35. Onde os Lobos Habitam

Start from the beginning
                                    

◆◆◆◆◆

Eu não fechei os olhos durante todo o caminho, ciente de que aquilo tudo podia ser uma armadilha. Aquilo era uma armadilha, com certeza. A questão era de quando ela seria disparada.
Não saber me deixava ansioso e irritado. Eu sabia que Apollon estava me usando, mas não sabia o que fazer para pará-lo. Ele simplesmente apelou em toda a situação: O ponto fraco de Bonnie era Soledad e o meu era a própria Bonnie (por mais que eu odiasse admitir isso).
Ela era todo o ponto de foque de minha vingança. Sem ela, todo o plano seria desintegrado. Eu não arriscaria deixá-la sozinha por muito tempo para que fizesse alguma idiotice, como por exemplo, perfurar seu próprio pescoço com uma tesoura.
Havia uma ousadia totalmente desfeita de medos em sua expressão. Ela não temia a morte. Não a sua própria.
E isso me assustava.
Um leve movimento ao meu lado fez os pensamentos irem embora. Bonnie, que estava adormecida- provavelmente, por causa de todo o exercício da noite passada- se mexeu contra o banco de couro, fazendo sua cabeça pender para o meu ombro.
Fiquei estático.
No mesmo instante, ergui a mão para afastá-la, mas quando vi a forma como ela dormia tão bem contra meu braço, decidi deixá-la ali mesmo. Os cabelos escuros sobre seu rosto me impediam de vê-la com clareza, então os afastei com cuidado para não acordá - la.
Um suspiro baixinho assobiou por seus lábios entreabertos e sua mão correu por meu peito, se enganchando sobre o meu ombro.
Meu coração morto de um pulo em um de seus longos intervalos entre as batidas. Levantei a mão livre de seu corpo, e segui o contorno de sua pele desde o ombro, até a unhas que apertavam a camisa sobre mim.
- Damon...- ela disse, ainda dormindo-... você vai voltar..?
Aquilo fez minha mão cair de seu braço para minha perna.
Claro. Ela estava sonhando com ele. Não sei porque fiquei tão surpreso. Se ela estivesse sonhando comigo à essa altura teria feito os lobos entrarem em polvorosa com seus gritos de terror.
Não fiquei irritado com o fato de ela estar sonhando com aquele vampiro filho da mãe. Afinal, eu os observei por um mês inteiro e se tivesse algo entre os dois, eu teria visto no Mundo Prisão. Fiquei irritado por não ser o meu nome que ela estava suspirando.
Não a tirei de meu peito, mas desviei os olhos para fora do carro. O sol ainda estava brilhando lá no alto e os prédios de Portland brilhavam com suas fachadas perfeitamente limpas, me fazendo lembrar da cobertura. A tentação de voltar para lá com Bonnie, foi imensa, quase paralisante. Mas, isso só faria Apollon me irritar mais, pois ele nunca pararia de nos perseguir até ter o que queria.
E em uma situação tão perigosa, com as vidas de Bonnie e Sol, inclusive a minha, em perigo, só podia fazer com que eu ficasse mega curioso. Tirando todos os fatores ruins, aquilo era melhor do que passar todos aqueles meses tediosos em uma casa de luxo.
Tive que admitir que estava um pouquinho animado com aquela situação.
O negócio começou a ficar interessante, quando nos afastamos do centro da cidade, indo para uma área conhecida por seus subúrbios de luxo. Quase esperei ver donas de casa com saias rodadas, crianças correndo atrás do sorveteiro e pais polindo suas banheiras ambulantes. Mas, estava tudo... estranhamente... estático. Como se as pessoas estivessem com muito medo de sair de suas casas, ou simplesmente as tivessem evacuado as pressas.
O carro seguiu por mais ruas desertas até nos depararmos com um imenso portão de ferro, com um posto de guarda lateral, no qual um cara franzino vestido com uniforme de porteiro se inclinou por sobre uma abertura na janela.
Um dos brutamontes à nossa frente também se inclinou, dizendo alguma coisa à ele. O porteiro, olhou para nós. Bom, acho que foi para nós, já que o vidro escuro impedia qualquer contato visual.
Ele assentiu de imediato e os portões automáticos se abriram, arrastando - se sobre as pequenas rodas. Enquanto o carro passava pelos portões, pude ver o brilho amarelado nos olhos escuros do porteiro. E ele olhava diretamente para mim, através do vidro.
Bonnie estremeceu ao meu lado.
Forcei um sorriso e olhei para ela.
A garota se afastou de mim, como se tivesse descoberto que eu carregava escorpiões embaixo da camisa. Não que estivesse carregando.
Seus olhos verdes, tentavam não mirar os meus.
- Você dormiu o caminho todo- alfinetei- Acho que babou algumas vezes na minha camisa, também, mas nada que sabão em pó não resolva.
Ela revirou os olhos, tentando não olhar para mim.
As piadas se acabaram quando percebi onde estávamos.
Conforme o carro deslizava pelas ruas, cheias de pessoas transitando de um lado para o outro, com crianças e adultos em maioria, percebi as enormes casas projetadas. Sem toda aquela breguice colonial da Virgínia.
Elas cresciam até com um segundo e até um terceiro andar, com mais janelas do que eu podia contar, em cores variadas entre o cinza, preto, branco e café.
Não precisava ser um gênio para saber que aquilo era um condomínio ultra moderno e novinho em folha.
Bonnie também estava impressionada com tudo aquilo. Tanto que se inclinou sobre mim para ver a quadra particular de tênis, juntamente com outra de basquete, uma piscina mais ao longe- onde crianças brincavam. E claro, como se não fosse muita ostentação, eles tinham um mini campo de golfe que era tudo, menos mini.
Seguimos por ruas e mais ruas, até que o carro parou no meio fio diante de uma casa enorme e cinzenta com um gramado tão verde que doía os olhos.
O nosso chófer lobo desceu do carro, junto com seu parceiro e nos convidaram gentilmente à sair dele, também. Percebi que nenhum deles ousou colocar os olhos em Bonnie.
Meu recado estava dado.
Ajudei Sol a sair do carro e esperamos na calçada, enquanto Apollon caminhava em nossa direção com os brutamontes em seu encalço.
- Imagino que estejam cansados com toda essa pequena viagem- comentou- Então, gostaríamos que se sentissem à vontade para desfrutar da casa. Ela é toda de vocês enquanto permanecerem aqui.
Ele estendeu um molho de chaves pra mim. O peguei, desejando poder arrancar seu braço junto.
- Temo que tenha alguns afazeres agora- continuou- Mas, ficarei muito feliz em recebê - los em minha casa mais tarde. Encarregarei um dos rapazes aqui, para levá-los até lá.
A proposta não era algo para se declinar. Aquilo estava implícito.
- Claro, estaremos lá- ele seria muito idiota se não tivesse percebido o tom irônico em minha voz.
Apollon sorriu afetadamente e começou a caminhar em direção à Mercedes, mas antes, parou no meio do caminho. O dedo indicador pairando no ar como se tivesse se lembrado de algo.
Sua cabeça se virou sobre os ombros.
- E Malachai- murmurou, com um sorriso misterioso- Se eu fosse você não tentaria sair da casa hoje. Não posso garantir sua segurança e a de sua companheira se o fizer.
E se foi com sua frota de seguranças e os carros.
- O que ele quis dizer com isso?- Bonnie perguntou.
- Que não somos bem-vindos- murmurei, sério.
Sol parecia um tanto assustada com essa declaração e temendo por nossa segurança, pegou as chaves de minhas mãos e tratou de nos empurrar para dentro da casa.
A decoração interna não era muito diferente da entrada. Tudo muito cinza e preto, mas não pude negar o bom gosto e o luxo de tudo aquilo. Os móveis estavam perfeitamente dispostos na enorme sala com a maior lareira que eu já vi. Sol logo tratou de procurar a cozinha e aposto que ela estava a ponto de chorar de felicidade. Eu nunca vi uma pessoa ficar tão emocionada com uma batedeira. Acho que devia ser de última geração no quesito gastronômico da coisa.
Bonnie seguiu por todos os cômodos avaliando tudo sem um interesse real. Eu apenas a segui, mais como forma de precaução do que qualquer coisa.
Ela foi para o andar de cima e deixei que escolhesse o melhor quarto de hóspedes para Sol. Um espaço enorme e branco, com toques femininos em cada móvel, as janelas davam para o jardim impecável nos fundos, com uma enorme piscina azul.
Enquanto a seguia, avaliei todas as portas e janelas da casa. Eram de material muito resistente para simples moradores...
- Eu fico com esse- Bonnie, disse me tirando de meus pensamentos.
Ela estava parada na entrada de um quarto igualmente enorme, com tons de lilás nas paredes e motivos florais nos cobertores da cama Queen Size. Havia uma penteadeira branca e delicada encostada em uma parede e o que se parecia ser um grande closet estufado de roupas de grife.
Apesar de ser visivelmente agradável, não gostei das portas francesas que davam passagem para um parapeito. Eu podia quebrar aquela coisa com um peteleco. Imagine um daqueles lobos?
Sem dizer nada, saí de seu quarto e procurei por outro melhor e mais bem protegido. Todos os outros cinco quartos eram igualmente bonitos, mas vulneráveis em algum ponto. Merda.
Estava quase pensando em colocar grades nas janelas do quarto dela, quando entrei no que se parecia ser a suíte da casa. As paredes eram cinza, pretas e brancas em alguns pontos. Haviam quadros de fotógrafos famosos em cada uma delas, em paisagens de preto e branco. A cama era tão grande que quinze pessoas podiam ocupá - la.
Entrei no closet cheio de roupas masculinas, com ternos risca de giz caríssimos como Louis Vuiton, Armani, Hugo Boss e Chanel. Também haviam muitas roupas informais, que eram mais do meu gosto.
Era o tipo de quarto que eu teria escolhido. E Apollon sabia disso. A questão era: como ele podia saber que eu e Bonnie dormíamos em quartos separados?
Pensar nela sozinha e vulnerável, naquele corredor. Nua. As mãos de algum outro homem a tocando na calada da noite...
Em um piscar de olhos, eu já havia cruzado o corredor e adentrado seu quarto. As portas francesas estavam abertas, deixando que eu visse uma Bonnie pensativa inclinada contra o corrimão, observando as outras casas da vizinhança.
Ela se sobressaltou quando a puxei pelo braço para fora da pequena varanda e praticamente a arrastei pelo corredor.
- O que você tá fazendo?- ela exclamou, furiosa- Me solta, Kai! Você tá me machucando.
Não o fiz, apenas continuei a marchar.
- A partir de hoje, dormimos no mesmo quarto- murmurei, não reconhecendo minha própria voz- Entendeu?
A soltei quando entramos no quarto cinzento.
- Eu não quero ficar aqui com você- resmungou, esfregando o braço fino- Preciso do meu próprio espaço e...
- Como se isso me impedisse entrar no seu quarto quando eu quero- falei, puxando- a para a cama.
- A questão não é essa- continuou- Eu não quero ficar...
A sentei no colchão.
- Não quer ficar comigo. Eu sei. Já sei disso, ok? Mas, estamos em território inimigo e não vou arriscar que Apollon também a use contra mim.
Ela me fulminou com os olhos.
- Ele é seu inimigo, não meu.
- E você está tão afundada nessa droga quanto eu. Então, é melhor cooperarmos de uma vez se quisermos sair daqui vivos, sua garota teimosa.
Não encontrando argumentos contra isso, Bonnie simplesmente ficou em silêncio. Sua expressão em uma careta de zanga.
E eu sabia que havia vencido.
- Preciso de um banho- murmurou, se levantando e me afastando.
Quando percebi que ela estava voltando para o seu quarto, com minha velocidade sobrenatural, barrei a passagem.
- Não tem nada aí que eu já não tenha visto- murmurei, com um sorriso malicioso. Só de pensar em seu corpo fiquei excitado de novo.
- Eu preciso de roupas- contra argumentou.
- Peço para Sol buscar pra você- assinalei.
- Você não vai me deixar passar, não é mesmo?- ela arqueou uma sobrancelha, irritada.
- Como você adivinhou?
Ela suspirou pesadamente e se virou, tirando os sapatos no caminho. Enquanto caminhava, desceu o zíper do vestido, fazendo-o cair aos seus pés em um pequeno monte de tecido cor de pêssego. E continuou caminhando vestindo apenas uma calcinha de renda negra.
- Anda logo- falou, entrando no banheiro.
Não pensei duas vezes, apenas arranquei a camisa, a soltando no chão. Tirei as botas aos chutes e não tive paciência para desabotoar a calça, apenas rasguei o jeans e a boxer branca.
Quando entrei no banheiro, Bonnie já estava dentro de uma enorme banheira arredondada, repleta de água, espuma e sais de banho à sua volta.
Os cabelos negros pingavam sobre as costas. Cada centímetro de sua pele estava molhada, ela esfregava um esponja contra os braços.
Ah. Santo. Inferno.
Eu senti que podia gozar, apenas olhando para ela. A ereção que eu ostentava estava tão dura que doía.
Entrei na banheira com ela.
Bonnie mão demonstrou medo, mas pude ouvir seu coração acelerando, junto com a respiração acelerada. Pois eu estava da mesma forma.
Deixei minhas mãos descerem por seus ombros molhados, apenas para contornar seu tórax e segurar seus seios macios em minhas mãos. Os apertei levemente, acariciando os mamilos sensíveis.
Bonnie se arqueou contra meu peito, gemendo. Aproveitei para beijar seu pescoço, e isso a enlouqueceu. Seus quadris estavam empurrando os meus, provocando uma onda de prazer quente por todo o meu ventre.
Sua mão pousou em minha nuca, puxando meu cabelo e o encharcando. Revirei os olhos, sabendo que estava muito perto da liberação.
Eu precisava gozar dentro dela.
Desci minhas mãos para sua cintura e a girei na água, fazendo - a ficar de frente. A coloquei no meu colo e a penetrei de uma vez, escorregando rápido para seu interior.
- Bonnie...- arfei contra seu pescoço, tremendo por tentar controlar o orgasmo que ameaçavam se aproximar.
Então, ela começou a se mover. Rápido e com força. Suas unhas estavam fincadas em minhas costas.
Foi preciso exatamente três estocadas e atingimos o orgasmo juntos. Foi tão rápido quanto intenso. Devo ter tido uma porção de orgasmos múltiplos, pois foi preciso um minuto, antes que eu parasse de tremer.
Ficar reprimindo meu desejo por todas aquelas horas resultou nisso.
Soltei o ar com força, minha cabeça explodindo pelo esforço. Quando todo o meu corpo se acalmou, procurei os lábios dela. Mas, Bonnie se afastou, saindo de cima de mim.
Observei enquanto ela se lavava como estivesse com alguma coisa embaixo da pele e quisesse tirar à qualquer custo. Em seguida, se levantou, enrolou seu corpo em uma toalha e saiu do banheiro.
E eu continuei parado no mesmo lugar, confuso e frustrado. E claro, com uma pontinha de mágoa.
Ela se limpou como se tivesse nojo de mim. Bonnie sempre deixou isso claro. Mas, com palavras. Eu não sabia que ela me odiava à esse ponto.
Tomei um banho demorado, tentando prolongar a distância entre nós dois pelo maior tempo possível. Eu estava terrivelmente irritado com ela. Terrivelmente irritado... comigo mesmo?
Mas que... droga era aquela?
Antes que esses pensamentos estranhos tomassem minha mente, enrolei uma toalha na cintura e saí do enorme banheiro. Pensei que Bonnie já estaria em qualquer outro ponto da casa, mas quando caminhei em direção ao closet, notei seu pequeno corpo apertado como uma bolinha no colchão da grande cama. Pelo ressonar baixinho, ela estava dormindo.
Ela devia estar exausta, mesmo. Dormindo no carro e agora aqui...
Notei que ela usava uma camisa de homem enorme e cinza. Acho que estava cansada demais para buscar uma peça de roupa no outro quarto e pegou uma das minhas. Apesar da raiva que estava sentindo de tudo aquilo, não pude evitar sorrir ao vê-la com uma peça minha.
Entrei no enorme closet e coloquei uma muda de roupa. Agradeci por ter camisas e jeans skinny em toda aquela parafernalia de gravatas e abotoaduras de ouro.
Desci as escadas e encontrei uma Soledad atarefada na cozinha. Aquela mulher devia ser uma máquina de auto controle. Foi sequestrada por lobisomens assustadores e lá estava ela, cantarolando "La Bamba" e preparando algo que parecia ser lagosta- provavelmente da geladeira abastecida antes de nossa chegada- com molho e terminando de enfeitar um bolo de chocolate que eu devoraria naquele instante.
Meu estômago doeu.
E eu soube que precisava me alimentar. Não de comida humana. Porém, meu estoque de bolsas de sangue ficou no apartamento. Resolvi esperar Bonnie acordar para me alimentar dela.
Enquanto isso, tive que lidar com a dor de cabeça e ardência nas veias pela falta de plasma. Mas, eu sobreviveria à isso. Talvez, um pouco de glicose pudesse ajudar a necessidade à passar.
- Donde está la Señorita?- perguntou, Sol, ainda enfeitando o bolo.
- A Senhorita está dormindo.
Peguei um prato de porcelana no armário e estava prestes a cortar uma fatia enorme do bolo, quando Sol bateu na minha mão.
- Me deixe terminar- murmurou em minha língua, seu sotaque espanhol proeminente.
- Ah, meu Deus, aquele é o Che Guevara! -gritei, apontando para a janela.
- Donde?- ela se assustou, olhando naquela direção.
Com minha super velocidade, tirei uma enorme fatia de bolo e saí correndo da cozinha, só para escutar os xingamentos de Sol.
Ainda rindo e com a boca cheia de bolo, resolvi esticar as pernas pelo bairro, mesmo que Apollon tenha dito para não fazê-lo. Mas, nunca fui muito bom em seguir ordens.
Ele não iria me intimidar.
Abri a porta da frente, sem me importar em sair por aí com um prato de bolo de chocolate nas mãos, quando travei na porta.
Do outro lado da rua, na calçada oposta, estava um grupo de cerca de trinta pessoas. Uma mescla de crianças e adultos de cores e estilos diferentes. A quantidade não me assustou, o olhar vidrado deles, sim.
Todos olhavam diretamente para mim com expressões de ódio.
E mais deles estavam chegando.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oi gentiiiii!!!

Demorei, mas cá estou :)
E esse final foi meio trevoso, não? E tadinho do Kai... tá sentindo a rejeição agora... POIS MERECE! Kkkkk.
E OBRIGADA POR TODAS AS VISUALIZAÇÕES E COMENTÁRIOS! ♥.♥
O que acharam desse capítulo? Amaram? Odiaram?

Beijinhos no bumbum xxx ^3^

























LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now