eu to passando?

Ela começou a chorar, e ele a abraçou forte. Depois, levantou o braço entre as duas poltronas e ela se acomodou em seu peito.

Eram seis da manhã, quando aterrissaram em NY. Romeu já sentia um aperto no peito, em alguns instantes iriam se separar... Seu voo para o Brasil estava agendado para as seis e meia e, por pouco, não perdeu a conexão.

Fernanda lhe deu um beijo demorado e passou as mãos sobre seu rosto. Uma barba rala crescia, dando a ele um ar mais sério e charmoso:

– Me avisa assim que chegar, tá? Vou fazer o máximo para agilizar minhas coisas. Te amo!

– Tá bem. Se cuida? Também te amo!

Romeu esperou cerca de vinte minutos em saguão luxuoso da primeira classe, até o chamarem para o novo embarque. Apesar de estar triste, estava na área business e não hesitou em pedir um champanhe. Mesmo com toda essa situação, a vida jamais havia lhe dado tanto, e ele simplesmente fechou os olhos e agradeceu.

...

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