O último suspiro

20 0 1
                                    

Eram seis da manhã, quando saíram da pousada. Romeu foi dirigindo enquanto Fernanda observava o céu. Uma pequena estrela brilhava solitária, enquanto uma explosão de cores se espalhava pelo horizonte. Fernanda sentiu o coração apertar, nunca se considerou uma pessoa intuitiva, mas ultimamente estava abrindo portais jamais sentidos

Devolveram o carro na locadora e tomaram um ferry de volta à ilha de James. Fernanda estava apreensiva, com medo de não o encontrar com vida, mas Frank sabia que ela estava voltando, e qualquer coisa, iria avisá-la.

Assim que saíram do ferry, Fernanda o abraçou, e logo lhe entregou um maço de dinheiro:

– Encontre um lugar legal. Deixe o telefone carregado, te ligo assim que der.

Ele ficou sem graça, mas simplesmente concordou. Ela o abraçou, e alisou seu rosto:

– Aproveite seu dia! Nos vemos a noite.

Fernanda chegou em casa esbaforida, e encontrou Frank sentado no sofá da sala.

– Como ele está?

– Nada bem.

– Posso vê-lo?

– Claro.

Ela abriu a porta do quarto e James abriu os olhos. Uma máscara de oxigênio cobria sua face, mas ele estava consciente, e retirou a máscara:

– Você veio se despedir?

Fernanda se aproximou:

– Sim, James.

– Obrigado! Eu tive os melhores dias de minha vida.

Fernanda começou a chorar e James deu a mão para ela:

– Promete que vai fazer o que te pedi?

Ela já nem lembrava o que era, mas respondeu como se lembrasse:

– Prometo.

– Você se lembra o que era?

Fernanda só lembrava da herança de Frank:

– Sim, James.

– Promete que vai cuidar de você?

Ela começou a chorar mais ainda, e passou a mão sobre seu rosto:

– Desculpa qualquer coisa que eu tenha feito, tá? Sei que também não fui uma pessoa fácil.

– Você foi maravilhosa. Obrigado por tudo, meu amor.

Frank surgiu na porta e James pediu que ele se aproximasse. Falou bem devagar e com uma voz calma:

– Cuidem- se. Estou indo em paz, meus amigos. O que estou sentindo é interessante.

James ficou sem ar e Frank se aproximou para colocar a máscara de volta em seu rosto. Ele respirou e logo depois a retirou:

– Estou sentindo como se metade do meu corpo já não estivesse aqui. A dor está diminuindo muito, sinto que estou morrendo.

Frank também lhe deu a mão e James lhe sorriu, dizendo:

– Obrigado, meu fiel amigo. Te amo! Até!

James olhou para os dois e fechou os olhos. Em instantes, deu seu último suspiro e partiu.

Frank se apressou para medir os pulsos e começou a chorar, desesperadamente.

Fernanda se afastou um pouco e os deixou a sós. Seu coração também estava em frangalhos e pensou na coincidência da morte de James, e de sua mãe. Ambos a esperaram para morrer...

Caminhou até a piscina, sentou para fumar e pegou seu celular.

Em menos de uma hora, Yaha levou as autoridades e um médico para constar a causa mortis. O médico prescreveu que o óbito foi causado por parada cardiorrespiratória consequência de uma cirrose hepática, e Fernanda procurou a embaixada americana para que eles autorizassem a cremação do corpo, assim como James queria.

O dia tinha sido cansativo, Frank não sabia se era pior enterrar seu grande amor, ou estar com as cinzas dele em suas mãos... como James poderia estar dentro daquele pote?

Na manhã seguinte, partiriam bem cedo em um passeio para jogar suas cinzas... James decidiu ficar por ali mesmo, já que nunca tinha sido tão feliz, como no sul do Pacífico...

Fernanda e Frank conversavam na sala. Frank bebeu mais do que o devido, estava cambaleando, mas também estava com a sensação de dever cumprido. Pensando bem, as coisas aconteceram de um jeito maravilhoso. Ele se foi calmo, aceitando sua morte.

Agora ficariam as lembranças...

Yaha e Zana foram muito especiais, e acompanharam tudo até o último momento. Fernanda sentia que tinha ganhado dois amigos e prometeu a si mesma, que iria convidá-los para sua fazenda no Brasil. Depois riu de si própria... Sua Fazenda? E a resposta foi um imenso, sim! Depois de muitos anos fora, queria estar no seu país, vivendo perto da natureza... A ideia de trabalhar com agro floresta parecia motivá-la, ainda que não ganhasse dinheiro de início. Afinal, com as casas de aluguel de sua mãe e James lhe deixara, dinheiro era o que não lhe faltava nesse momento.

...

Ser Humano AtemporalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora