Nas mãos de um deus

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(Autora: se não quiserem sentir minha falta durante esses dias, recomendo ler esse cap devagar, ele é bem grande para compensar, mais de 1000 palavras. Espero que gostem!)

Meus ombros doíam, não sentia nada sob meus pés e recobrei a consciência já sentindo o desespero. Olhei para baixo, estava a vários metros do chão e estava pendurada em algum tronco ou galho pela mochila. Pensei em me agarrar ao galho, mas para isso precisaria erguer os braços e isso significaria queda.
- Maika!
Tentei olhar para cima, mas não comseguia ver ninguém.
- Você está bem? Se feriu? Comsegue falar?
Era Ryan. Gritei em resposta.
- Acho que estou bem, mas não consigo sair!
- Tudo bem! Vou te pegar em um instante. Aguente!
Como se eu tivesse alguma opção.
- Certo!
Controlei minha respiração e tentei não entrar em pânico, mas meu coração batia a mais de cem por minuto e a cada batida eu me sentia mais próxima de ele parar de vez. Minhas mãos ardiam por eu ter tentado me agarrar a qualquer coisa durante a queda e elas estavam arranhadas. Meu uniforme tinha rasgado e eu comecei a sentir uma dor em minha lombar. Meu pensamento era uma oração de Tomara que a bolsa aguente. Tomara que ela fique firme.
Algumas folhas caíram e eu tentei olhar para cima. Depois de muitas outras folhas consegui enxergar Ryan. Me senti como um homem abandonado no deserto emcontrando um oasis. Quando estava mais próximo ele me estendeu a mão enquanto a outra segurava uma corda.
- Vai precisar soltar a mochila.
Me senti assombrada. Era tudo o que eu tinha ali. As roupas que eu tinha levado de casa, o caderno. O cachecol e as luvas que tinha ganhado, Sebastian, o leque e a água. Não podia abandonar tudo ali.
- Não. Tenho que levá-la comigo.
- Não tenho como pegar sua mochila. Minha outra mão está ocupada.
- Então...
- Não temos tempo. Pegue logo minha mão!
Estendi meu braço e senti o desequilíbrio agarrei a mão dele com força e deixei meu outro braço sair da alça da mochila, a outra rasgou no instante que tinha segurado a mão dele e eu quase a segurei, mas ela caiu. Eu a vi flutuar no ar até se mesclar ao escuro e escutar o baque. Fechei meus olhos. Meus tesouros estavam perdidos.
Comsegui levar minha outra mão à de Ryan e ele me ergueu, assim pude me agarrar a ele e então começou a subir. Agora eu não tinha mais nada. Quando voltamos à segurança ele ofegava e eu prendia o choro. Tinha perdido tudo.
- Sinto muito. Devia ser importante.
- Era!
Soquei o solo com lágrimas nos olhos. Tudo se perdeu. Chorei aos soluços. Por que eu a tinha levado? Me disseram que ali era perigoso, mas mesmo assim levei os itens preciosos que tinham me sido dados. Me encolhi, apertando os joelhos contra o peito. Agora só tinha o medalhão, a chave, a linha e o anel. Mais nada. Ao menos as lembranças de minha mãe e de Adam. Enxuguei as lágrimas. Não podia ficar assim. Eu iria sobreviver e pedir a eles que me desses mais lembranças.
Voltei a andar com Ryan, mais veloz agora sem o peso.
Andamos por horas sem parar até ele me oferecer água em um cantil. Bebi nervosamente, deixando água escorrer.
- Agora está suja de novo. Se machucou em algum lugar?
Ele tinha me dado espaço, um ato considerável, mas agora queria tratar minhas feridas. Como para responder uma dor pungente me atingiu na lombar, por instinto levei a mão ao lugar, mas disfarcei, não queria ser  um estorvo, já tinha causado problemas mais cedo e ainda o exposto a um drama exagerado.
- Estou bem.
- Deixe-me ver suas mãos.
Aquilo não devia ser problema, então eu as exibi, mas até eu me surpreendi com o estado delas. Cortes irregulares por toda a palma e nós dos dedos, estava feio. Fechei minhas mãos e as recolhi. Ryan olhou para mim com preocupação.
- Vamos andar apenas mais duas horas e parar, vamos cuidar disso e você vai me mostrar seu machucado. Se pensa que não vi sua cara de dor está errada.
Não o respondi. Permaneci em silêncio até pararmos e ele me dizer para esperar em uma árvore. Estava mais frio ali, apesar de ainda ser relativamente cedo. Deviam ser no máximo cinco da tarde, mas o frio era de madrugada. Ele voltou com o cantil cheio depois de quase meia hora e me disse para segui-lo.
Ele me mostrou um corrego, a água era rasa e cristalina, dava para ver as pedras no fundo.
- Tome um banho, limpe bem as feridas, depois quero que me mostre todas elas.
Suspirei.
- Não vou banhar com você me olhando.
Ele realmente não tinha parado de me lançar olhares durante todo o tempo, sempre virando para trás.
- Fico de costas.
- Ainda vou me sentir vigiada.
- Não vou me afastar. Foi só eu deixar que andasse um pouco à frente e veja no que deu.
- Por que esta sendo tão protetor? Não me conhece nem tem um dia.
- Isso não importa.
- É claro que importa. Por que iria se preocupar tanto com uma estranha. Fica olhando para mim como se já me conhecesse há décadas, como se eu fosse importante.
- Não importa! Tome logo esse maldito banho! E eu não saio daqui.
Ele bufou e eu bufei em resposta. Andei bem para a frente e tirei os tênis, então me toquei do uniforme rasgado.
- O que eu faço com isso?
Ele se virou para mim.
- Lave.
- E o que eu vou vestir?
Ele resmungou e depois desabotoou o próprio uniforme. Tirou a blusa ficando com uma regata branca e me jogou a dele.
- Não posso ficar só com isso!
- É o que tem.
- Você não trouxe uma única peça de roupa a mais?
- Não.
- Mas não vamos para o frio?
- Isso não me incomoda.
- O que? Vai me dizer que não senti frio?
- Sinto, mas não me afeta.
- Certo...
Estendi a blusa de botões na minha frente, era bem maior que a minha. Esperava que pudesse me cobrir de verdade.
- Vai continuar me olhando?
- Só me virei porque chamou.
- Ok. Pode se virar então.

