Passado a primeira euforia, restou a ressaca. Estava tão ansiosa que bebeu duas garrafas de espumante em menos de duas horas.
O quarto rodava, e ela não teve outra solução, se não correr para o banheiro. Nada a incomodava mais do que vomitar. Era terrível! Lembranças de sua infância vieram à tona, e ela se deitou sobre o frio piso de lajota do banheiro e chorou.
– Vamos, minha filha! Pare de chorar. Já passou.
– Não, mamãe. Eu odeio vomitar!
– Levante-se desse chão, Fernanda!
Aquela menininha tinha voltado no tempo, e chorava no piso do banheiro. Panda arranhava a porta do lado de fora, enquanto passos apressados corriam pelo chão de madeira. Sandra bateu na porta:
– A senhora tá bem, dona Fernanda?
Não houve respostas.
– Ai meu deus. O que a senhora tem, dona Fernanda?
Sandra correu em direção à sua casa para chamar pelo marido, quando esbarrou com um motoqueiro entrando na fazenda. Assim que o rapaz retirou o capacete e sorriu, ela o reconheceu. Era Romeu, filho de Anastácia!
– Boa tarde, Sandra. Tudo bem?
– Romeuzinho! Quanto tempo!
Sandra estava pálida e Romeu estranhou:
– Aconteceu alguma coisa, Sandra?
– Você pode me ajudar? A minha patroa está desmaiada dentro do banheiro.
– A Fernanda?
– Sim.
Os dois correram e Sandra bateu novamente na porta. Ninguém respondeu.
Romeu forçou a tranca e nada. Apressado, bateu com o corpo na porta, até que ela se abriu. Fernanda estava deitada no chão, chorando.
Romeu se ajoelhou para ajudá-la:
– O que houve, Fernanda?
Ela reconheceu aquela voz grave e abriu os olhos.
– Romeu? O que você está fazendo aqui?
– Vim te visitar. Vamos, me dê sua mão.
Aos poucos, Fernanda se levantou e apoiou os braços em Romeu. Lentamente caminharam até o quarto. Sandra tirou a colcha de sua cama, e Romeu a ajudou a se deitar.
– Procure descansar, Fernanda.
– Não quero descansar.
– Talvez seja melhor eu voltar em outro momento.
– Não. Já estou melhor.
Sandra passou a mão sobre a testa de Fernanda.
– A senhora aceita um chá de boldo?
– Aceito sim, Sandra. Veja o que Romeu quer. Tem cerveja na geladeira.
– Não, obrigada. Eu aceito uma água.
Sandra saiu do quarto se perguntando como Romeu a conhecia. Será que patroa sabia que Romeu era neto de escravos que viveram anos naquela mesma fazenda?
Romeu se sentou ao lado da cama:
– Espero não ter danificado muito sua porta.
– Depois mando trocar a fechadura.
– Por que você estava chorando? Aconteceu alguma coisa?
– Ah, besteira. Bebi demais e odeio vomitar.
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Ser Humano Atemporal
RomanceDuas histórias separadas pelos séculos. Duas mulheres unidas pelo mesmo sangue. Em comum, o sentimento humano, que ultrapassa as barreiras do tempo, e é capaz de realizar as mais profundas transformações...