◇•°•◇

Ele tinha montado uma fogueira que eu tive que acender, me encolhia na blusa dele.
- Preciso que me mostre suas costas.
- Por que?
Fiquei nervosa. A dor só tinha aumentado e mostrar um grande hematoma só ia deixar a coisa mais feia para mim.
- Sei que se feriu aí. Não para de esfregar as costas enquanto faz careta.
- Sou tão óbvia?
- Não é algo ruim, apenas desvantajoso para você.
- Então é ruim.
Ele se levantou e foi para atrás de mim.
- Levante a blusa.
Abri bem meus olhos.
- Não! Não vou... me mostrar, tá legal!
Ele suspirou e puxou a mochila dele. Vi Tyrfing e uma outra espada penduradas na lateral. Ele a abriu e procurou algo em seu interior, então tirou um pedaço de pano dela, um pouco menor que uma toalha comum.
- Se cubra com isso.
- Eu já disse que não vou me mostrar!
- Seu superior está mandando!
- Pensei que não ligasse para hierarquia.
- E não ligo, mas se for preciso uso.
- Bem, então eu também não ligo. - Eu verei esse maldito ferimento nem que seja à força. Então é melhor contribuir.
Seu lado de senhir das trevas se manifestou e estimulada pelo medo e a contragosto me enrrolei com a toalha e levante a parte de trás da blusa.
- Satisfeito?
- Você tem um hematoma do tamanho de uma bola nas costas. Teve um sangramento interno e agora está roxo.
Me assustei, parecia sério, e se eu tivesse danificado algo importante? Estava doendo pra caramba.
- Está muito feio?
- Está.
- Isso não foi nem um pouco estimulante.
- Eu sei. Você tem sorte.
- Sorte?
- Sorte de estar comigo.
Ele remexeu em sua mochila mais uma vez.
- Tenho um remédio comigo. Vou passar, vai arder.
Ele passou uma espécie de creme que ardeu como um corte infeccionado. O que me lembrou muito do que Baba tinha passado em mim. Quando ele terminou pegou a ponta da toalha que me cobria.
- O que está fazendo?
- Vou ter que enfaixar.
Então o rasgou, deixando curto. Depois trabalhou em enfaixar minha cintura deixando bem justo, mas ainda confortável. Quando terminou abaixei a blusa e ele guradou o creme.
- Obrigada.
Agradeci baixinho. Ele me encarou.
- Desculpe.

×××
Esse cap dava dois, mas vamos deixar tudo juntinho mesmo.
O que acharam?
Comentem! Dessa vez quero saber de tudinho. Gehehehe
De verdade. Qndo eu voltar qro ler todos os coments e saber de tudo. Evurifingu.
Vocês entendem porque eu gosto tanto do Ryan?

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now